BATISMO NO ESPÍRITO SANTO: Doutrina da subsequência e evidência física inicial
BATISMO NO ESPÍRITO SANTO: Doutrina da subsequência e evidência inicial
Por Diego Natanael
INTRODUÇÃO
O
Batismo no Espírito Santo é uma experiência neotestamentária profetizada no
antigo testamento e experimentada por alguns personagens veterotestamentários.
Essa experiência carismática está disponível a todos os crentes, pois,
essencialmente, o Batismo no Espírito Santo é um
revestimento de poder que capacita os crentes a realizarem a obra de Cristo com
mais eficiência e dinamismo, ou seja, é o revestimento de poder a fim de
capacitar a Igreja a cumprir seu papel missiológico (Atos 1:8).
O Batismo no Espírito Santo é uma promessa feita no A.T – Joel
2:28-31. É uma promessa reafirmada por Jesus – Lc 24:49. A promessa
do Batismo no Espírito Santo foi cumprida em Atos 2 e está disponível
até os dias de hoje.
Dessa forma, o exercício teológico de compreender a experiência do
Batismo no Espírito Santo é primordial, haja vista que seu propósito, como será
exposto adiante, está estritamente ligado as perspectivas teleológica da
igreja, ou seja, a forma como a igreja/denominação interpreta essa experiência
determinará a forma como a igreja se envolve em seu papel eclesiológico e
missional.
Assim sendo, o que é o batismo no Espírito Santo? Qual a sua evidência?
Quais os seus propósitos? Estas e outras perguntas serão respondidas durante o desenvolvimento
deste artigo.
1. DEFINIÇÃO DE BATISMO NO ESPÍRITO SANTO:
A final, o que a experiência do Batismo no Espírito Santo? Precisamos
definir o conceito dessa experiência a luz do entendimento da teologia
pentecostal clássica. Dessa forma, o conceito a seguir será baseado na
perspectiva pentecostal clássica.
O Batismo no Espírito Santo é uma experiência de revestimento de poder,
distinta e posterior a regeneração, cuja evidência física inicial é o falar em
línguas, tendo por finalidade a capacitação e edificação da igreja no seu papel
missional, eclesiológico e doxológico.
Desta forma, podemos extrair quatro elementos do conceito pentecostal do
Batismo no Espírito Santo, quais sejam:
a) Experiência de revestimento de poder: O Batismo no Espírito Santo é uma experiência em que o crente recebe a
plenitude do poder disponibilizado pelo Espírito Santo aos salvos. É uma
experiência, pois seu conhecimento sé dá pelos sentidos humanos e, portanto, é
perceptível (empirismo);
b) Distinta e posterior a regeneração: O Batismo no Espírito Santo é diferente da regeneração e, portanto, não
se confunde com ela. Outrossim, o Batismo no Espírito Santo acontece em momento
posterior a regeneração e, portanto, é uma experiência disponível somente para
quem, primeiro, foi regenerado;
c) Cuja evidência física inicial é o falar em línguas: Pelo fato
do Batismo no Espírito Santo ser diferente da regeneração, ele possui ume
evidência própria que comprova para a pessoa que está sendo revestida de poder,
bem como para a comunidade de fé, que o crente foi batizado no Espírito Santo
e, desta forma, a única evidência, a luz da Bíblia, é o falar em línguas;
d) tendo por finalidade a capacitação e edificação da igreja no seu
papel missional, eclesiológico e doxológico: O Batismo no
Espírito Santo possui um propósito capacitatório, pois capacita o crente no
serviço cristão, dinamizando a obra de Deus. Também, o revestimento de poder
potencializa os dons espirituais a fim de edificar o corpo de Cristo. Não menos
importante, a finalidade última do Batismo no Espírito Santo é no sentido
doxológico, ou seja, é revestir a igreja de poder para glorificar o nome do
Senhor.
O escritor Jefferson Rodrigues traz o seguinte conceito de Batismo no
Espírito Santo que corrobora o conceito supracitado, vejamos:
E assim, definimos o Batismo com o Espírito Santo como o cumprimento da
promessa exposta nas Escrituras e vaticinada por Jesus, onde a igreja, que é o
povo de Deus, teria a sua disposição um revestimento capaz de impulsioná-la,
com poder e graça, para dar cabal cumprimento à obra de Cristo. E tal imersão
(batismo, gr. Baptzo) no Espírito Santo é evidenciado com manifestações
físicas, e a tomar pelas experiências em Atos dos Apóstolos, tais evidências
seja o falar em línguas (At 2.4; 10.45-47; 19.6)” (RODRIGUES, Jefferson; Escudo
Pentecostal; p. 69, 2017).
Em síntese, este é o conceito pentecostal clássico do Batismo no
Espírito Santo que guarda em sua essência quatro doutrinas: Doutrina do Revestimento
de poder; Doutrina da separabilidade; Doutrina da subsequência; doutrina da
evidência física inicial.
Outras tradições cristãs possuem conceitos que divergem da teologia
pentecostal clássica, dentre elas temos a tradição reformada e carismática. A
tradição reformada confunde o Batismo no Espírito Santo com a Regeneração,
ou seja, eles ensinam que a Regeneração e o Batismo no Espírito Santo são a
mesma experiência e que essa experiência não traz e nem potencializa dons
espirituais, haja vista que estes cessaram. Já a tradição carismática
também entende que a Regeneração e o Batismo no Espírito Santo são a mesma
experiência, porém creem que a regeneração/batismo no Espírito Santo é a porta
de entrada para os dons espirituais.
É importante destacar que tanto a tradição reformada quanto a
carismática divergem do pentecostalismo clássico quanto ao conceito de Batismo
no Espírito Santo. Ao passo que o pentecostalismo clássico entende que o
Batismo no Espírito Santo é uma experiência distinta e posterior a regeneração,
tanto a tradição reformada quanto a carismática entendem que a regeneração e o
Batismo no Espírito Santo são a mesma coisa, ou seja, se trata de uma mesma
experiência.
2. BATISMO
NO ESPÍRITO OU COM ESPÍRITO SANTO?
Qual a
terminologia correta, Batismo no Espírito Santo ou Batismo com Espírito Santo?
Existem pessoas que preferem a preposição “no” e outras que preferem a
preposição “com”, mas, qual a preposição correta?
Em Atos
1.5, na Almeida Corrigida e Fiel, lemos a seguinte afirmação:
“Porque,
na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito
Santo, não muito depois destes dias”. (grifo nosso).
Com
esse texto, o leigo pode achar que o termo correto é somente Batismo com o
Espírito Santo, porém, fazendo uma exegese do texto descobrimos que não é bem
assim.
A
expressão “vós sereis batizados com o Espírito Santo” é escrita no grego
da seguinte forma: “Bartisthesesthe en pneumati hagio”. No grego
a preposição usada é “en” e essa preposição grega pode ser traduzida
tanto pela preposição “com” quanto pela preposição “no”.
Desta
forma, a utilização de qualquer uma das duas preposições (“com” ou “no”) está
correta. Pode ser Batismo com o Espírito Santo ou Batismo no Espírito Santo.
Este
autor utilizará a preposição “no” por achar sua utilização melhor quando
associada ao batismo, a final a palavra “batismo” no grego é “baptizo” e
significa imersão. Dessa forma, o revestimento de poder é uma experiência de
imersão no Espírito e não com o Espírito.
Contudo,
reitera que a utilização de qualquer uma das duas preposições (“com” ou “no”)
está correta.
3. DOUTRINA
DA SEPARABILIDADE – ATOS 2:38
Conforme
já dito alhures, o Batismo no Espírito Santo é uma experiência distinta da
regeneração e, portanto, não se confundi com ela. Em decorrência dessa
afirmação, a teologia pentecostal ensina que a experiência do Batismo no
Espírito Santo não é requisito para salvação. A isso chamamos de doutrina da
separabilidade, pois separamos a ação soteriológica da Regeneração da ação
carismática do Batismo no Espírito Santo.
Dessa
forma, o pentecostalismo não ensina que quem é batizado no Espírito Santo é
salvo e quem não é batizado não é salvo. Muito menos ensina quem é batizado no
Espírito Santo é mais santo daquele que não é.
O
Pentecostalismo ensina que o Batismo no Espírito Santo não se confunde com a ordo
salutis (ordem de salvação) e, portanto, não é sinônimo de santificação.
Existe
o Batismo pelo Espírito Santo e o Batismo no Espírito Santo. No Batismo pelo
Espírito Santo (1Co 12:13), o Espírito Santo é o batizador que nos batiza em
Cristo, nos inserindo no corpo de Cristo através da regeneração. Já no Batismo
no Espírito Santo, Cristo é o batizador que nos batiza no Espírito Santo,
nos imergindo no poder do Espírito e revestindo de poder.
Dessa
forma, todo crente batizado no Espírito Santo é salvo, mas nem todo salvo é
batizado no Espírito Santo. Da mesma forma, todos os salvos têm o Espírito
Santo, porém, somente os revestidos de poder possuem o Batismo no Espírito
Santo.
4. O
REVESTIMENTO DE PODER NO ANTIGO TESTAMENTO
Muitos
associam o Batismo no Espírito Santo como uma experiência exclusivamente
neotestamentária, porém, uma leitura mais cuidadosa do Antigo Testamento nos
revela que o Batismo no Espírito Santo foi uma experiência real para muitos
personagens veterotestamentários.
a) Na formação da nação de Israel, pós êxodo: Neste período, o Espírito Santo encheu a vida de Moisés e dos 70
anciãos a fim de capacitá-los na missão de governar a nação de Israel (Nm
11:25). Também, nesse período, Deus capacitou homens como Bezalel a fim de
participarem da construção dos objetos do santuário (Ex 31); Todos eles foram
revestidos de poder;
b) No período dos juízes, após assumir a terra prometida: Neste período, os juízes eram homens cheios do Espírito Santo e,
portanto, capacitados pelo Espírito a fim de protegerem Israel (Jz 3:10; 14:6);
c) No Período Monárquico de Israel: Os reis de Israel eram cheios do Espírito Santo a fim de serem
capacitados para governarem Israel (1Sm 10:9-10; 19:18-24; 2Sm 23:02);
d) No Período dos Profetas: Os profetas eram homens cheios do
Espírito Santo e capacitados por Ele a fim de profetizarem a verdade e vontade
divina ao povo de Israel.
Conforme
se verifica, todos os personagens citados acima experimentaram um revestimento
de poder produzido pelo Espírito Santo a fim de capacitá-los na obra do Senhor.
4.1. COMPARANDO
OS CASOS DE REVESTIMETO DE PODER DO A.T COM OS DO N.T:
José,
Bezalel, Moisés, 70 anciões, Sansão e reis de Israel:
ü Deus os separou para realizarem sua obra;
ü Deus os capacitou por meio de um derramamento
do Espírito Santo;
ü Todos, após o derramamento, receberam dons;
Casos
do N.T:
ü Deus os separaram para realizar sua obra
evangelística;
ü Deus os capacitaram por meio de um
derramamento do Espírito Santo;
ü Todos, após o derramamento, receberam dons;
Desta
forma, os casos de revestimento de poder do Antigo Testamento possuem o mesmo
padrão dos casos do Novo Testamento. A diferença entre o antigo e novo
testamento, no que diz respeito ao revestimento de poder, é que no antigo
testamento essa experiência era limitada a certos indivíduos e a certos
momentos da história. Já no novo testamento ocorre uma democratização do
Espírito, tornando a experiência do Batismo no Espírito Santo disponível a
todos os salvos.
5. PEDRO
INTERPRETA A EXPERIÊNCIA DO BATISMO NO ESPÍRITO SANTO
Em
Atos 2 lemos que os discípulos foram cheios do Espírito Santo e, ao se
levantarem, Pedro interpreta essa experiência como sendo cumprimento da
profecia de Joel 2:28, vejamos:
“Estes
homens não estão embriagados, como vós pensais, sendo a terceira hora do dia. Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel:
E nos
últimos dias acontecerá, diz Deus, Que do meu Espírito derramarei sobre toda a
carne; E os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, Os vossos jovens
terão visões, E os vossos velhos sonharão sonhos;
E também do
meu Espírito derramarei sobre os meus servos e as minhas servas naqueles dias,
e profetizarão; E farei aparecer prodígios em cima, no céu; E sinais em baixo
na terra, Sangue, fogo e vapor de fumo.
O sol se
converterá em trevas, E a lua em sangue, Antes de chegar o grande e glorioso
dia do Senhor” (Atos 2:15-20) (grifo nosso).
O
apóstolo Pedro declara que o que aconteceu em Atos 2 foi o cumprimento da
promessa de derramamento do Espírito Santo sobre toda carne vaticinada pelo
profeta Joel.
Já
em Atos 2:38,39 lemos Pedro completando a interpretação do derramamento do
Espírito Santo, in verbis:
“E
disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de
Jesus Cristo, para perdão dos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo; Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e
a todos os que estão longe, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar”.
A
primeira coisa que Pedro destaca é que a experiência do Batismo no Espírito
Santo está disponível apenas para os salvos, pois, segundo Pedro, é preciso que
o pecador arrependa de seus pecados para que, depois, receba o Batismo no
Espírito Santo (Atos 2.38).
Ademais,
Pedro destaca, no versículo 39, quatro verdades acerca do Batismo no
Espírito Santo como sendo uma democratização do Espírito, vejamos:
a)
Diz respeito a vós: Pedro está dizendo que o Batismo no Espírito Santo é uma
experiência individual de percepção sensorial;
b) aos vossos filhos: Pedro
estava ensinando que as gerações subsequentes poderiam experimentar o Batismo
no Espírito Santo, ou seja, a experiência do Batismo no Espírito Santo não
estava limitada aquela geração;
c) A todos os que estão longe: A
experiência do Batismo no Espírito Santo é universal, atingindo a todas as
pessoas, em todos os lugares, que crerem;
d) A tantos quanto o Senhor chamar: O
Batismo no Espírito Santo é uma experiência atemporal que não se limita a era
apostólica e se estende a todos que o Senhor salvar!
6.
PRESSUPOSTOS SOBRE O BATISMO NO ESPÍRITO SANTO
Quando
o teólogo pentecostal se debruça ao estudo do Batismo no Espírito Santo, ele
tem que ter em mente uma série de pressupostos básicos que sustentam a doutrina
pentecostal do revestimento de poder. Dessa forma, passa-se a elencar os
principais pressupostos:
a) O
Batismo no Espírito Santo é uma doutrina ensinada por Jesus – Lc
24:49; Atos 1:4-8;
b) Quem
Batiza no Espírito Santo é Jesus: João 1:32-33; Mt 3:11
c/c Atos 1:5;
c) Ter
o Espírito Santo e diferente de ser batizado no Espírito Santo:
ü Ter o Espírito santo é sinônimo de ser Salvo e
possuir o fruto do Espírito de Gl 5:22; João 14:16-17;
ü Ser
Batizado no Espírito é receber um revestimento de poder em momento posterior a
regeneração, sendo, portanto, uma experiência para quem já tem o Espírito
Santo;
7.
BATISMO COM ESPÍRITO SANTO E COM FOGO, DOIS BATISMOS?
Em Mt
3:11, João Batista faz a seguinte afirmação:
“E
eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que vem
após mim é mais poderoso do que eu; cujas alparcas não sou digno de levar; ele
vos batizará com o Espírito Santo e com fogo”. (grifo
nosso).
João
Batista diz que Jesus batiza com o Espírito Santo e com fogo. Tal afirmação tem
gerado grande debate na academia teológica, pois, afinal, João Batista estaria se
referindo a dois batismos diferentes, um com Espírito Santo e outro com fogo,
ou, na verdade, estaria ensinando um único batismo?
Sobre
esta pergunta, existem duas correntes que tentam responder:
a) SÃO
DOIS BATISMOS DIFERENTES: Esta corrente entende que na passagem de Mt 3:11,
João Batista estaria se referindo a dois batismos: O Batismo no Espírito Santo,
para os salvos, e o Batismo no fogo, para os ímpios. Esta corrente sustenta que
o batismo com fogo não pode ser confundido com o batismo no Espírito Santo,
pois o fogo simboliza juízo, enquanto o batismo no Espírito Santo simboliza
salvação.
b) UM
ÚNICO BATISMO: Esta corrente entende que em Mt 3:11, João Batista estava
falando de uma única experiência, qual seja: O revestimento de poder;
fundamentos:
Ø Para esta corrente, o termo “Batismo no
Espírito Santo e fogo” é um paralelismo sinonímico, indicando que os termos
“Espírito Santo” e “Fogo” são expressões intercambiáveis para uma mesma
experiência;
Ø O
termo grego “en” (com ou no) só aparece antes da expressão “Espírito Santo” e
não aparece antes da expressão “Fogo” o que indica que a palavra “fogo” está
fazendo referência a mesma ação do Espírito Santo em batizar no Espírito;
Ø João
Batista está falando para crentes, pois diz “...Eu vos batizo com água para o
arrependimento, mas Ele vos batizará...”
Ø O
fogo, na Bíblia, majoritariamente é símbolo da presença de Deus: O
fogo apareceu a Moisés por meio de uma sarça ardente – Ex 3:1-4; O fogo
apareceu por meio de uma coluna de fogo no deserto – Ex13:22; O fogo era
mantido acesso no tabernáculo – Lv 6:9; Elias foi transladado aos céus por meio
de carros de fogo – 2Rs 2:11; Em Hb 1:7 Deus diz que ele faz de seus ministros
labaredas de fogo; Nosso Deus é fogo – Hb 12:29; O seu trono é fogo – Dn 7:9; A
sua Palavra é fogo – Jr 23:29; O seu amor é fogo – Ct 8:6; Jesus Batiza com
Fogo – Mt 3:11; Em Atos 2:3. aparecem as línguas de fogo.
Ø Se compararmos
os relatos de Mt 3:11 com Jo 1:33 e Atos 1:5, percebe-se que há uma
paráfrase de Mt 3:11, contudo, a palavra fogo não aparece, pois, com tudo indica,
fogo e Espírito Santo são palavras intercambiáveis para indicar a mesma experiência
do revestimento de poder.
Dessa
forma, o autor desse artigo se posiciona no sentido de que em Mt 3:11 João
Batista estava se referindo a um único batismo, sendo o termo “Batismo no
Espírito Santo e fogo” é um paralelismo sinonímico, indicando que os termos
“Espírito Santo” e “Fogo” são expressões intercambiáveis para uma mesma
experiência.
9.
DOUTRINA DA SUBSEQUÊNCIA
A
doutrina da subsequência defende que o Batismo no Espírito Santo é uma experiência
distinta e posterior a regeneração, ou seja, o Batismo no Espírito Santo é uma experiência
que ocorre em momento posterior a regeneração do pecador e, portanto, não se
confunde com ela.
Em
outras palavras, para que o homem possa ser batizado no Espírito Santo, é preciso
que, antes, este homem seja regenerado. Portanto, batismo no Espírito Santo não
é regeneração e acontece depois da regeneração.
Conforme
já dito alhures, é exatamente esta doutrina que nos diferencia dos reformados e
carismáticos, haja vista que estes creem que o Batismo no Espírito Santo é a
regeneração, ao passo que o pentecostalismo clássico crer que o batismo no
Espírito Santo é diferente da regeneração e ocorre em momento posterior a ela.
9.1. PROVANDO
A DOUTRINA DA SUBSEQUÊNCIA:
a) A
experiência do Pentecostes dos discípulos (Atos 2) aconteceu após sua conversão
– Jo 14:17 / Lc 10:20 / João 15:3 / Atos 1:12-16: Os discípulos
que foram cheios do Espírito Santo em Atos 2 já eram crentes salvos, ou seja,
primeiro foram salvos para, depois, serem cheios do Espírito Santo;
b) O
Pentecostes samaritano – Atos 8:14-20: Os samaritanos já eram convertidos
pela mensagem de Felipe (Atos 8:5 e 12) e os próprios apóstolos atestam que já
eram salvos e que necessitavam do revestimento de poder (Atos 8:14);
c) A
conversão de Paulo – Atos 9:17: Paulo havia se convertido 3 dias antes de
se encontrar com Ananias; Quando Ananias se encontra com Paulo ele não prega o
arrependimento, mas ora para que Paulo seja cheio do Espírito Santo; em 1Co
14:18 Paulo afirma que fala em línguas;
d) Os discípulos
de Éfeso – Atos 19:1-7: Aqueles homens já eram crentes, mas ainda
não haviam recebido o Batismo no Espírito Santo;
e) Mc
16:17-18, quando se cumpriu? Eles tinham crido, mas só receberam em Atos 2.
10.
DOUTRINA DA EVIDÊNCIA FÍSICA INICIAL
Em decorrência
da doutrina da subsequência, surge a doutrina da evidência física inicial. Se o
batismo no Espírito Santo é diferente da Regeneração, qual é a evidência que
comprova para o indivíduo e para a comunidade de fé que ele foi batizado no Espírito
Santo?
A esta
pergunta muitos poderiam responder que a evidência do batismo no Espírito é uma
mudança completa de vida, abandono das práticas pecaminosas, vontade de servir
a obra de Deus, vontade de falar da obra salvífica de Cristo. Porém, tais evidências
são próprias da regeneração e como o batismo no Espírito Santo é diferente da
Regeneração, não podemos apontar estas evidências para o batismo no Espírito Santo.
Dessa
forma, qual é a evidência física inicial do Batismo no Espírito Santo?
A
priori, precisamos destacar que quando se diz evidência física inicial, estamos
dizendo que a experiência do Batismo no Espírito Santo é perceptível visual e fisicamente
através de um comportamento específico que indica que o indivíduo foi, naquele
exato momento, revestido de poder. Trata-se de uma evidência inicial e, portanto,
não é a única evidência.
Podemos
elencar três evidências do batismo no Espírito Santo: 1) Vocalização inspirada
(falar em línguas); 2) Intrepidez; 3) Capacitação.
O
Batismo no Espírito Santo é evidenciado pela imediata vocalização inspirada/profética
que consiste em falar em línguas estranhas (Glossolalia).
Todos
que são batizados no Espírito Santo falam em línguas estranhas, pelo menos
inicialmente.
Mas,
se a doutrina da evidência física inicial e verdadeira, como fica as palavras
de Paulo em 1Co 12:30, onde afirma, através de uma pergunta retórica, que nem
todos falam em línguas?
Para responder
esta objeção é preciso diferenciar as línguas estranhas como um sinal do dom de
variedade de línguas. As línguas estranhas como um sinal está prevista em Mt
16:17-18 e é um sinal (evidência) do Batismo no Espírito Santo. Já o dom de
variedade de línguas está previsto em 1Co 12.10 e este dom nem todos têm. É
nesse contexto que Paulo afirma que nem todos falam em línguas, ou seja, nem
todos receberam o dom de variedade de línguas, contudo, quando foram batizados
no Espírito, falaram em línguas como um sinal de que foram revestidos de poder,
ainda que depois nunca mais falem em línguas.
10.1. PROVANDO
A DOUTRINA DA EVIDÊNCIA FÍSICA INICIAL:
a) A
Bíblia é a norteadora da experiência e não a experiência é a norteadora da
Bíblia: Por mais que uma pessoa insista que foi batizada no
Espírito Santo sem nenhuma evidência física inicial, precisamos ter em mente
que esta experiencia deve ser filtrada pela Bíblia, ou seja, não podemos
interpretar a Bíblia conforme nossas experiências, antes, devemos interpretar
nossas experiências conforme a Bíblia. Dessa forma, deixemos a Bíblia dizer se
existe uma evidência inicial do Batismo no Espírito Santo!
b) Em
Jerusalém, o falar em línguas foi a marca distintiva no Pentecostes: Em
Atos 2, TODOS falaram em línguas!
c) A
casa de Cornélio: Em Atos 10:45-46 lemos que Pedro chegou à conclusão de
que eles foram batizados no Espírito Santo somente depois que eles falaram em
línguas;
d) A
Igreja de Éfeso: Em Atos 19:5-6 Paulo impõe as mãos sobre os irmãos e estes
são batizados no Espírito Santo e, imediatamente, falaram línguas estranhas;
e) A
Igreja de Samaria: Apesar de Lucas não registrar explicitamente que eles
falaram em línguas, isto está implícito no texto, pois de outro modo como
Simão, o mago, teve certeza de que os crentes foram batizados? (Atos 8:18);
f) Mc
16:17-20: Aqui, Jesus estabelece as línguas como um sinal para todos os
crentes e não somente para alguns;
g) A
história da Igreja tem apresentado um padrão quanto ao Batismo no Espírito
Santo, qual seja: Todos que têm esta experiência falaram em línguas!
10.2. O
FALAR EM LÍNGUAS É UMA EVIDÊNCIA QUE SÓ APARECE NO N.T? NÃO!
O
fenômeno da Glossolalia aparece, também, no A.T como evidência do enchimento do
Espírito Santo, vejamos:
Nos
casos narrados em Nm 11:17-26; 1Samuel 10:10,11 e 1Samuel 19:20-24, ocorreu o
fenômeno da Glossolalia; Fundamentos: a) A evidência que provou que eles
foram cheios do Espírito Santo foi o profetizar; b) Não foi um profecia
no sentido de entrega de uma mensagem, pois, senão constaria o conteúdo da
profecia; c) A palavra no hebraico para profetizar é “nãba” que
significa transbordar palavras de maneira extática;
Nãba
pode significar três ações: Prodiagnosticar; entregar uma
mensagem ou falar em êxtase;
A
Glossolalia de Atos 2 é comparada como sendo o profetizar de Joel 2:28,
indicando que no A.T o ato de profetizar nem sempre possui o sentido clássico,
mas, possui, também, o sentido de falar extaticamente.
Em síntese,
no texto de Nm 1:29 Moisés deseja que todo o povo de Deus profetizassem;
Em Joel 2:28 Deus promete que todos profetizariam; Em Atos 2 todos
profetizaram.
O
falar em línguas é uma forma especial de profetizar. Pois, tanto a profecia, em
sentido estrito, quanto as línguas estranhas, em sentido amplo, consistem na
locução inspirada e impulsionada pelo Espírito Santo. A diferença é que, na
profecia, o crente fala, inspiradamente e impulsionado pelo Espírito Santo, em
uma língua humana conhecida tanto por quem fala quanto por quem ouvi. Já as
línguas estranhas, o crente fala, inspiradamente e impulsionado pelo Espírito
Santo, em uma língua desconhecida por quem fala, em uma língua ininteligível.
11. PROPÓSITO
DO BATISMO NO ESPÍRITO SANTO
A
Bíblia nos apresenta, pelo menos, três propósitos:
a) Capacitatório:
Atos 1:8: “Mas recebereis a virtude do Espírito
Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em
Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra”.
Em
Atos 1:8 fica claro que a palavra “virtude” decorre da palavra grega “dunamis”
e significa explosão de poder; quem é batizado no Espírito Santo experimenta
uma plenitude do poder do Espírito; já quem não é Batizado no Espírito Santo
pode experimentar graus de poder, mas não a plenitude deste poder; (Cuidado
como elitismo espiritual e com o conformismo espiritual).
A
palavra “testemunhas” decorre da palavra grega “martíria” e significa aquele
que doa sua vida (morre) por amor a uma causa.
Dessa
forma, o Batismo no Espírito Santo visa capacitar a igreja a testemunhar o
evangelho de Cristo.
b) Poder
para servir: O Batismo no Espírito Santo é concedido para
que o crente receba dons espirituais que capacitarão ele a servir a Cristo e a
igreja (Joel 2:28);
c)
Propósito doxológico: O revestimento de poder possui como propósito final
a glorificação do nome do Senhor, ou seja, tudo o que Deus faz pela igreja e
através da igreja é para sua glória.
12. RESPONDENDO
AS OBJEÇÕES SOBRE O BATISMO NO ESPÍRITO SANTO
Quando
se fala do Batismo no Espírito Santo, muitas objeções surgem daqueles que não
compreender bem a posição pentecostal ou que insistem em contradizê-la mesmo
diante da sua biblicidade. Vejamos algumas dessa objeções:
OBJEÇÃO
1: Se falar em línguas é para todos, por que muitos crentes dentro da igreja
pentecostal não falam em línguas e não são batizados no Espírito Santo? Se nem
todos falam deve ser porque não é uma evidência obrigatória!
Resposta:
Muitos
não têm a experiência do Batismo no Espírito Santo e o falar em línguas,
exatamente porque não creem nesta doutrina ou porque buscaram, mas pelo fato de
não receberem, desistiram de buscar e deixaram de crer. Ora, se não creem, não
buscam e, se não buscam, não recebem! A regra bíblica é clara: É preciso buscar
para achar, é preciso pedir para receber (Lc 11:9-14);
OBJEÇÃO
2: Eu experimento o poder de Deus na minha vida, logo já sou batizado no Espírito
Santo e não precisei falar em línguas!
Resposta:
Não
se pode confundir a experiência de sentir certo nível de poder de Deus com a
experiência de sentir a plenitude deste poder! O falar em línguas é a evidência
do Batismo no Espírito Santo e este é uma experiência da plenitude do poder que
Deus separou para nós.
É
inegável que o crente pode experimentar níveis/porções do poder que Deus dispôs
para nós. Porém, somente quem é batizado no Espírito Santo pode experimentar a
plenitude deste poder!
Exemplo:
Os discípulos já haviam experimentado uma fração deste poder (Lc 9:1), mas,
mesmo assim, Jesus adverte que eles precisavam experimentar a plenitude deste
poder (Lc 24:49 e Atos 1:8); Lembrar de Ez 47:3-12!
OBJEÇÃO
3: Por que não sou batizado no Espírito Santo se esta experiência é para todos?
Resposta:
Primeiro,
pode ser que você não esteja pedindo ao Senhor com sinceridade (Mt 7.7); O
Batismo no Espírito Santo tem como propósito capacitar o crente para realizar a
obra de Deus e, neste contexto, muitos crentes não recebem o revestimento de
poder pelo fato de não se comprometerem com a obra de Deus, não querem fazer a
obra de Deus (Atos 1:8); Outros não recebem o batismo no Espírito Santo pelo
fato de não terem uma vida de santidade e de renúncia, ora, como esperar ser
batizado no Espírito Santo se você vive na prática pecaminosa? (Atos 1:14); A
ausência de ensino sobre o Batismo no Espírito Santo pode desestimular a busca
por esta experiência (Atos 19:1-7); Por fim, muitas pessoas não foram batizadas
no Espírito Santo simplesmente porque Deus ainda não desejou batizá-la, ou seja,
a vontade de Deus é soberana e ele batiza no Espírito Santo quem ele quer e
quando ele quiser, o que nos cabe é buscar por essa experiência e confiar na
sua vontade.
OBJEÇÃO
4: Como compreender o texto de 1Co 13.3 que ensina que todos os crentes já foram
batizados por um Espírito?
Resposta:
Quando
estamos interpretando esse texto, precisamos buscar qual a visão pneumatológica
de Paulo, a final sua visão definirá como ele enxerga o papel do Espírito
Santo.
Sendo
assim, a pneumatologia de Paulo é, essencialmente, soteriológica, ou seja, Paulo
enfatiza o papel soteriológico (relacionado a salvação) do Espírito Santo. Desta
forma, quando Paulo afirma que todos foram batizados por um Espírito, o apóstolo
não está falando do revestimento de poder, mas, sim da regeneração.
Em
1Cor 12:13 Paulo está falando da conversão/regeneração, onde o Espírito Santo é
o Batizador; “...batizados por um mesmo Espírito”. Ao passo que no revestimento
de poder, Cristo é o Batizador e não o Espírito Santo.
OBJEÇÃO
5: Batismo no Espírito Santo é a mesma coisa que santificação?
Resposta:
Não!
Batismo no Espírito Santo não é a mesma coisa que a santificação, pois a esta
faz parte da ordem de salvação, ao passo que aquele é uma experiência carismática
sem efeitos soteriológicos.
OBJEÇÃO
6: Não sou batizado no Espírito Santo, será que tenho o Espírito Santo?
Resposta: Ter o Espírito Santo e diferente de ser batizado no Espírito Santo. Ter o Espírito santo é sinônimo de ser Salvo e possuir o fruto do Espírito de Gl 5:22; João 14:16-17; Ser Batizado no Espírito é receber um revestimento de poder em momento posterior a regeneração, sendo, portanto, uma experiência para quem já tem o Espírito Santo; Leia 1Co 12:3.
13. CONCLUSÃO
O batismo no Espírito Santo é uma doutrina clara nas páginas da Bíblia e,
portanto, deve ser uma experiência buscada por todos os crentes que ainda não a
experimentaram.
A falta de ensino sobre a doutrina do Batismo no Espírito Santo tem
trazido grandes prejuízos para a igreja, haja vista que a falta de conhecimento
desestimula a busca pelo revestimento de poder.
Dessa forma, a Igreja Evangélica Assembléia de Deus precisa estimular
seus membros a buscarem pelo revestimento de poder e os dons espirituais, pois
somos o legado de crentes que foram forjados pela chama pentecostal, que labutaram
incansavelmente para pregar o evangelho, capacitados pelo revestimento de
poder.
Pb. Diego Natanael
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ANEXO - INFOGRÁFICO SOBRE O BATISMO NO ESPÍRITO SANTO
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14. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
BÍBLIA DE ESTUDO
PENTECOSTAL. Rio de Janeiro: CPAD, 2002.
BRASIL, Sociedade Bíblica do. BÍBLIA - CINQUENTENÁRIO DA
IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLÉIA DE DEUS, 1.ed. Belo Horizonte: SBB, 2022.
DANIEL, Silas. O Batismo no Espírito Santo e as
línguas como sua evidência: A imersão plena no profetismo da nova
aliança. 1. Ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2020.
GILBERTO, Antônio. Org. Teologia Sistemática
Pentecostal. 10. Ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2017.
MCGEE, Gary. Editor. Evidência Inicial – Perspectivas
históricas e bíblicas sobre a doutrina pentecostal do Batismo no Espírito
Santo. Rio Grande do Norte: Carisma, 2020.
MENZIES, William W. No poder do Espírito:
Fundamentos da teologia pentecostal. Rio Grande do Norte: Carisma, 2020.
RODRIGUES, Jefferson. Escudo Pentecostal – uma visão panorâmica das principais doutrinas pentecostais. São Paulo: Editora Reflexão, 2017.
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