O ESPÍRITO SANTO NO ANTIGO E NOVO TESTAMENTO
Por Diego Natanael
INTRODUÇÃO
Por muito tempo, ao longo da história da igreja, a pneumatologia ocupava
um lugar secundário na teologia cristã. Desde a patrística do segundo século
até o escolasticismo da idade média, o Espírito Santo, apesar da crença em sua
divindade, era tratado quase por meios subordinacionistas, sendo a Cristologia
o foco da igreja.
Foi a partir de 1517, com a deflagração da reforma protestante, que a
pneumatologia passou a ter destaque e, com isso, a ter mais atenção nas
pesquisas teológicas. Contudo, o protestantismo reformado, influenciado pelo
cessacionismo (corrente doutrinária que crer na cessação dos dons espirituais),
enfatizou a ação salvadora do Espírito, criando uma elaborada pneumatologia soteriológica,
porém, desprezou a ação carismática do Espírito, ação esta parte essencial do
ministério do Espírito Santo.
Foi especialmente com o surgimento do movimento pentecostal moderno
(1901) que a pneumatologia tomou um novo rumo, pois o pentecostalismo
sistematizou uma pneumatologia carismática sem, contudo, abandonar a
pneumatologia soteriológica. Em outras palavras, o Espírito Santo, com o
movimento pentecostal, passou a ter o mesmo destaque teológico que as outras
duas pessoas da trindade (Pai e Filho), pois, influenciado por uma visão
continuísta (crença de que Jesus continua concedendo dons espirituais a
igreja), o movimento pentecostal passou a ensinar que o Espírito Santo tinha um
papel não somente soteriológica, mas, também, carismático, ou seja, o Espírito
Santo não somente iniciava e sustentava a salvação do homem, como, também,
revestia a igreja de poder e concedia dons espirituais a fim de capacitar a
igreja no seu dever missional.
Dessa forma, o grande legado teológico que o pentecostalismo deixará
para as próximas gerações de cristãos é sua pneumatologia completa que destaca
tanto a ação soteriológica quanto a ação carismática do Espírito Santo.
Assim sendo, nos tópicos a seguir será trazido um panorama da
pneumatologia pentecostal segundo a leitura que este movimento faz dos textos
vetero e neotestamentário.
1) A DIVINDADE DO ESPÍRITO SANTO
A priori, é preciso destacar que as Escrituras Sagradas ensinam acerca
da deidade do Espírito Santo, ou seja, a Bíblia ensina que o Espírito Santo é
Deus, sendo, portanto, integrante da trindade.
Em Atos 5:3-4, o Espírito Santo é chamado de Deus; em 2Co 3:18, o
Espírito Santo é chamado de Senhor; Em Jo 14:16, é declarado que o Espírito
Santo é da mesma essência de Jesus, pois é identificado como outro consolador
(gr. Allon Parakleton = distinto de Cristo, mas da mesma “espécie” que ele);
em Hb 9:14, o Espírito Santo é eterno; em Salmo 139:7-10, o Espírito Santo é
chamado de onipresente; em Lc 1:35, o Espírito Santo é chamado de onipotente;
em 1Co 2:10-11, o Espírito Santo é chamado de onisciente.
Na fórmula batismal, Mt 28:19, o Espírito Santo é colocado com tendo a
mesma autoridade do Pai e do Filho:
Portanto
ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do
Filho, e do Espírito Santo;
Desta forma, resta claro a divindade do Espírito Santo segundo as
Escrituras Sagradas e isso se constitui em doutrina fundamental do
cristianismo. Negar a deidade do Espírito Santo é heresia e, portanto, pecado.
Na economia divina, todas as Pessoas da trindade exercem funções
essenciais para que haja vida, tanto física quanto espiritual. Na verdade,
desde a criação, o Pai, Filho e Espírito Santo têm governado o universo e, nos
últimos dias, o Espírito Santo tem cumprido o papel de administrar a graça
salvadora e capacitar a igreja de Cristo com fulcro a conduzir a noiva à
Cristo.
2) AS AÇÕES SOTERIOLÓGICA, CARISMÁTICA E CRISTOCÊNTRICA DO ESPÍRITO SANTO
O ministério do Espírito Santo envolve, no mínimo, três grandes ações,
quais sejam:
a) Ação Soteriológica: O Espírito Santo é quem inicia e
sustenta o processo de salvação. Segunda a Bíblia, é Ele quem convence o homem
do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16:8). Desta forma, um dos papéis do
Espírito Santo é administrar a graça salvadora na vida do pecador a fim de que
este possa ser salvo, ou seja, a terceira Pessoa da trindade é responsável
direta pela instauração e manutenção da salvação;
b) Ação Carismática: O paracleto atua, também, revestindo
a igreja de poder e concedendo dons espirituais aos salvos a fim de
capacitá-los e edificá-los. A ação carismática do Espírito é compreendida,
portanto, como a ação capacitante e dinamizadora cujo capacitador é o Espírito
e o capacitado é o salvo, sendo o batismo no Espírito Santo e os dons
espirituais resultados dessa ação carismática;
c) Ação Cristocêntrica: Como resultado das outras duas ações,
a finalidade do ministério hodierno do Espírito é conduzir a igreja a Cristo,
ou seja, o Espírito Santo trabalha a fim de que Cristo possa ser revelado e
glorificado pelo seu povo. Referente ação está registrada em Jo 16:13,14: “Mas,
quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade;
porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos
anunciará o que há de vir. Ele me
glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar”.
Desta
forma, é preciso compreender as três ações do Espírito Santo e saber
diferenciá-las quando da exegese de um texto bíblico que trata da ação do
Espírito Santo, pois, conforme dito alhures, o Espírito Santo trabalha de
diversas maneiras e com finalidades específicas, devendo o intérprete saber
diferenciá-las a fim de compreender corretamente o texto bíblico.
3) A FORMAÇÃO DO CANON BÍBLICO PELA INSPIRAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO
Existem dois conceitos teológicos, que inclusive teve muito destaque na
época do Escolasticismo, que são os da Revelação Geral e Revelação Especial. Por
revelação geral entende-se que toda a criação revela a existência de um
criador, porém, tal revelação não produz conhecimento salvífico, pois não
revela quem é este criador. Outrossim, diante da ineficácia da revelação geral
de nos revelar Deus, foi necessário a revelação especial que é entendida
como uma maneira direta e especial de revelação divina, ou seja, é a forma pela
qual Deus se revela diretamente ao homem se apresentando como o criador da
revelação geral. A revelação especial é a Bíblia e o próprio Cristo, sendo que
ambos produzem conhecimento salvífico, uma vez que nos revelam quem é Deus e
quais os seus propósitos.
Desta forma, A Bíblia é a revelação especial de Deus, cuja formação se
deu pelo processo de inspiração divina, verbal e plenária de homens fiéis. A
Bíblia foi formada a partir da inspiração do Espírito Santo na vida de homens
cheios do Espírito.
Em 2 Tm 3:16 Paulo registra que a Bíblia é divinamente inspirada,
vejamos:
“Toda
a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para
redargüir, para corrigir, para instruir em justiça” (grifo nosso).
Em 2 Pe 1:19-21 está registrado esse processo de revelação, in verbis:
“E
temos, mui firme, a palavra dos profetas, à qual bem fazeis em estar atentos,
como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia amanheça, e a estrela
da alva apareça em vossos corações. Sabendo
primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular
interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem
algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo”.
(grifo nosso).
Dessa forma, só temos a Bíblia graças a ação do Espírito Santo
inspirando homens fiéis a fim de registrar tudo que Deus desejou nos revelar
acerca de si e de sua vontade.
3.1) TEORIAS SOBRE A INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA:
a) Teoria da inspiração natural humana: Para essa teoria, a Bíblia decorre de uma inspiração natural do homem e não de Deus, ou seja, a Bíblia foi escrita por homens dotados, naturalmente e não divinamente, de um intelecto avançado. Para esta teoria, essa mesma inspiração é encontrada nos livros de Sócrates, Platão, Shakespeare, Camões, etc. Assim sendo, a teoria da inspiração natural elimina Deus do processo criativo da Bíblia e atribui ao intelecto do homem a criação do texto bíblico. Contudo, os próprios escritores da Bíblia declararam que o que eles escreveram não decorreram de um processo intelectual, mas, sim, de uma inspiração divina (Jr 1.9 c/c Ed 1.1; Ez 3.16-17; 2Sm 23.2 c/c At 1.16; At 28.25; 2Pe 1:20 e 21; 2Tm 3:16).
b) Teoria da inspiração divina comum: Esta teoria ensina que a inspiração dos escritores da Bíblia é a mesma inspiração de quando pregamos, cantamos, ensinamos, adoramos, etc, ou seja, para esta teoria, a inspiração dos escritores bíblicos não foi algo excepcional e temporário, mas, sim, algo comum. Assim sendo, a teoria da inspiração comum não faz diferenciação entre a inspiração divina comum, em que Deus nos leva a pregar, cantar e adorar, com aquela inspiração divina extraordinária, onde Deus usou determinadas pessoas para revelar sua vontade através da elaboração da Bíblia. A inspiração comum, também conhecida como iluminação, é a ação de Deus motivando nossos corações a realizar certas obras ou a entender suas verdades; Já a inspiração extraordinária é uma intervenção divina no coração do homem, em grau maior do que a comum, a fim de Deus se revelar de maneira especial. Só forma inspirados extraordinariamente os escritores da Bíblia, nós somos iluminados (inspiração comum) a fim de que possamos entender aquilo revelado pela Inspiração extraordinária.
c) Teoria da inspiração parcial: Para esta teoria, existem partes da Bíblia que foram inspiradas e outras não, ou seja, somente parte da Bíblia foi escrita sob a inspiração divina. Desta forma, essa teoria nega a inspiração total (de Gênesis a Apocalipse) da Bíblia. Para os adeptos desta teoria, a Bíblia contém a Palavra de Deus, mas não é a Palavra de Deus. Contudo, a própria Bíblia contradiz esta teoria, pois, em 2Tm 3:16 Paulo afirma que “toda Escritura é divinamente inspirada por Deus”.
d) Teoria da inspiração das ideias: Para esta teoria, Deus inspirou tão somente a ideia por traz do texto, mas não as palavras usadas pelos escritores humanos. Segundo esta teoria, as palavras usadas pelos escritores sacros foram empregadas segundo a vontade deliberada deles, sem, portanto, nenhuma inspiração divina. A única inspiração foi quanto a ideia transmitida através do texto.
O teólogo pentecostal Antônio Gilberto (in memória) faz a seguinte crítica a esta teoria:
“A teoria da inspiração das idéias – Ensina que Deus inspirou as idéias da Bíblia, mas não as suas palavras; estas teriam ficado a cargo dos escritores. Ora, o que é “palavra”, na definição mais sumária, senão “a expressão do pensamento”? Tente agora mesmo o leitor formar uma idéia sem palavras... Impossível! Uma idéia ou pensamento inspirado só pode ser expresso por palavras inspiradas. Ninguém há que possa separar a palavra da idéia. A inspiração da Bíblia não foi somente “pensada”, mas também “falada”. Veja a palavra “falar” em 1Coríntios 2.13; Hebreus 1.1 e 2Pedro 1.21. Isto é, as palavras foram também inspiradas (Ap 22.19). De um modo muito maravilhoso, vemos a inspiração das palavras da Bíblia, não só no emprego da palavra exata, mas também na ordem em que elas são empregadas (no original, é claro). Apenas três exemplos: Jó 37.9 e 38.19 (a palavra precisa), e 1Coríntios 6.11 (ordem das palavras no seu emprego)”. (Acessado em 31/10/2019:http://www.cpadnews.com.br/blog/antoniogilberto/fe-e-razao/30/a-biblia-e-a-palavra-de-deus-(parte-i).html).
e) Teoria do ditado verbal: Esta teoria ensina que Deus literalmente ditou cada palavra escrita pelos escritores bíblicos e de tal forma que Ele não deixou espaço para que o escritor utilizasse seu estilo de escrita. Esta teoria transformam os escritores em máquinas e transformam, por conseguinte, a Bíblia em um livro que foi escrito por um processo semelhante ao da psicografia.
f) Teoria da inspiração verbal e plenária: Esta teoria ensina que a Bíblia foi totalmente inspirada por Deus e todos os livros dela foram igualmente (na mesma proporção) inspirados por Deus, assim, dizemos que a inspiração é plenária. Por outro lado, a inspiração também é verbal no sentido de que o Espírito Santo dirigiu os escritores não somente quanto a ideia (propósito), mas, também, quanto as palavras escritas pelos autores da Bíblia. Contudo, esta direção/inspiração do Espírito Santo, respeitou a liberdade, individualidade, personalidade e estilo de cada autor da Bíblia, tornando-o um participante ativo e consciente na elaboração do texto bíblico. Esta é a teoria utilizada pelas igrejas protestantes e a utilizada pelo autor deste artigo.
4) ABORDAGEM CARISMÁTICA DO ESPÍRITO SANTO NO ANTIGO TESTAMENTO
O Antigo Testamento majoritariamente enfatiza a ação carismática do
Espírito Santo, haja vista que não havia, ainda, uma concepção pneumatológica
bem desenvolvida no período veterotestamentário.
Segundo Silas Daniel, 90% das referências ao Espírito Santo no Antigo
Testamento estão relacionadas a ações carismáticas (DANIEL, pg. 151, 2020). Dessa forma, o Espírito Santo majoritariamente aparecerá no Antigo
Testamento revestindo alguém de poder e concedendo dons a esta pessoa.
O padrão carismático da atuação do Espírito Santo no período
veterotestamentário é o seguinte:
a) Na formação da nação de Israel, pós êxodo: Neste período, o Espírito Santo encheu a vida de Moisés e dos 70
anciãos a fim de capacitá-los na missão de governar a nação de Israel (Nm 11:25).
Também, nesse período, Deus capacitou homens como Bezalel a fim de participarem
da construção dos objetos do santuário (Ex 31);
b) No período dos juízes, após assumir a terra prometida: Neste período, os juízes eram homens cheios do Espírito Santo e,
portanto, capacitados pelo Espírito a fim de protegerem Israel (Jz 14:6);
c) No Período Monárquico de Israel: Os reis de Israel
eram cheios do Espírito Santo a fim de serem capacitados para governarem Israel
(1Sm 10:9-10; 19:18-24; 2Sm 23:02);
d) No Período dos Profetas: Os profetas eram homens cheios do Espírito
Santo e capacitados por Ele a fim de profetizarem a verdade e vontade divina ao
povo de Israel.
Desta forma, resta evidente que o Espírito de Deus se manifestava,
majoritariamente, de forma carismática no período veterotestamentário.
5) O “VENTO” DE ATOS 2:2 COMO REPRESENTAÇÃO DO RÛAH DO CÂNON
HEBRAICO
Em Atos 2:2 lemos o
seguinte:
“E de repente veio do
céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a
casa em que estavam assentados”. (Grifo nosso).
É interessante notar que o vento aparece, no texto de Atos, como uma
evidência física e perceptível da presença do Espírito Santo. Lucas, ao
descrever o dia de Pentecostes, destaca intencionalmente a presença do “vento”,
sua natureza veemente e impetuosa, bem como sua origem como vindo do céu.
Em um texto semelhante, em João 3:8, Jesus faz uma interessante relação
entre o vento e a presença do Espírito Santo:
“O vento assopra onde
quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é
todo aquele que é nascido do Espírito”. (Grifo nosso).
Da mesma forma que Lucas, o texto de João 3:8 destaca o vento como uma
representação da ação do Espírito Santo, ou seja, o “vento” é usado como
sinônimo do Espírito Santo.
Mas, por que os autores
neotestamentários utilizam a figura o vento para se referir a presença do
Espírito Santo?
A resposta para esta pergunta é encontrada na pneumatologia
veterotestamentária. É importante destacar que a visão pneumatológica dos
autores do Novo Testamento é herdada da visão hebraica veterotestamentária
sobre o Espírito de Deus.
Os autores do Antigo Testamento utilizavam a palavra hebraica “Rûah” para
descrever a ação do Espírito de Deus na natureza e no homem. “Rûah” significa,
em seu sentido primário, fôlego, ar em movimento ou vento.
Os hebreus escolheram a palavra Rûah para descrever a obra do Espírito
de Deus, pois, na visão semita, a vida era inexoravelmente associada ao fôlego
ou ao ar em movimento. Quando os semitas observavam os animais e os homens,
eles perceberam que ambos respiravam e que a morte consistia na ausência de
fôlego. Igualmente, o ar em movimento (vento) exercia uma grande influência na
natureza, nas tempestades, na agricultura etc. Partindo desta observação, os
semitas concluíram que a vida estava no fôlego ou vento e que, este fôlego ou
vento, era concedido por Deus e, em última análise, era o próprio Deus em ação.
“Rûah” = Ar em movimento ou vento = Espírito = Presença invisível de
Deus.
Desta forma, a palavra Rûah (vento ou ar em movimento) é usada
majoritariamente no Antigo Testamento para se referir ao Espírito de Deus, pois
deseja destacar a ação invisível de Deus na criação, especialmente no homem.
Curiosamente, a LXX, tradução grega da Bíblia hebraica, traduziu a
palavra “Rûah” pela palavra grega “Pneuma” que, por sua vez, pode significar
vento ou princípio da vida no homem. Vejamos as considerações de Wilf
Hildebrandt, em seu livro “Teologia do Espírito de Deus no Antigo Testamento”,
sobre o tema:
“A tradução típica de Rûah é
Pneuma (277 vezes). Pneuma não somente refere-se ao vento e fôlego de vida na
LXX, mas também ao poder sobre-humano, habilidade espiritual, resolução da
vontade, a constituição da alma, um dom escatológico e o princípio da vida no
homem”. (Hildebrandt,
2008, p. 25).
Assim sendo, os autores do Novo Testamento, quando fazem referência ao
Espírito de Deus, eles têm em mente a visão veterotestamentária da presença e
ação invisível de Deus, por meio de seu Espírito, no homem, tal qual é a presença
e ação do vento, que não vemos, mas sentimos e somos influenciados por ele.
Ademais, é importante destacar que 90% das referências ao Espírito Santo
no Antigo Testamento possuem um tom carismático, ou seja, faz referência a ação
carismática do Espírito de Deus na capacitação de homens escolhidos por Deus
(DANIEL, Silas. 2020).
Logo, quando Lucas destaca a presença do “vento veemente e impetuoso” no
dia de Pentecostes, o evangelista está querendo destacar a presença invisível,
mas impactante, do Rûah, Espírito de Deus, enchendo os discípulos e tirando-os
do lugar, capacitando-os para proclamar as Boas Novas.
Os judeus, ao contemplarem a manifestação do vento veemente e impetuoso,
entenderam que o Rûah, Espírito de Deus, estava no ambiente e, nas palavras de
Pedro (Atos 2:17), havia sido derramado na vida dos irmãos primevos.
No Antigo Testamento, o Rûah produzia vida e concedia capacidades
sobre-humanas a indivíduos específicos, porém, no Novo Testamento, o Rûah é
derramado sobre toda a Igreja e, ao longo da história desta, vem enchendo os
salvos de poder para proclamar o evangelho.
6) A PROMESSA SOTERIOLÓGICA DO ESPÍRITO NO ANTIGO TESTAMENTO
Textos como Isaías
32:15-17 e Ezequiel 36:25-27 enfatizam um evento soteriológico que disponibilizaria
salvação para todos os homens através da ação convencedora e regeneradora do
Espírito Santo, vejamos:
“Até
que se derrame sobre nós o Espírito lá do alto; então o deserto se tornará em
campo fértil, e o campo fértil será reputado por um bosque. E o juízo habitará no deserto, e a justiça morará no
campo fértil. E o efeito da justiça será
paz, e a operação da justiça, repouso e segurança para sempre” (Is 32:15-17).
“Então
aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas
imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei. E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um
espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um
coração de carne. E porei dentro de vós o
meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos,
e os observeis” (Ez. 36:25-27).
Tanto o texto de
Isaias quanto o de Ezequias profetizam um derramamento do Espírito Santo com
efeitos soteriológico e, portanto, tal derramamento não pode ser confundido com
o derramamento do Espírito profetizado por Joel (Joel 2:28), haja vista que
este (Joel 2:28) produz efeitos carismáticos, enquanto aquele (Is 32:15-17 e Ez
36:25-27) produz efeitos soteriológico.
Podemos sintetizar da
seguinte forma: Primeiro, Deus promete um evento soteriológico global
consistente na expiação de Cristo e ação salvadora do Espírito Santo (Is 32:15-17
e Ez 36:25-27); Depois, de forma subsequente, Deus promete um evento
carismático global consistente no derramamento do Espírito santo que revestiria
os salvos de poder e concederia dons espirituais a eles (Joel 2:28).
Desta forma, como
muito bem destaca Silas Daniel, o Antigo Testamento profetiza tanto um evento
soteriológico de proporções globais, quanto um evento carismático subsequente,
também, de proporções globais. Vejamos:
“Há cinco passagens do Antigo Testamento que vaticinam a vinda do
Espírito na Nova Aliança. Duas delas claramente não se referem a carismas (Is
32.15-17 e Ex 36.25-26), duas outras enfocam e enfatizam os carismas (Is 59:21
e Jl 2.28-30), e uma não é específica, podendo implicar ambas as coisas (Is
44:3). É uma contradição? Não. Essas passagens tratam de aspectos diferentes
desse derramamento” (DANIEL, pg. 150, 2020).
Logo, apesar da
ênfase veterotestamentária na ação carismática do Espírito Santo, o Antigo
Testamento contém promessas soteriológicas de um derramamento do Espírito que
não podem se confundir com o derramamento de Joel 2:28.
7) A PROMESSA CARISMÁTICA DO DERRAMAENTO DO ESPÍRITO SANTO
O Antigo Testamento registra várias profecias acerca do derramamento do
Espírito Santo com efeitos carismáticos, vejamos:
a) Nm 11:29: “Porém,
Moisés lhe disse: Tens tu ciúmes por mim? Quem dera que todo o povo do Senhor
fosse profeta, e que o Senhor pusesse o seu Espírito sobre ele!” – Neste texto, Moisés,
através de uma fala programática, deseja um tempo em que todo o povo de Deus
fosse cheio do Espírito Santo e, dessa forma, fosse profeta.
b) Joel 2:28: “E há de ser que, depois derramarei o meu
Espírito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os
vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões”. – Neste
texto, Deus, ratificando o desejo de Moisés (Nm 11:29), promete derramar seu Espírito
sobre toda carne com a conseguinte explosão de dons espirituais;
c) Mt
3:11: “E eu, em verdade, vos batizo com água, para o
arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; cujas
alparcas não sou digno de levar; ele vos batizará com o Espírito Santo, e com
fogo”.
– Neste
texto, João Batista, inspirado pelo Espírito Santo, antecipa Atos 2 e declara
que Jesus venho cumprir tanto o desejo de Moisés quanto a profecia de Joel;
d)
Lc 24:49: “E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai,
porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder”.
Neste texto, Jesus anuncia que a promessa feita pelo Pai através de Joel
(Joel 2:28) estava prestes a se cumprir;
e)
Atos 1:8: “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de
vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a
Judéia e Samaria, e até aos confins da terra”. – Em Atos 1:8, Jesus
reitera o que disse em Lc 24:49 e acrescenta que o revestimento de poder possui
propósitos capacitatórios;
f)
Atos 2:14-20: “Pedro, porém, pondo-se em pé com os onze, levantou
a sua voz, e disse-lhes: Homens judeus, e todos os que habitais em Jerusalém,
seja-vos isto notório, e escutai as minhas palavras. Estes homens não estão embriagados, como vós pensais, sendo a
terceira hora do dia. Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel:
E nos
últimos dias acontecerá, diz Deus, Que do meu Espírito derramarei sobre toda a
carne; E os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, Os vossos jovens
terão visões, E os vossos velhos sonharão sonhos; E também do meu
Espírito derramarei sobre os meus servos e as minhas servas naqueles dias, e
profetizarão; E farei aparecer prodígios em cima, no céu; E sinais em baixo
na terra, Sangue, fogo e vapor de fumo. O sol se converterá em trevas, E a
lua em sangue, Antes de chegar o grande e glorioso dia do Senhor” – Aqui,
Pedro anuncia o cumprimento de Joel 2:28, ou seja, Pedro anuncia que a
promessa do derramamento do Espírito Santo havia se cumprido;
g) Atos
2:39: “Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos
filhos, e a todos os que estão longe, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar”
– Pedro anuncia que a promessa de Joel 2:28 se cumpriu entre eles e que se
cumprirá sobre a vida de todos que forem salvos por Deus, ou seja, Pedro
anuncia que o derramamento do Espírito Santo não estava limitado a sua geração,
mas a todas as gerações futuras que fossem alcançadas pela graça salvadora.
8) A ABORDAGEM PNEUMATOLÓGICA DE LUCAS E PAULO
É importante destacar que Lucas desenvolve uma pneumatologia carismática,
enquanto Paulo desenvolve uma pneumatologia soteriológica. Dessa forma, quando
Lucas fala do Espírito Santo, ele esta enfatizando sua ação carismática, ao passo
que Paulo, quando fala do Espírito Santo, enfatiza sua ação soteriológica.
Assim sendo, não podemos interpretar Lucas a luz de Paulo e muito menos
Paulo a luz de Lucas, pois ambos possuem ênfases diferentes acerca da ação do
Espírito Santo.
Logo, as visões de Lucas e Paulo não se opõem, antes, são visões
complementares.
9) O MINISTÉRIO ESCATOLÓGICO DO ESPÍRITO SANTO
O Espírito Santo atua a fim de preparar a igreja para o arrebatamento.
Em Ap 22:17-20 lemos o seguinte:
E o
Espírito e a esposa dizem: Vem. E quem ouve, diga: Vem. E quem tem sede, venha;
e quem quiser, tome de graça da água da vida. Porque eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da
profecia deste livro que, se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará
vir sobre ele as pragas que estão escritas neste livro; E, se alguém
tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte do
livro da vida, e da cidade santa, e das coisas que estão escritas neste livro.
Aquele que
testifica estas coisas diz: Certamente cedo venho. Amém. Ora vem, Senhor Jesus.
É
interessante notar que a noiva esta acompanhada do Espírito clamando “vem”, ou
seja, clamando pelo retorno de Cristo. Dessa forma, a igreja e salva e
capacitada pelo Espírito a fim de que ela possa estar pronta para o retorno do Noivo.
10)
CONCLUSÃO
Desde
Gênesis a Apocalipse lemos acerca do Espírito Santo e cujas páginas sagradas
testificam que o Espírito Santo é Deus e que atua a fim de salvar e capacitar a
igreja, bem como promover a glorificação de Cristo.
A
igreja é movida pelo poder do Espírito!
Pb.
Diego Natanael
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BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL. Rio de Janeiro: CPAD, 2002.
BRASIL, Sociedade Bíblica do. BÍBLIA - CINQUENTENÁRIO DA IGREJA EVANGÉLICA
ASSEMBLÉIA DE DEUS, 1.ed. Belo Horizonte: SBB, 2022.
DANIEL, Silas. O Batismo no Espírito Santo e as línguas
como sua evidência: A imersão plena no profetismo da nova aliança.
1. Ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2020.
GILBERTO, Antônio. Org. Teologia Sistemática Pentecostal.
10. Ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2017.
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Este artigo serve de material de apoio para a revista de escola dominical da Betel:
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