BATISMO NO ESPÍRITO SANTO: Doutrina da subsequência e evidência física inicial



BATISMO NO ESPÍRITO SANTO: Doutrina da subsequência e evidência inicial

Por Diego Natanael

 

INTRODUÇÃO

O Batismo no Espírito Santo é uma experiência neotestamentária profetizada no antigo testamento e experimentada por alguns personagens veterotestamentários. Essa experiência carismática está disponível a todos os crentes, pois, essencialmente, o Batismo no Espírito Santo é um revestimento de poder que capacita os crentes a realizarem a obra de Cristo com mais eficiência e dinamismo, ou seja, é o revestimento de poder a fim de capacitar a Igreja a cumprir seu papel missiológico (Atos 1:8).

O Batismo no Espírito Santo é uma promessa feita no A.T – Joel 2:28-31. É uma promessa reafirmada por Jesus – Lc 24:49. A promessa do Batismo no Espírito Santo foi cumprida em Atos 2 e está disponível até os dias de hoje.

Dessa forma, o exercício teológico de compreender a experiência do Batismo no Espírito Santo é primordial, haja vista que seu propósito, como será exposto adiante, está estritamente ligado as perspectivas teleológica da igreja, ou seja, a forma como a igreja/denominação interpreta essa experiência determinará a forma como a igreja se envolve em seu papel eclesiológico e missional.

Assim sendo, o que é o batismo no Espírito Santo? Qual a sua evidência? Quais os seus propósitos? Estas e outras perguntas serão respondidas durante o desenvolvimento deste artigo.

1. DEFINIÇÃO DE BATISMO NO ESPÍRITO SANTO:

A final, o que a experiência do Batismo no Espírito Santo? Precisamos definir o conceito dessa experiência a luz do entendimento da teologia pentecostal clássica. Dessa forma, o conceito a seguir será baseado na perspectiva pentecostal clássica.

O Batismo no Espírito Santo é uma experiência de revestimento de poder, distinta e posterior a regeneração, cuja evidência física inicial é o falar em línguas, tendo por finalidade a capacitação e edificação da igreja no seu papel missional, eclesiológico e doxológico.

Desta forma, podemos extrair quatro elementos do conceito pentecostal do Batismo no Espírito Santo, quais sejam:

a) Experiência de revestimento de poder: O Batismo no Espírito Santo é uma experiência em que o crente recebe a plenitude do poder disponibilizado pelo Espírito Santo aos salvos. É uma experiência, pois seu conhecimento sé dá pelos sentidos humanos e, portanto, é perceptível (empirismo);

b) Distinta e posterior a regeneração: O Batismo no Espírito Santo é diferente da regeneração e, portanto, não se confunde com ela. Outrossim, o Batismo no Espírito Santo acontece em momento posterior a regeneração e, portanto, é uma experiência disponível somente para quem, primeiro, foi regenerado;

c) Cuja evidência física inicial é o falar em línguas: Pelo fato do Batismo no Espírito Santo ser diferente da regeneração, ele possui ume evidência própria que comprova para a pessoa que está sendo revestida de poder, bem como para a comunidade de fé, que o crente foi batizado no Espírito Santo e, desta forma, a única evidência, a luz da Bíblia, é o falar em línguas;

d) tendo por finalidade a capacitação e edificação da igreja no seu papel missional, eclesiológico e doxológico: O Batismo no Espírito Santo possui um propósito capacitatório, pois capacita o crente no serviço cristão, dinamizando a obra de Deus. Também, o revestimento de poder potencializa os dons espirituais a fim de edificar o corpo de Cristo. Não menos importante, a finalidade última do Batismo no Espírito Santo é no sentido doxológico, ou seja, é revestir a igreja de poder para glorificar o nome do Senhor.

O escritor Jefferson Rodrigues traz o seguinte conceito de Batismo no Espírito Santo que corrobora o conceito supracitado, vejamos:

E assim, definimos o Batismo com o Espírito Santo como o cumprimento da promessa exposta nas Escrituras e vaticinada por Jesus, onde a igreja, que é o povo de Deus, teria a sua disposição um revestimento capaz de impulsioná-la, com poder e graça, para dar cabal cumprimento à obra de Cristo. E tal imersão (batismo, gr. Baptzo) no Espírito Santo é evidenciado com manifestações físicas, e a tomar pelas experiências em Atos dos Apóstolos, tais evidências seja o falar em línguas (At 2.4; 10.45-47; 19.6)” (RODRIGUES, Jefferson; Escudo Pentecostal; p. 69, 2017).

Em síntese, este é o conceito pentecostal clássico do Batismo no Espírito Santo que guarda em sua essência quatro doutrinas: Doutrina do Revestimento de poder; Doutrina da separabilidade; Doutrina da subsequência; doutrina da evidência física inicial.

Outras tradições cristãs possuem conceitos que divergem da teologia pentecostal clássica, dentre elas temos a tradição reformada e carismática. A tradição reformada confunde o Batismo no Espírito Santo com a Regeneração, ou seja, eles ensinam que a Regeneração e o Batismo no Espírito Santo são a mesma experiência e que essa experiência não traz e nem potencializa dons espirituais, haja vista que estes cessaram. Já a tradição carismática também entende que a Regeneração e o Batismo no Espírito Santo são a mesma experiência, porém creem que a regeneração/batismo no Espírito Santo é a porta de entrada para os dons espirituais.

É importante destacar que tanto a tradição reformada quanto a carismática divergem do pentecostalismo clássico quanto ao conceito de Batismo no Espírito Santo. Ao passo que o pentecostalismo clássico entende que o Batismo no Espírito Santo é uma experiência distinta e posterior a regeneração, tanto a tradição reformada quanto a carismática entendem que a regeneração e o Batismo no Espírito Santo são a mesma coisa, ou seja, se trata de uma mesma experiência.

2. BATISMO NO ESPÍRITO OU COM ESPÍRITO SANTO?

Qual a terminologia correta, Batismo no Espírito Santo ou Batismo com Espírito Santo? Existem pessoas que preferem a preposição “no” e outras que preferem a preposição “com”, mas, qual a preposição correta?

Em Atos 1.5, na Almeida Corrigida e Fiel, lemos a seguinte afirmação:

“Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias”. (grifo nosso).

Com esse texto, o leigo pode achar que o termo correto é somente Batismo com o Espírito Santo, porém, fazendo uma exegese do texto descobrimos que não é bem assim.

A expressão “vós sereis batizados com o Espírito Santo” é escrita no grego da seguinte forma: “Bartisthesesthe en pneumati hagio”. No grego a preposição usada é “en” e essa preposição grega pode ser traduzida tanto pela preposição “com” quanto pela preposição “no”.

Desta forma, a utilização de qualquer uma das duas preposições (“com” ou “no”) está correta. Pode ser Batismo com o Espírito Santo ou Batismo no Espírito Santo.

Este autor utilizará a preposição “no” por achar sua utilização melhor quando associada ao batismo, a final a palavra “batismo” no grego é “baptizo” e significa imersão. Dessa forma, o revestimento de poder é uma experiência de imersão no Espírito e não com o Espírito.

Contudo, reitera que a utilização de qualquer uma das duas preposições (“com” ou “no”) está correta.

3. DOUTRINA DA SEPARABILIDADE – ATOS 2:38

Conforme já dito alhures, o Batismo no Espírito Santo é uma experiência distinta da regeneração e, portanto, não se confundi com ela. Em decorrência dessa afirmação, a teologia pentecostal ensina que a experiência do Batismo no Espírito Santo não é requisito para salvação. A isso chamamos de doutrina da separabilidade, pois separamos a ação soteriológica da Regeneração da ação carismática do Batismo no Espírito Santo.  

Dessa forma, o pentecostalismo não ensina que quem é batizado no Espírito Santo é salvo e quem não é batizado não é salvo. Muito menos ensina quem é batizado no Espírito Santo é mais santo daquele que não é.

O Pentecostalismo ensina que o Batismo no Espírito Santo não se confunde com a ordo salutis (ordem de salvação) e, portanto, não é sinônimo de santificação.

Existe o Batismo pelo Espírito Santo e o Batismo no Espírito Santo. No Batismo pelo Espírito Santo (1Co 12:13), o Espírito Santo é o batizador que nos batiza em Cristo, nos inserindo no corpo de Cristo através da regeneração. Já no Batismo no Espírito Santo, Cristo é o batizador que nos batiza no Espírito Santo, nos imergindo no poder do Espírito e revestindo de poder.

Dessa forma, todo crente batizado no Espírito Santo é salvo, mas nem todo salvo é batizado no Espírito Santo. Da mesma forma, todos os salvos têm o Espírito Santo, porém, somente os revestidos de poder possuem o Batismo no Espírito Santo.

4. O REVESTIMENTO DE PODER NO ANTIGO TESTAMENTO

Muitos associam o Batismo no Espírito Santo como uma experiência exclusivamente neotestamentária, porém, uma leitura mais cuidadosa do Antigo Testamento nos revela que o Batismo no Espírito Santo foi uma experiência real para muitos personagens veterotestamentários.

a) Na formação da nação de Israel, pós êxodo: Neste período, o Espírito Santo encheu a vida de Moisés e dos 70 anciãos a fim de capacitá-los na missão de governar a nação de Israel (Nm 11:25). Também, nesse período, Deus capacitou homens como Bezalel a fim de participarem da construção dos objetos do santuário (Ex 31); Todos eles foram revestidos de poder;

b) No período dos juízes, após assumir a terra prometida: Neste período, os juízes eram homens cheios do Espírito Santo e, portanto, capacitados pelo Espírito a fim de protegerem Israel (Jz 3:10; 14:6);

c) No Período Monárquico de Israel: Os reis de Israel eram cheios do Espírito Santo a fim de serem capacitados para governarem Israel (1Sm 10:9-10; 19:18-24; 2Sm 23:02);

d) No Período dos Profetas: Os profetas eram homens cheios do Espírito Santo e capacitados por Ele a fim de profetizarem a verdade e vontade divina ao povo de Israel.

Conforme se verifica, todos os personagens citados acima experimentaram um revestimento de poder produzido pelo Espírito Santo a fim de capacitá-los na obra do Senhor.

4.1. COMPARANDO OS CASOS DE REVESTIMETO DE PODER DO A.T COM OS DO N.T:

José, Bezalel, Moisés, 70 anciões, Sansão e reis de Israel:

ü   Deus os separou para realizarem sua obra;

ü   Deus os capacitou por meio de um derramamento do Espírito Santo;

ü   Todos, após o derramamento, receberam dons;

Casos do N.T:

ü   Deus os separaram para realizar sua obra evangelística;

ü   Deus os capacitaram por meio de um derramamento do Espírito Santo;

ü   Todos, após o derramamento, receberam dons;

Desta forma, os casos de revestimento de poder do Antigo Testamento possuem o mesmo padrão dos casos do Novo Testamento. A diferença entre o antigo e novo testamento, no que diz respeito ao revestimento de poder, é que no antigo testamento essa experiência era limitada a certos indivíduos e a certos momentos da história. Já no novo testamento ocorre uma democratização do Espírito, tornando a experiência do Batismo no Espírito Santo disponível a todos os salvos.

5. PEDRO INTERPRETA A EXPERIÊNCIA DO BATISMO NO ESPÍRITO SANTO

Em Atos 2 lemos que os discípulos foram cheios do Espírito Santo e, ao se levantarem, Pedro interpreta essa experiência como sendo cumprimento da profecia de Joel 2:28, vejamos:

“Estes homens não estão embriagados, como vós pensais, sendo a terceira hora do dia. Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel:
E nos últimos dias acontecerá, diz Deus, Que do meu Espírito derramarei sobre toda a carne; E os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, Os vossos jovens terão visões, E os vossos velhos sonharão sonhos;
E também do meu Espírito derramarei sobre os meus servos e as minhas servas naqueles dias, e profetizarão; E farei aparecer prodígios em cima, no céu; E sinais em baixo na terra, Sangue, fogo e vapor de fumo.
O sol se converterá em trevas, E a lua em sangue, Antes de chegar o grande e glorioso dia do Senhor” (Atos 2:15-20) (grifo nosso).

O apóstolo Pedro declara que o que aconteceu em Atos 2 foi o cumprimento da promessa de derramamento do Espírito Santo sobre toda carne vaticinada pelo profeta Joel.

Já em Atos 2:38,39 lemos Pedro completando a interpretação do derramamento do Espírito Santo, in verbis:

“E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo; Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar”.

A primeira coisa que Pedro destaca é que a experiência do Batismo no Espírito Santo está disponível apenas para os salvos, pois, segundo Pedro, é preciso que o pecador arrependa de seus pecados para que, depois, receba o Batismo no Espírito Santo (Atos 2.38).

Ademais, Pedro destaca, no versículo 39, quatro verdades acerca do Batismo no Espírito Santo como sendo uma democratização do Espírito, vejamos:

a) Diz respeito a vós: Pedro está dizendo que o Batismo no Espírito Santo é uma experiência individual de percepção sensorial;

 b) aos vossos filhos: Pedro estava ensinando que as gerações subsequentes poderiam experimentar o Batismo no Espírito Santo, ou seja, a experiência do Batismo no Espírito Santo não estava limitada aquela geração;

 c) A todos os que estão longe: A experiência do Batismo no Espírito Santo é universal, atingindo a todas as pessoas, em todos os lugares, que crerem;

 d) A tantos quanto o Senhor chamar: O Batismo no Espírito Santo é uma experiência atemporal que não se limita a era apostólica e se estende a todos que o Senhor salvar!

6. PRESSUPOSTOS SOBRE O BATISMO NO ESPÍRITO SANTO

Quando o teólogo pentecostal se debruça ao estudo do Batismo no Espírito Santo, ele tem que ter em mente uma série de pressupostos básicos que sustentam a doutrina pentecostal do revestimento de poder. Dessa forma, passa-se a elencar os principais pressupostos:

a) O Batismo no Espírito Santo é uma doutrina ensinada por Jesus – Lc 24:49; Atos 1:4-8;

b) Quem Batiza no Espírito Santo é Jesus: João 1:32-33; Mt 3:11 c/c Atos 1:5;

c) Ter o Espírito Santo e diferente de ser batizado no Espírito Santo:

ü   Ter o Espírito santo é sinônimo de ser Salvo e possuir o fruto do Espírito de Gl 5:22; João 14:16-17;

ü  Ser Batizado no Espírito é receber um revestimento de poder em momento posterior a regeneração, sendo, portanto, uma experiência para quem já tem o Espírito Santo;

7. BATISMO COM ESPÍRITO SANTO E COM FOGO, DOIS BATISMOS?

Em Mt 3:11, João Batista faz a seguinte afirmação:

“E eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; cujas alparcas não sou digno de levar; ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo”. (grifo nosso).

João Batista diz que Jesus batiza com o Espírito Santo e com fogo. Tal afirmação tem gerado grande debate na academia teológica, pois, afinal, João Batista estaria se referindo a dois batismos diferentes, um com Espírito Santo e outro com fogo, ou, na verdade, estaria ensinando um único batismo?

Sobre esta pergunta, existem duas correntes que tentam responder:

a) SÃO DOIS BATISMOS DIFERENTES: Esta corrente entende que na passagem de Mt 3:11, João Batista estaria se referindo a dois batismos: O Batismo no Espírito Santo, para os salvos, e o Batismo no fogo, para os ímpios. Esta corrente sustenta que o batismo com fogo não pode ser confundido com o batismo no Espírito Santo, pois o fogo simboliza juízo, enquanto o batismo no Espírito Santo simboliza salvação.  

b) UM ÚNICO BATISMO: Esta corrente entende que em Mt 3:11, João Batista estava falando de uma única experiência, qual seja: O revestimento de poder; fundamentos:

Ø   Para esta corrente, o termo “Batismo no Espírito Santo e fogo” é um paralelismo sinonímico, indicando que os termos “Espírito Santo” e “Fogo” são expressões intercambiáveis para uma mesma experiência;

Ø  O termo grego “en” (com ou no) só aparece antes da expressão “Espírito Santo” e não aparece antes da expressão “Fogo” o que indica que a palavra “fogo” está fazendo referência a mesma ação do Espírito Santo em batizar no Espírito;

Ø  João Batista está falando para crentes, pois diz “...Eu vos batizo com água para o arrependimento, mas Ele vos batizará...”

Ø  O fogo, na Bíblia, majoritariamente é símbolo da presença de Deus: O fogo apareceu a Moisés por meio de uma sarça ardente – Ex 3:1-4; O fogo apareceu por meio de uma coluna de fogo no deserto – Ex13:22; O fogo era mantido acesso no tabernáculo – Lv 6:9; Elias foi transladado aos céus por meio de carros de fogo – 2Rs 2:11; Em Hb 1:7 Deus diz que ele faz de seus ministros labaredas de fogo; Nosso Deus é fogo – Hb 12:29; O seu trono é fogo – Dn 7:9; A sua Palavra é fogo – Jr 23:29; O seu amor é fogo – Ct 8:6; Jesus Batiza com Fogo – Mt 3:11; Em Atos 2:3. aparecem as línguas de fogo.

Ø  Se compararmos os relatos de Mt 3:11 com Jo 1:33 e Atos 1:5, percebe-se que há uma paráfrase de Mt 3:11, contudo, a palavra fogo não aparece, pois, com tudo indica, fogo e Espírito Santo são palavras intercambiáveis para indicar a mesma experiência do revestimento de poder.

Dessa forma, o autor desse artigo se posiciona no sentido de que em Mt 3:11 João Batista estava se referindo a um único batismo, sendo o termo “Batismo no Espírito Santo e fogo” é um paralelismo sinonímico, indicando que os termos “Espírito Santo” e “Fogo” são expressões intercambiáveis para uma mesma experiência.

9. DOUTRINA DA SUBSEQUÊNCIA

A doutrina da subsequência defende que o Batismo no Espírito Santo é uma experiência distinta e posterior a regeneração, ou seja, o Batismo no Espírito Santo é uma experiência que ocorre em momento posterior a regeneração do pecador e, portanto, não se confunde com ela.

Em outras palavras, para que o homem possa ser batizado no Espírito Santo, é preciso que, antes, este homem seja regenerado. Portanto, batismo no Espírito Santo não é regeneração e acontece depois da regeneração.

Conforme já dito alhures, é exatamente esta doutrina que nos diferencia dos reformados e carismáticos, haja vista que estes creem que o Batismo no Espírito Santo é a regeneração, ao passo que o pentecostalismo clássico crer que o batismo no Espírito Santo é diferente da regeneração e ocorre em momento posterior a ela.

9.1. PROVANDO A DOUTRINA DA SUBSEQUÊNCIA:

a) A experiência do Pentecostes dos discípulos (Atos 2) aconteceu após sua conversão – Jo 14:17 / Lc 10:20 / João 15:3 / Atos 1:12-16: Os discípulos que foram cheios do Espírito Santo em Atos 2 já eram crentes salvos, ou seja, primeiro foram salvos para, depois, serem cheios do Espírito Santo;

b) O Pentecostes samaritano – Atos 8:14-20: Os samaritanos já eram convertidos pela mensagem de Felipe (Atos 8:5 e 12) e os próprios apóstolos atestam que já eram salvos e que necessitavam do revestimento de poder (Atos 8:14);

c) A conversão de Paulo – Atos 9:17: Paulo havia se convertido 3 dias antes de se encontrar com Ananias; Quando Ananias se encontra com Paulo ele não prega o arrependimento, mas ora para que Paulo seja cheio do Espírito Santo; em 1Co 14:18 Paulo afirma que fala em línguas;

d) Os discípulos de Éfeso – Atos 19:1-7: Aqueles homens já eram crentes, mas ainda não haviam recebido o Batismo no Espírito Santo;

e) Mc 16:17-18, quando se cumpriu? Eles tinham crido, mas só receberam em Atos 2.

10. DOUTRINA DA EVIDÊNCIA FÍSICA INICIAL

Em decorrência da doutrina da subsequência, surge a doutrina da evidência física inicial. Se o batismo no Espírito Santo é diferente da Regeneração, qual é a evidência que comprova para o indivíduo e para a comunidade de fé que ele foi batizado no Espírito Santo?

A esta pergunta muitos poderiam responder que a evidência do batismo no Espírito é uma mudança completa de vida, abandono das práticas pecaminosas, vontade de servir a obra de Deus, vontade de falar da obra salvífica de Cristo. Porém, tais evidências são próprias da regeneração e como o batismo no Espírito Santo é diferente da Regeneração, não podemos apontar estas evidências para o batismo no Espírito Santo.

Dessa forma, qual é a evidência física inicial do Batismo no Espírito Santo?

A priori, precisamos destacar que quando se diz evidência física inicial, estamos dizendo que a experiência do Batismo no Espírito Santo é perceptível visual e fisicamente através de um comportamento específico que indica que o indivíduo foi, naquele exato momento, revestido de poder. Trata-se de uma evidência inicial e, portanto, não é a única evidência.

Podemos elencar três evidências do batismo no Espírito Santo: 1) Vocalização inspirada (falar em línguas); 2) Intrepidez; 3) Capacitação.

O Batismo no Espírito Santo é evidenciado pela imediata vocalização inspirada/profética que consiste em falar em línguas estranhas (Glossolalia).

Todos que são batizados no Espírito Santo falam em línguas estranhas, pelo menos inicialmente.

Mas, se a doutrina da evidência física inicial e verdadeira, como fica as palavras de Paulo em 1Co 12:30, onde afirma, através de uma pergunta retórica, que nem todos falam em línguas?

Para responder esta objeção é preciso diferenciar as línguas estranhas como um sinal do dom de variedade de línguas. As línguas estranhas como um sinal está prevista em Mt 16:17-18 e é um sinal (evidência) do Batismo no Espírito Santo. Já o dom de variedade de línguas está previsto em 1Co 12.10 e este dom nem todos têm. É nesse contexto que Paulo afirma que nem todos falam em línguas, ou seja, nem todos receberam o dom de variedade de línguas, contudo, quando foram batizados no Espírito, falaram em línguas como um sinal de que foram revestidos de poder, ainda que depois nunca mais falem em línguas.

10.1. PROVANDO A DOUTRINA DA EVIDÊNCIA FÍSICA INICIAL:

a) A Bíblia é a norteadora da experiência e não a experiência é a norteadora da Bíblia: Por mais que uma pessoa insista que foi batizada no Espírito Santo sem nenhuma evidência física inicial, precisamos ter em mente que esta experiencia deve ser filtrada pela Bíblia, ou seja, não podemos interpretar a Bíblia conforme nossas experiências, antes, devemos interpretar nossas experiências conforme a Bíblia. Dessa forma, deixemos a Bíblia dizer se existe uma evidência inicial do Batismo no Espírito Santo!

b) Em Jerusalém, o falar em línguas foi a marca distintiva no Pentecostes: Em Atos 2, TODOS falaram em línguas!

c) A casa de Cornélio: Em Atos 10:45-46 lemos que Pedro chegou à conclusão de que eles foram batizados no Espírito Santo somente depois que eles falaram em línguas;

d) A Igreja de Éfeso: Em Atos 19:5-6 Paulo impõe as mãos sobre os irmãos e estes são batizados no Espírito Santo e, imediatamente, falaram línguas estranhas;

e) A Igreja de Samaria: Apesar de Lucas não registrar explicitamente que eles falaram em línguas, isto está implícito no texto, pois de outro modo como Simão, o mago, teve certeza de que os crentes foram batizados? (Atos 8:18);

f) Mc 16:17-20: Aqui, Jesus estabelece as línguas como um sinal para todos os crentes e não somente para alguns;

g) A história da Igreja tem apresentado um padrão quanto ao Batismo no Espírito Santo, qual seja: Todos que têm esta experiência falaram em línguas!

10.2. O FALAR EM LÍNGUAS É UMA EVIDÊNCIA QUE SÓ APARECE NO N.T? NÃO!

O fenômeno da Glossolalia aparece, também, no A.T como evidência do enchimento do Espírito Santo, vejamos:

Nos casos narrados em Nm 11:17-26; 1Samuel 10:10,11 e 1Samuel 19:20-24, ocorreu o fenômeno da Glossolalia; Fundamentos: a) A evidência que provou que eles foram cheios do Espírito Santo foi o profetizar; b) Não foi um profecia no sentido de entrega de uma mensagem, pois, senão constaria o conteúdo da profecia; c) A palavra no hebraico para profetizar é “nãba” que significa transbordar palavras de maneira extática;

Nãba pode significar três ações: Prodiagnosticar; entregar uma mensagem ou falar em êxtase;

A Glossolalia de Atos 2 é comparada como sendo o profetizar de Joel 2:28, indicando que no A.T o ato de profetizar nem sempre possui o sentido clássico, mas, possui, também, o sentido de falar extaticamente.

Em síntese, no texto de Nm 1:29 Moisés deseja que todo o povo de Deus profetizassem; Em Joel 2:28 Deus promete que todos profetizariam; Em Atos 2 todos profetizaram.

O falar em línguas é uma forma especial de profetizar. Pois, tanto a profecia, em sentido estrito, quanto as línguas estranhas, em sentido amplo, consistem na locução inspirada e impulsionada pelo Espírito Santo. A diferença é que, na profecia, o crente fala, inspiradamente e impulsionado pelo Espírito Santo, em uma língua humana conhecida tanto por quem fala quanto por quem ouvi. Já as línguas estranhas, o crente fala, inspiradamente e impulsionado pelo Espírito Santo, em uma língua desconhecida por quem fala, em uma língua ininteligível.

11. PROPÓSITO DO BATISMO NO ESPÍRITO SANTO

A Bíblia nos apresenta, pelo menos, três propósitos:

a) Capacitatório: Atos 1:8: “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra”.

Em Atos 1:8 fica claro que a palavra “virtude” decorre da palavra grega “dunamis” e significa explosão de poder; quem é batizado no Espírito Santo experimenta uma plenitude do poder do Espírito; já quem não é Batizado no Espírito Santo pode experimentar graus de poder, mas não a plenitude deste poder; (Cuidado como elitismo espiritual e com o conformismo espiritual).

A palavra “testemunhas” decorre da palavra grega “martíria” e significa aquele que doa sua vida (morre) por amor a uma causa.

Dessa forma, o Batismo no Espírito Santo visa capacitar a igreja a testemunhar o evangelho de Cristo.

b) Poder para servir: O Batismo no Espírito Santo é concedido para que o crente receba dons espirituais que capacitarão ele a servir a Cristo e a igreja (Joel 2:28);

c) Propósito doxológico: O revestimento de poder possui como propósito final a glorificação do nome do Senhor, ou seja, tudo o que Deus faz pela igreja e através da igreja é para sua glória.

12. RESPONDENDO AS OBJEÇÕES SOBRE O BATISMO NO ESPÍRITO SANTO

Quando se fala do Batismo no Espírito Santo, muitas objeções surgem daqueles que não compreender bem a posição pentecostal ou que insistem em contradizê-la mesmo diante da sua biblicidade. Vejamos algumas dessa objeções:

OBJEÇÃO 1: Se falar em línguas é para todos, por que muitos crentes dentro da igreja pentecostal não falam em línguas e não são batizados no Espírito Santo? Se nem todos falam deve ser porque não é uma evidência obrigatória!

Resposta: Muitos não têm a experiência do Batismo no Espírito Santo e o falar em línguas, exatamente porque não creem nesta doutrina ou porque buscaram, mas pelo fato de não receberem, desistiram de buscar e deixaram de crer. Ora, se não creem, não buscam e, se não buscam, não recebem! A regra bíblica é clara: É preciso buscar para achar, é preciso pedir para receber (Lc 11:9-14);

OBJEÇÃO 2: Eu experimento o poder de Deus na minha vida, logo já sou batizado no Espírito Santo e não precisei falar em línguas!

Resposta: Não se pode confundir a experiência de sentir certo nível de poder de Deus com a experiência de sentir a plenitude deste poder! O falar em línguas é a evidência do Batismo no Espírito Santo e este é uma experiência da plenitude do poder que Deus separou para nós.

É inegável que o crente pode experimentar níveis/porções do poder que Deus dispôs para nós. Porém, somente quem é batizado no Espírito Santo pode experimentar a plenitude deste poder!

Exemplo: Os discípulos já haviam experimentado uma fração deste poder (Lc 9:1), mas, mesmo assim, Jesus adverte que eles precisavam experimentar a plenitude deste poder (Lc 24:49 e Atos 1:8); Lembrar de Ez 47:3-12!

OBJEÇÃO 3: Por que não sou batizado no Espírito Santo se esta experiência é para todos?

Resposta: Primeiro, pode ser que você não esteja pedindo ao Senhor com sinceridade (Mt 7.7); O Batismo no Espírito Santo tem como propósito capacitar o crente para realizar a obra de Deus e, neste contexto, muitos crentes não recebem o revestimento de poder pelo fato de não se comprometerem com a obra de Deus, não querem fazer a obra de Deus (Atos 1:8); Outros não recebem o batismo no Espírito Santo pelo fato de não terem uma vida de santidade e de renúncia, ora, como esperar ser batizado no Espírito Santo se você vive na prática pecaminosa? (Atos 1:14); A ausência de ensino sobre o Batismo no Espírito Santo pode desestimular a busca por esta experiência (Atos 19:1-7); Por fim, muitas pessoas não foram batizadas no Espírito Santo simplesmente porque Deus ainda não desejou batizá-la, ou seja, a vontade de Deus é soberana e ele batiza no Espírito Santo quem ele quer e quando ele quiser, o que nos cabe é buscar por essa experiência e confiar na sua vontade.

OBJEÇÃO 4: Como compreender o texto de 1Co 13.3 que ensina que todos os crentes já foram batizados por um Espírito?

Resposta: Quando estamos interpretando esse texto, precisamos buscar qual a visão pneumatológica de Paulo, a final sua visão definirá como ele enxerga o papel do Espírito Santo.

Sendo assim, a pneumatologia de Paulo é, essencialmente, soteriológica, ou seja, Paulo enfatiza o papel soteriológico (relacionado a salvação) do Espírito Santo. Desta forma, quando Paulo afirma que todos foram batizados por um Espírito, o apóstolo não está falando do revestimento de poder, mas, sim da regeneração.

Em 1Cor 12:13 Paulo está falando da conversão/regeneração, onde o Espírito Santo é o Batizador; “...batizados por um mesmo Espírito”. Ao passo que no revestimento de poder, Cristo é o Batizador e não o Espírito Santo.

OBJEÇÃO 5: Batismo no Espírito Santo é a mesma coisa que santificação?

Resposta: Não! Batismo no Espírito Santo não é a mesma coisa que a santificação, pois a esta faz parte da ordem de salvação, ao passo que aquele é uma experiência carismática sem efeitos soteriológicos.

OBJEÇÃO 6: Não sou batizado no Espírito Santo, será que tenho o Espírito Santo?

Resposta: Ter o Espírito Santo e diferente de ser batizado no Espírito Santo. Ter o Espírito santo é sinônimo de ser Salvo e possuir o fruto do Espírito de Gl 5:22; João 14:16-17; Ser Batizado no Espírito é receber um revestimento de poder em momento posterior a regeneração, sendo, portanto, uma experiência para quem já tem o Espírito Santo; Leia 1Co 12:3.

13. CONCLUSÃO

O batismo no Espírito Santo é uma doutrina clara nas páginas da Bíblia e, portanto, deve ser uma experiência buscada por todos os crentes que ainda não a experimentaram.

A falta de ensino sobre a doutrina do Batismo no Espírito Santo tem trazido grandes prejuízos para a igreja, haja vista que a falta de conhecimento desestimula a busca pelo revestimento de poder.

Dessa forma, a Igreja Evangélica Assembléia de Deus precisa estimular seus membros a buscarem pelo revestimento de poder e os dons espirituais, pois somos o legado de crentes que foram forjados pela chama pentecostal, que labutaram incansavelmente para pregar o evangelho, capacitados pelo revestimento de poder.

Pb. Diego Natanael

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ANEXO - INFOGRÁFICO SOBRE O BATISMO NO ESPÍRITO SANTO



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14. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL. Rio de Janeiro: CPAD, 2002.

BRASIL, Sociedade Bíblica do. BÍBLIA - CINQUENTENÁRIO DA IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLÉIA DE DEUS, 1.ed. Belo Horizonte: SBB, 2022.

DANIEL, Silas. O Batismo no Espírito Santo e as línguas como sua evidência: A imersão plena no profetismo da nova aliança. 1. Ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2020.

GILBERTO, Antônio. Org. Teologia Sistemática Pentecostal. 10. Ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2017.

MCGEE, Gary. Editor. Evidência Inicial – Perspectivas históricas e bíblicas sobre a doutrina pentecostal do Batismo no Espírito Santo. Rio Grande do Norte: Carisma, 2020.

MENZIES, William W. No poder do Espírito: Fundamentos da teologia pentecostal. Rio Grande do Norte: Carisma, 2020.

RODRIGUES, Jefferson. Escudo Pentecostal – uma visão panorâmica das principais doutrinas pentecostais. São Paulo: Editora Reflexão, 2017.

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