AS RAÍZES DO PENTECOSTALISMO NO BRASIL
AS RAÍZES DO PENTECOSTALISMO NO BRASIL
Por Diego Natanael
INTRODUÇÃO
A história da Igreja nos revela que Deus sempre está disposto a “avivar
sua obra” (Hc 3.2) e, baseado nessa vontade imutável, Deus nunca sonegou seu
Espírito e seus dons a Igreja. O avivamento é uma necessidade permanente da Igreja
de Cristo, que, de tempos em tempos, passa por um engessamento de sua
eclesiologia e, desta forma, sucumbe a atrofia espiritual e missional. Neste
contexto, o avivamento vem para mexer com as estruturas do comodismo espiritual
da igreja, pois quando a igreja tem contato com a “Dunamis” (gr. Dynamus), poder de Deus, ela experimenta
uma explosão espiritual que culmina no aparecimento dos dons espirituais em
abundância.
O avivamento sempre é um evento centrífugo,
pois surge no interior da igreja, mexendo com suas estruturas, dinamizando-a, enchendo-a
de poder, distribuindo dons espirituais em abundância para, depois, comissioná-la
para fora, a fim pregar o evangelho a toda criatura.
O movimento pentecostal moderno surgiu em um contexto de necessidade eclesiástica
de um genuíno avivamento centrifugo, que abalasse as estruturas internas da
igreja e a impulsionasse para fora do seu comodismo litúrgico engessado no
templo. O avivamento da Rua Azusa foi um movimento divino de revestimento de
poder da igreja a fim de dinamizá-la e, assim, alcançar as almas que não tinham
sido alcançadas pelo comodismo racionalista das igrejas históricas/reformadas.
Se outrora, no início do século XX, a igreja precisou de um avivamento,
muito mais hoje. Atualmente, vivemos um processo de secularização da igreja
promovido por movimentos influenciados pelo pós-modernismo de nosso tempo. A
relativização da verdade tem feito com que cada pessoa tenha um cristianismo pessoal
e moldado conforme suas convicções; o hedonismo tem corrompido a eclesiologia e,
portanto, a liturgia da igreja ao ponto de os cultos de adoração serem substituídos
por eventos de performance e de entretenimento; a pregação do evangelho tem
sido substituída pelo triunfalismo da teologia da prosperidade, teologia esta
filha da pós-modernidade; a visão missional bíblica que transforma o homem está
sendo substituída por um evangelho inclusivo que aceita o pecador junto com seu
pecado; por fim, o propósito doxológico da igreja está sendo substituído por
uma heterodoxologia.
Dessa forma, a igreja moderna precisa urgentemente buscar por um
avivamento produzido pelo Espírito Santo a fim de que possa continuar pregando
o evangelho de poder. Para tanto, a busca por um avivamento deve ser um
processo consciente, que passa pela compreensão do passado com vistas para o
futuro. Assim, sendo, precisamos entender a nossa história pentecostal a fim de
que possamos preservá-la e buscar pelo avivamento que nossos pais pentecostais
fundadores experimentaram no início do século XX.
Como Robert Menzies, teólogo pentecostal, escreveu, pentecostes: essa
história é a nossa história!
1. O QUE É O PENTECOSTALISMO?
O
Pentecostalismo é um movimento religioso, histórico e sociológico, de renovação
de dentro do cristianismo que dá ênfase especial numa experiência direta e
pessoal com Deus através do Batismo no Espírito Santo. O termo “pentecostal” é derivado da palavra “Pentecostes”, um termo grego que
descreve a festa judaica das semanas. Para os cristãos, este evento comemora
a descida do Espírito Santo sobre os crentes primitivos, conforme descrito em
Atos 2.
Pentecostes,
em grego “pentekostos” (cinquenta),
era um feriado anual judaico, também conhecido como a festa das semanas ou
festa dos primeiros frutos da colheita. Ela é celebrada cinquenta dias depois
da Páscoa.
Conforme
descreve César Moisés, em sua obra “Pentecostalismo e Pós-modernidade, o termo
pentecoste foi ressignificado:
“Passados
15 longos séculos, o Pentecoste deixou de ser apenas uma festividade litúrgica
e entrou no cenário histórico do cristianismo, como a fundação da igreja (Atos
2.1-13). Nesse dia a profecia do profeta Joel sobre a efusão espiritual que
seria estabelecida nos últimos dias (Joel 2.28-32) teve o seu cumprimento inaugural,
visto tratar-se de uma profecia milenar, permanecente e destinada a uma
dispensação” (MOISÉS, pg. 73, 2017).
Dessa
forma, o evento Pentecoste de Atos 2 constitui em um evento inaugural,
paradigmático e programático, haja vista que a partir de então, a igreja de
Cristo experimentaria continuamente o derramar do Espírito. Sendo Assim, o
movimento pentecostal moderno se funda na fé de que a história do pentecoste
(Atos 2) é a nossa história, ou seja, o derramamento do Espírito Santo
experimentado pela igreja primitiva está disponível para todos os crentes e em
todas as épocas. Por isso, o movimento que surgiu a partir do avivamento da Rua
Azusa passou a se chamar movimento pentecostal, por sua identificação com o
evento do Pentecostes do primeiro século (Atos2).
O Movimento Pentecostal se caracteriza, portanto, por crer:
1. Que a experiência do Batismo no Espírito Santo está disponível a
todos os salvos;
2. No Batismo no Espírito Santo como uma experiência distinta e
posterior à Regeneração;
3. Na contemporaneidade de todos os dons espirituais;
4. No falar em línguas estranhas como evidência física inicial
obrigatória;
5. Que o Batismo no Espírito Santo possui natureza capacitatória a fim
de ajudar a Igreja no processo de evangelização.
2. OS 4 PONTOS DO PENTECOSTALSIMO, A PROTO CONFISSÃO DE FÉ DO
PENTEOCSTALISMO CLÁSSICO
Muitos teólogos reformados acusam o movimento pentecostal de não possuir
uma identidade teológica, mas será que eles têm razão?
Desde seu surgimento, o movimento pentecostal clássico estabeleceu um
padrão doutrinário que fixou sua identidade teológica dentro do protestantismo.
A base teológica e doutrinaria do Pentecostalismo se consubstancia no chamado
“evangelho quadrilátero” que se resume na famosa confissão de fé:
“Só Jesus salva, cura, batiza no Espírito Santo e breve voltará!”
Esta declaração de fé era a base da mensagem pentecostal clássica no seu
surgimento e continua sendo até os dias de hoje.
Esta confissão de fé revela a base doutrinária do Pentecostalismo e a
principal característica desta base doutrinária é a sua mensagem cristocêntrica,
evidenciando o papel do Espírito Santo, no seio do movimento pentecostal, de
nos revelar Cristo – Jo 16:13-14.
A base doutrinária e, portanto, teológica do pentecostalismo é composta de 4 verdade ou pontos bíblicos, quais sejam: 1) Jesus salva; 2) Jesus cura; 3) Jesus batiza no Espírito Santo; 4) Jesus breve vem.
Só Jesus Salva: Ao pronunciar esta frase, o pentecostal deseja enfatizar que a salvação não pode ser adquirida pelos esforços pessoais do pecador, mas sim pela obra expiatória de Jesus. Desta forma, o movimento pentecostal sempre creu e pregou a salvação pela graça de Deus, condicionada unicamente a fé ao arrependimento do pecador. Igualmente, o movimento pentecostal clássico, ao dizer que só Jesus salva, tinha em mente os 5 solas da reforma protestante, quais sejam: somente a graça, somente a fé, somente Cristo, somente as Escrituras e somente a Deus toda a glória. Não menos importante, o pentecostalismo sempre creu na expiação ilimitada, ensinando que Jesus morreu por todos os homens.
Só Jesus cura: Desde o início, o movimento pentecostal enfatizava que Jesus ainda curava os doentes através dos crentes fiéis. A expressão “só Jesus cura” revela que o pentecostalismo clássico sempre creu na contemporaneidade dos dons espirituais e, portanto, o movimento pentecostal sempre foi continuísta.
Só Jesus batiza no Espírito Santo: Para o pentecostalismo clássico, o batismo no Espírito Santo é uma experiência disponível apenas para os salvos por Cristo e que esta experiência é um revestimento de poder destinado a capacitar a Igreja a cumprir seu papel missiológico. O movimento pentecostal sempre ensinou que o batismo no Espírito Santo é uma experiência distinta e posterior a regeneração, ou seja, o revestimento de poder é uma experiência diferente da regeneração e que acontece em momento posterior a regeneração do pecador. Esta crença é chamada de doutrina da subsequência do batismo no Espírito Santo.
Jesus breve vem: O movimento pentecostal clássico sempre adotou o dispensacionalismo como a sua forma de entender o plano de salvação elaborado por Deus. Assim sendo, o pentecostalismo clássico sempre creu na doutrina da iminência do arrebatamento, ou seja, o movimento pentecostal sempre creu que a volta de Jesus é iminente e que, portanto, Jesus pode voltar a qualquer momento. Em decorrência da crença na iminência do arrebatamento, o pentecostalismo adotou a doutrina do Pré-tribulacionismo, crendo que o arrebatamento da Igreja se dará antes do início da grande tribulação.
3. HISTÓRIA DO MOVIMENTO PENTECOSTAL MODERNO
O Movimento Pentecostal Moderno surgiu no início do século XX, porém,
seu surgimento se deu por influência de movimentos protestantes anteriores ao
século XX. Desta forma, é possível dizer que a causa eficiente do avivamento
que deu início ao movimento pentecostal moderno é o Espírito Santo, porém, o
avivamento da Rua Azusa foi o ápice de um movimento do Espírito que perpassa
por várias tradições protestantes e que culmina na Rua Azusa.
3.1. Colégio
Bíblico Betel (1901 d.C):
O
movimento pentecostal clássico traça sua origem nas aulas do Colégio Bíblico
Betel, na cidade de Topeka, no estado do Kansas, nos EUA. Liderados por Charles
Fox Parham, professor e pastor ligado ao movimento de santidade, o grupo chegou
à conclusão de que falar em línguas estranhas era o sinal bíblico do batismo no
Espírito Santo. Dentre os alunos de Charles Parham, encontrava-se o pregador do
movimento de santidade William J. Seymour que influenciado pelas conclusões de
Parham, viajou para Los Angeles, onde deu início ao conhecido avivamento da Rua
Azusa em 1906.
Parham
é responsável pela consolidação da doutrina do batismo no Espírito Santo, tendo
como evidência física inicial o falar em línguas. Parham orou para a irmã Agnes
(01/01/1901), com imposição de mãos, a fim de esta recebesse o Batismo no
Espírito Santo e, imediatamente, a irmã Agnes foi batizada no Espírito Santo e
falou em línguas.
Robert
Menzies, em seu livro “No poder do Espírito”, expõe a importância do Colégio
Bíblico Betel para a formação do movimento pentecostal:
“Os
alunos do curso da Escola Bethel estavam estudando a Bíblia com o claro objetivo
de aprender o que ela ensinava a respeito do que exatamente evidenciava a
experiência de alguém fora batizado no Espírito. Aqueles alunos concluíram que
o livro de Atos ensina que o Batismo no Espírito Santo é acompanhado pelo falar
em línguas. Entenderam que aquela experiência tinha o objetivo de fortalecer os
crentes e capacitá-los a testemunhar eficazmente a respeito de Cristo. E é
significativo que esse reavivamento tenha se iniciado no contexto do estudo
bíblico e sua identidade teológica tenha recebido ali sua forma” (MENZIES, 19,
2020).
Foi no contexto do estudo teológico, no Colégio Bíblico Betel, que as
doutrinas pentecostais foram redescobertas e sistematizadas, porém, sua disseminação
se daria posteriormente por um servo de Deus chamado William
J. Seymour.
3.2. O Avivamento no País de Gales (1904):
Antes do grande avivamento da Rua Azusa (1906), o País de Gales havia
experimentado um avivamento nacional (1904) que chamou a atenção do mundo da
época e “exportou” o desejo por um avivamento para os quatro cantos da terra, chegando
nos EUA.
Um grande avivamento ocorreu no País de Gales em 1904, onde os crentes
foram batizados no Espírito Santo e, através desse derramamento, mais de 700
mil pessoas foram salvas. Houve manifestação dos dons espirituais
extraordinários e foi liderado pelo pr. Evan Roberts.
O avivamento do País de Gales despertou os crentes do mundo para a
necessidade de um avivamento. Tal despertamento chegou na igrejas
estadunidenses e, em especial, no Colégio Bíblico Betel. Foi ansiando experimentar
o avivamento que os crentes galeses experimentaram que os crentes
estadunidenses começaram a entender e a buscar o avivamento que mais tarde
seria derramado na Rua Azusa.
Frank Bartleman, crente contemporâneo do avivamento da Rua Azusa, faz o
seguinte relato sobre a influência do avivamento do País de Gales entre os
crentes do avivamento da Rua Azusa:
“Depois disso, passei muitos dias fazendo mais visitas e orando com
outros irmãos, e distribuía o folheto de G. Campbell Morgan, O Avivamento em
Gales, que tocava as pessoas profundamente”. (BARTLEMAN, pg 15, 2016).
Certamente, o avivamento em Gales despertou os crentes do mundo para um
avivamento universal.
3.3. O
Avivamento da Rua Azusa (1906 d.C):
Com o
derramamento do Espírito Santo na Escola Bíblica Betel, a doutrina bíblica do
Batismo no Espírito Santo com evidência externa imediata de falar em outras
línguas foi redescoberta e sistematizada. Porém, apesar de Parham e seus alunos
se dedicarem na divulgação desse ensinamento nos EUA, não foi com eles que o
Movimento Pentecostal ganhou notoriedade. O mundo só foi dar conta desse
movimento espiritual em 1906, por meio da instrumentalidade de William Joseph
Seymour, deflagrador do célebre Avivamento da Rua Azusa.
Seymour
aprendeu a doutrina do Batismo no Espírito Santo assistindo as aulas que Parham
ministrava no Colégio Bíblico Betel. Porém, como as leis de segregação racial nos
EUA ainda eram fortes nessa época, Seymour, pregador negro, não pode assistir
às aulas de dentro da sala, devido a determinações legais. Por isso, ele teve
que colocar uma cadeira no corredor, diante da porta da sala, e, dali, assistiu
atentamente a todas as aulas de Parham. Após o fim do curso, inflamado pelo que
aprendera, William J. Seymour passou a pregar a mensagem pentecostal.
Movido
pela chama pentecostal, Seymour foi para Los Angeles e lá começou a anunciar as
verdades pentecostais. Diante da recusa das igrejas históricas em aceitar as
doutrinas pentecostais, Seymour começou a pregar tais doutrinas em um salão
situado na Rua Azusa, em Los Angeles. A partir da Rua Azusa, Deus derramou seu
Espírito sobre os crentes e iniciou um grande avivamento que mudou o curso da
história da igreja.
Uma
testemunha ocular, Emma Cotton, relembrou aquela experiência:
“eles
clamaram três dias e três noites. As pessoas vinham de todas as partes. Perto
da manhã seguinte, não havia como entrar na casa. Conta-se que algumas pessoas
que conseguiam entrar na casa caíam sob o poder de Deus sem que houvesse alguém
que as sugestionassem a isso, e toda a cidade ficou agitada. Clamaram ali até o
chão da casa ceder, mas ninguém ficou ferido. Durante aqueles três dias, muitas
pessoas que tinham vindo só pra ver o que estava acontecendo receberam o
batismo no Espírito Santo. Os doentes ficaram curados e muitos aceitavam Jesus
ao entrarem na casa”.
Dentro
de poucos dias, a imprensa de Los Angeles tomou conhecimento sobre os cultos de
avivamento realizado na rua Azusa e publicou reportagens em jornais publicados
em todo mundo. Milhares de pessoas tomavam conhecimento do avivamento e eram
atraídos para os cultos da Azusa. Dentre as pessoas atraídas por este
avivamento, encontravam-se os missionários suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren,
além do italiano Luigi Francescon, fundadores da igreja Assembleia de Deus e
Cristã no Brasil, respectivamente.
William
Seymour foi o responsável por dar publicidade e prática a doutrina do batismo
no Espírito Santo com a evidência física inicial do falar em línguas. Sob sua
liderança, o pentecostalismo se tornou um fenômeno internacional e mundial.
4. O MOVIMENTO PENTECOSTAL CHEGA NO BRASIL
Dos EUA o avivamento da Rua Azusa chega no Brasil em
1910. Mas, antes de tratarmos do surgimento histórico das denominações pentecostais
no Brasil, é preciso entender as teorias que explicam o desenvolvimento
histórico/doutrinário do pentecostalismo brasileiro.
Considerando
o movimento pentecostal brasileiro no tempo, há três teorias mais utilizadas
para explicar o desenvolvimento histórico do movimento pentecostal brasileiro: Teoria das ondas; Teoria dos surtos e
Teoria das gerações.
Ø Teoria das ondas:
segundo essa teoria, o pentecostalismo brasileiro deve ser compreendido como a
história de três ondas de implantação de igrejas. A Primeira onda
ocorreu na década de 1910 com a chegada da Congregação Cristã no Brasil e em
1911 com a chegada da Assembléia de Deus. A segunda onda se deu nos anos
50 e início dos anos 60, na qual o campo pentecostal se fragmentou fazendo
surgir várias denominações, dentre elas: Quadrangular (1951), Brasil para
Cristo (1955) e Deus é Amor (1962). A terceira onda ocorreu no final dos
anos 70 e ganhou força nos anos 80. Seus principais representantes são a Igreja
Universal do Reino de Deus (1977) e a Igreja Internacional da Graça de Deus
(1980).
Ø Teoria dos surtos:
Segundo essa teoria, de tempo em tempo, apareceram repentinamente movimentos
que irromperam os ensinos tidos como pentecostais. Assim sendo, o primeiro
surto do pentecostalismo brasileiro aconteceu entre 1910/1911, trazendo
consigo as características do pentecostalismo do Batismo no Espírito Santo com
ênfase na doutrina da evidência física e imediata do falar em línguas. O segundo surto se deu nos anos 50 e
se caracterizou pela ênfase na cura divina e não mais no Batismo no Espírito
Santo. Os terceiro surto ocorreu na década de 1970 e se caracterizou
pela ênfase no dualismo (batalha espiritual entre Deus e diabo), pelo exorcismo
e libertação, e pela teologia da prosperidade.
Crítica às teorias das ondas e dos surtos: Essa teoria induz o estudante a perceber esses movimentos como fenômenos semelhantes, onde um foi recebendo as mesmas características do outro.
Ø Teoria das gerações:
Segundo essa teoria, o movimento pentecostal brasileiro contou com um processo
histórico e teológico que consolidou a formação de três gerações de expressões
do pentecostalismo. A primeira
geração possui como marco histórico a década de 1910, com a formação do
chamado pentecostalismo clássico através das igrejas Assembleia de Deus e
Congregação Cristã no Brasil, e se caracterizou pela ênfase no Batismo no
Espírito Santo com a evidência física e imediata do falar em línguas a fim de
cumprir um chamado missiológico. A segunda geração do pentecostalismo
brasileiro se deu na década de 1950, com a formação do deutoropentecostalismo
através da formação da Quadrangular (1951), Brasil para Cristo (1955) e Deus é
Amor (1962), é caracterizada pela ênfase na cura divina e não mais no falar em
línguas. A terceira geração nasceu na década de 1970, com o surgimento
do neopentecostalismo através das denominações Igreja Universal do Reino de
Deus (1977) e a Igreja Internacional da Graça de Deus (1980), e se caracteriza
pela ênfase no dualismo (batalha espiritual entre Deus e diabo), pelo exorcismo
e libertação, e pela teologia da prosperidade.
Desta
forma, o movimento pentecostal no Brasil se desenvolveu formando três gerações
de expressão do pentecostalismo:
a) Primeira
geração: Pentecostais Clássicos;
b)
Segunda geração: Deuteropentecostais;
c)
Terceira geração: Neopentecostais;
a) Congregação Cristã no Brasil
Em 1910, o italiano Luigi
Francescon, que em 1907 tinha sido batizado no Espírito Santo, vem ao Brasil
com a intenção de divulgar as doutrinas pentecostais nas colônias italianas no
Brasil. O resultado dessa missão foi a inauguração da Congregação Cristã no
Brasil. Após a inauguração da CCB, Luigi Francescon retornou a Itália a fim
ajudar na implementação da Igreja Assembléia de Deus naquele país. Francescon
nunca exerceu, de maneira eclesiástica, uma liderança ininterrupta na CCB, pois
seu chamado sempre foi missiológico (teve no Brasil apenas 10 vezes durante sua
vida).
A
Congregação Cristã no Brasil tem sua origem num ambiente teológico onde a
predestinação reformada predomina. Por isso, sempre houve profecias que davam
conta de que Deus lhes enviaria as pessoas que haveriam de se salvar. Foi por
isso que a CCB não mantinha comunhão com outras denominações pentecostais e não
investiu na evangelização em massa.
b) Assembléia de Deus
Em 1910, os
missionários suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren, batizados no Espírito santo
em Chicaco (EUA) em 1909, atracaram em Belém do Pará e começaram a divulgar a
mensagem pentecostal entre os brasileiros. Como fruto pelos trabalhos
realizados, os missionários suecos fundaram em 1911 a Igreja Missão da fé apostólica, na casa de Celina
Albuquerque (a primeira assembleiana a ser batizada no Espírito Santo). Só em
meados de 1917 é que a igreja fundada por Daniel Berg e Gunnar Vingren passou a
se chamar Assembléia de Deus.
A Igreja
Assembléia de Deus no Brasil, desde sua fundação, sempre manteve ligação com o
movimento pentecostal americano, sofrendo influências deste movimento.
Devido
à postura arminiana assumida pela Assembléia de Deus do Brasil, essa
denominação é a que mais cresceu dentro do movimento pentecostal e, por isso,
virou a maior representante do pentecostalismo brasileiro. Isso se deve ao fato
de assumir uma posição teológica que possui uma visão pré-tribulacionista, da
expiação ilimitada e da condicionalidade da salvação, unida a visão
missiológica própria do pentecostalismo.
Os
pentecostais de primeira geração são chamados, também, de pentecostais
clássicos.
4.2. Movimento de Renovação carismática
dentro da Convenção Batista (1941):
Foi um
movimento renovacionista iniciado em 1941 por João Rego do Nascimento, fundador
da Igreja Batista Lagoinha, dentre outros pastores. A proposta do movimento era
que as igrejas batistas do Brasil passassem a aderir a doutrina pentecostal do
continuísmo a fim de produzir uma renovação espiritual entre os batistas.
Contudo,
a Convenção Batista Brasileira rejeitou a proposta do movimento de renovação
espiritual e desligou 32 igrejas batistas que aderiram a doutrina pentecostal
do Batismo no Espírito Santo. Em 1967 as igrejas batistas que aderiram ao
movimento renovacionista criaram a Convenção Batista Nacional e, hoje, forma a
maior convenção batista do Brasil, ultrapassando, em número de membros e
igrejas, a Convenção Batista Brasileira.
4.3. Segunda geração do pentecostalismo no
Brasil (1950 – 1960):
A
segunda geração é marcada pelo surgimento do deutoropentecostalismo (deutero=segundo),
esta geração é marcada pelo surgimento de denominações que enfatizavam a cura
divina, milagres e maravilhas em seus cultos. O foco dessas denominações era o
conforto físico de seus membros e a experiência pessoal e direta com Deus
através do Batismo no Espírito Santo. Para os deuteropentecostais, o dom da
cura é sua ênfase. Dentre as várias denominações que se encaixam nessa geração,
destaca-se a igreja Quadrangular (1951), que em sua fundação se chamava
“Cruzada Nacional de Evangelização”; Igreja Evangélica Pentecostal O Brasil
para Cristo (1955), fundada por Manoel de Mello, originário da Assembléia de
Deus e ordenado pastor pela Quadrangular; Igreja Pentecostal Nova Vida (1960),
dela, mais tarde, sai Edir Macedo e R.R. Soares para iniciarem a terceira
geração; Igreja Pentecostal Deus é Amor (1962), fundada por David Miranda,
oriundo da Igreja Pentecostal O Brasil para Cristo; Igreja Metodista Wesleyana
(1967).
4.4. Terceira geração do pentecostalismo
no Brasil (1970-1980):
A
terceira geração é marcada pelo surgimento do neopentecostalismo. Esta geração
é marcada pela ênfase no dualismo (batalha espiritual entre Deus e diabo), pelo
exorcismo e libertação, e pela teologia da prosperidade ou confissão positiva.
Dentre as principais denominações neopentecostais, destaca-se a Igreja
Universal do Reino de Deus (1977), fundada por Edir Macedo e R. R. Soares,
oriundos da igreja pentecostal Nova Vida; Igreja Internacional da Graça de Deus
(1980), fundada por R. R. Soares; e a Igreja Renascer em Cristo (1986).
4.5. Pseudopentecostalismo (1990):
O
Pseudopentecostalismo é um fenômeno de deterioração do movimento
neopentecostal. As igrejas neopentecostais já mantinham uma certa distância
doutrinária e teológica das igrejas pentecostais clássicas, contudo, a partir
de 1990 as denominações neopentecostais se aprofundaram em um sincretismo
religioso e em uma teologia da prosperidade completamente antibíblica. Passaram
a aderir a diversas práticas antagônicas ao pentecostalismo clássico e se
caracterizando pelo misticismo sincrético. Dentre as diversas denominações,
destacam-se a Igreja Universal do Reino de Deus; Igreja Internacional da Graça
de Deus; Igreja Mundial do Poder de Deus e Igreja Apostólica Plenitude da
Graça.
Hoje,
existem historiadores que defende que vivemos na era do pós-pentecostalismo.
5. A
CHAMA PENTECOSTAL ALCANÇA BELO HORIZONTE ATRAVÉS DA ADMG
Primeiramente,
cumpre registrar que não foi a ADMG (Assembléia de Deus no Estado de Minas Gerais)
a primeira igreja pentecostal em Belo Horizonte. Porém, o pentecostalismo ficou
mais forte em BH no período de desenvolvimento da ADMG que, com os esforços de
seus fundadores, espalharam a chama pentecostal, inicialmente, por Belo
Horizonte (Barreiro) e, hoje, já alcançou povos de outros países.
A ADMG
foi fundada em 1972, por meio da liderança do pr. Nei Silva. No entanto, foi
através do ministério do saudoso pr. Clovis Affonso da Costa, que assumiu a presidência
da ADMG em 1985, que a igreja em Belo Horizonte se desenvolveu de maneira mais evidente.
Através do ministério do pr. Clovis Affonso da Costa, gerações foram impactadas
pela verdade do evangelho e pela chama pentecostal, sendo o autor desse artigo
fruto do trabalho do saudoso pastor Clóvis.
Hoje a
ADMG é presidida pelo pr. Clovis Affonso da Costa Junior que, nos mesmos passos
do pai, tem sido exemplo de liderança pentecostal para nossa geração.
6. DADOS DO PENTECOSTALISMO NO BRASIL E NO MUNDO
Conforme censo de 2010, ultimo realizado no Brasil, os dados são os
seguintes:
Ø
existem, hoje, cerca de 45 milhões de
pentecostais no Brasil, sendo o maior ramo do cristianismo no Brasil;
Ø
atualmente, são 630 milhões de pentecostais no
mundo, correspondendo a 70% dos crentes protestantes.
7. O PERIGO DOS “PENTECOSTAIS TEÓRICOS/NOMINAIS”
Atualmente, com a crescente divulgação da teologia pentecostal, muitos estão
conhecendo teoricamente as doutrinas pentecostais, porém, devemos ficar atentos
quanto ao perigo do chamado pentecostalismo teórico.
O pentecostalismo teórico é um fenômeno de redução das doutrinas
pentecostais ao campo da teoria/academia. Em outras palavras, corremos o risco
de ter um conhecimento teórico das doutrinas pentecostais e, no entanto, jamais
experimentá-las. Muitos supervalorizam a teoria pentecostal e se esquecem que o
movimento pentecostal é mais do que um conjunto de doutrinas sistematizadas, é
uma experiência genuína e direta com o Espírito Santo.
Muitos pentecostais possuem uma ortodoxia pentecostal (conhecimento
correto sobre as doutrinas pentecostais), porém não possuem uma ortopraxia (atitude
ou experiência correta) e ortopatia (sentimento correto) igualmente pentecostais.
Não basta assimilarmos intelectualmente as verdades pentecostais, é
preciso que a chama pentecostal arda no nosso peito, é preciso viver e
experimentar as verdades pentecostais.
8. CONCLUSÃO
O movimento pentecostal moderno moldou o protestantismo atual e, hoje,
corresponde a 70%, aproximadamente, dos crentes protestantes no mundo. Dessa
forma, para que possamos manter acessa a chama pentecostal, precisamos relembrar
a nossa história a fim de que possamos buscar conscientemente o avivamento
pentecostal.
Para citar as palavras de Frank Bartleman, para que venha um avivamento:
“Nosso coração sempre precisa de muita preparação, em humildade e separação, antes que Deus possa vir de forma persistente. A profundidade de qualquer avivamento será determinada precisamente pela profundidade do espírito de arrependimento que o produziu. É essa, aliás, a chave de todo avivamento verdadeiramente nascido de Deus” (Bartleman, pg. 14, 2016).
Todo avivamento carismático é precedido de um avivamento moral!
Pb. Diego Natanael
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9. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Araujo, Isael de. História do movimento
pentecostal no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2016.
BRASIL, Sociedade Bíblica do. BÍBLIA -
CINQUENTENÁRIO DA IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLÉIA DE DEUS, 1.ed. Belo
Horizonte: SBB, 2022.
Bartleman, Frank. A história do avivamento
Azusa. 3.ed. São Paulo: Impacto Publicações, 2016.
Carvalho, César Moisés. Pentecostalismo e
Pós-modernidade. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2017.
Menzies, William W. No poder do Espírito: Fundamentos da teologia pentecostal. Rio Grande do Norte: Editora Carisma, 2020.
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Este artigo serve de material de apoio para a revista de escola dominical da Betel:
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