AS RAÍZES DO PENTECOSTALISMO NO BRASIL

AS RAÍZES DO PENTECOSTALISMO NO BRASIL

Por Diego Natanael

 

INTRODUÇÃO

A história da Igreja nos revela que Deus sempre está disposto a “avivar sua obra” (Hc 3.2) e, baseado nessa vontade imutável, Deus nunca sonegou seu Espírito e seus dons a Igreja. O avivamento é uma necessidade permanente da Igreja de Cristo, que, de tempos em tempos, passa por um engessamento de sua eclesiologia e, desta forma, sucumbe a atrofia espiritual e missional. Neste contexto, o avivamento vem para mexer com as estruturas do comodismo espiritual da igreja, pois quando a igreja tem contato com a “Dunamis” (gr. Dynamus), poder de Deus, ela experimenta uma explosão espiritual que culmina no aparecimento dos dons espirituais em abundância.

O avivamento sempre é um evento centrífugo, pois surge no interior da igreja, mexendo com suas estruturas, dinamizando-a, enchendo-a de poder, distribuindo dons espirituais em abundância para, depois, comissioná-la para fora, a fim pregar o evangelho a toda criatura.

O movimento pentecostal moderno surgiu em um contexto de necessidade eclesiástica de um genuíno avivamento centrifugo, que abalasse as estruturas internas da igreja e a impulsionasse para fora do seu comodismo litúrgico engessado no templo. O avivamento da Rua Azusa foi um movimento divino de revestimento de poder da igreja a fim de dinamizá-la e, assim, alcançar as almas que não tinham sido alcançadas pelo comodismo racionalista das igrejas históricas/reformadas.

Se outrora, no início do século XX, a igreja precisou de um avivamento, muito mais hoje. Atualmente, vivemos um processo de secularização da igreja promovido por movimentos influenciados pelo pós-modernismo de nosso tempo. A relativização da verdade tem feito com que cada pessoa tenha um cristianismo pessoal e moldado conforme suas convicções; o hedonismo tem corrompido a eclesiologia e, portanto, a liturgia da igreja ao ponto de os cultos de adoração serem substituídos por eventos de performance e de entretenimento; a pregação do evangelho tem sido substituída pelo triunfalismo da teologia da prosperidade, teologia esta filha da pós-modernidade; a visão missional bíblica que transforma o homem está sendo substituída por um evangelho inclusivo que aceita o pecador junto com seu pecado; por fim, o propósito doxológico da igreja está sendo substituído por uma heterodoxologia.

Dessa forma, a igreja moderna precisa urgentemente buscar por um avivamento produzido pelo Espírito Santo a fim de que possa continuar pregando o evangelho de poder. Para tanto, a busca por um avivamento deve ser um processo consciente, que passa pela compreensão do passado com vistas para o futuro. Assim, sendo, precisamos entender a nossa história pentecostal a fim de que possamos preservá-la e buscar pelo avivamento que nossos pais pentecostais fundadores experimentaram no início do século XX.

Como Robert Menzies, teólogo pentecostal, escreveu, pentecostes: essa história é a nossa história!

1. O QUE É O PENTECOSTALISMO?

O Pentecostalismo é um movimento religioso, histórico e sociológico, de renovação de dentro do cristianismo que dá ênfase especial numa experiência direta e pessoal com Deus através do Batismo no Espírito Santo. O termo “pentecostal” é derivado da palavra “Pentecostes”, um termo grego que descreve a festa judaica das semanas. Para os cristãos, este evento comemora a descida do Espírito Santo sobre os crentes primitivos, conforme descrito em Atos 2.

Pentecostes, em grego “pentekostos” (cinquenta), era um feriado anual judaico, também conhecido como a festa das semanas ou festa dos primeiros frutos da colheita. Ela é celebrada cinquenta dias depois da Páscoa.

Conforme descreve César Moisés, em sua obra “Pentecostalismo e Pós-modernidade, o termo pentecoste foi ressignificado:

“Passados 15 longos séculos, o Pentecoste deixou de ser apenas uma festividade litúrgica e entrou no cenário histórico do cristianismo, como a fundação da igreja (Atos 2.1-13). Nesse dia a profecia do profeta Joel sobre a efusão espiritual que seria estabelecida nos últimos dias (Joel 2.28-32) teve o seu cumprimento inaugural, visto tratar-se de uma profecia milenar, permanecente e destinada a uma dispensação” (MOISÉS, pg. 73, 2017).

Dessa forma, o evento Pentecoste de Atos 2 constitui em um evento inaugural, paradigmático e programático, haja vista que a partir de então, a igreja de Cristo experimentaria continuamente o derramar do Espírito. Sendo Assim, o movimento pentecostal moderno se funda na fé de que a história do pentecoste (Atos 2) é a nossa história, ou seja, o derramamento do Espírito Santo experimentado pela igreja primitiva está disponível para todos os crentes e em todas as épocas. Por isso, o movimento que surgiu a partir do avivamento da Rua Azusa passou a se chamar movimento pentecostal, por sua identificação com o evento do Pentecostes do primeiro século (Atos2).

O Movimento Pentecostal se caracteriza, portanto, por crer:

1. Que a experiência do Batismo no Espírito Santo está disponível a todos os salvos;

2. No Batismo no Espírito Santo como uma experiência distinta e posterior à Regeneração;

3. Na contemporaneidade de todos os dons espirituais;

4. No falar em línguas estranhas como evidência física inicial obrigatória;

5. Que o Batismo no Espírito Santo possui natureza capacitatória a fim de ajudar a Igreja no processo de evangelização.

2. OS 4 PONTOS DO PENTECOSTALSIMO, A PROTO CONFISSÃO DE FÉ DO PENTEOCSTALISMO CLÁSSICO

Muitos teólogos reformados acusam o movimento pentecostal de não possuir uma identidade teológica, mas será que eles têm razão?

Desde seu surgimento, o movimento pentecostal clássico estabeleceu um padrão doutrinário que fixou sua identidade teológica dentro do protestantismo. A base teológica e doutrinaria do Pentecostalismo se consubstancia no chamado “evangelho quadrilátero” que se resume na famosa confissão de fé:

 Só Jesus salva, cura, batiza no Espírito Santo e breve voltará!

Esta declaração de fé era a base da mensagem pentecostal clássica no seu surgimento e continua sendo até os dias de hoje.

Esta confissão de fé revela a base doutrinária do Pentecostalismo e a principal característica desta base doutrinária é a sua mensagem cristocêntrica, evidenciando o papel do Espírito Santo, no seio do movimento pentecostal, de nos revelar Cristo – Jo 16:13-14.

A base doutrinária e, portanto, teológica do pentecostalismo é composta de 4 verdade ou pontos bíblicos, quais sejam: 1) Jesus salva; 2) Jesus cura; 3) Jesus batiza no Espírito Santo; 4) Jesus breve vem.

Só Jesus Salva: Ao pronunciar esta frase, o pentecostal deseja enfatizar que a salvação não pode ser adquirida pelos esforços pessoais do pecador, mas sim pela obra expiatória de Jesus. Desta forma, o movimento pentecostal sempre creu e pregou a salvação pela graça de Deus, condicionada unicamente a fé ao arrependimento do pecador. Igualmente, o movimento pentecostal clássico, ao dizer que só Jesus salva, tinha em mente os 5 solas da reforma protestante, quais sejam: somente a graça, somente a fé, somente Cristo, somente as Escrituras e somente a Deus toda a glória. Não menos importante, o pentecostalismo sempre creu na expiação ilimitada, ensinando que Jesus morreu por todos os homens.

Só Jesus cura: Desde o início, o movimento pentecostal enfatizava que Jesus ainda curava os doentes através dos crentes fiéis. A expressão “só Jesus cura” revela que o pentecostalismo clássico sempre creu na contemporaneidade dos dons espirituais e, portanto, o movimento pentecostal sempre foi continuísta.

Só Jesus batiza no Espírito Santo: Para o pentecostalismo clássico, o batismo no Espírito Santo é uma experiência disponível apenas para os salvos por Cristo e que esta experiência é um revestimento de poder destinado a capacitar a Igreja a cumprir seu papel missiológico. O movimento pentecostal sempre ensinou que o batismo no Espírito Santo é uma experiência distinta e posterior a regeneração, ou seja, o revestimento de poder é uma experiência diferente da regeneração e que acontece em momento posterior a regeneração do pecador. Esta crença é chamada de doutrina da subsequência do batismo no Espírito Santo.

Jesus breve vem: O movimento pentecostal clássico sempre adotou o dispensacionalismo como a sua forma de entender o plano de salvação elaborado por Deus. Assim sendo, o pentecostalismo clássico sempre creu na doutrina da iminência do arrebatamento, ou seja, o movimento pentecostal sempre creu que a volta de Jesus é iminente e que, portanto, Jesus pode voltar a qualquer momento. Em decorrência da crença na iminência do arrebatamento, o pentecostalismo adotou a doutrina do Pré-tribulacionismo, crendo que o arrebatamento da Igreja se dará antes do início da grande tribulação.

3. HISTÓRIA DO MOVIMENTO PENTECOSTAL MODERNO

O Movimento Pentecostal Moderno surgiu no início do século XX, porém, seu surgimento se deu por influência de movimentos protestantes anteriores ao século XX. Desta forma, é possível dizer que a causa eficiente do avivamento que deu início ao movimento pentecostal moderno é o Espírito Santo, porém, o avivamento da Rua Azusa foi o ápice de um movimento do Espírito que perpassa por várias tradições protestantes e que culmina na Rua Azusa.

3.1. Colégio Bíblico Betel (1901 d.C):

O movimento pentecostal clássico traça sua origem nas aulas do Colégio Bíblico Betel, na cidade de Topeka, no estado do Kansas, nos EUA. Liderados por Charles Fox Parham, professor e pastor ligado ao movimento de santidade, o grupo chegou à conclusão de que falar em línguas estranhas era o sinal bíblico do batismo no Espírito Santo. Dentre os alunos de Charles Parham, encontrava-se o pregador do movimento de santidade William J. Seymour que influenciado pelas conclusões de Parham, viajou para Los Angeles, onde deu início ao conhecido avivamento da Rua Azusa em 1906.

Parham é responsável pela consolidação da doutrina do batismo no Espírito Santo, tendo como evidência física inicial o falar em línguas. Parham orou para a irmã Agnes (01/01/1901), com imposição de mãos, a fim de esta recebesse o Batismo no Espírito Santo e, imediatamente, a irmã Agnes foi batizada no Espírito Santo e falou em línguas.

Robert Menzies, em seu livro “No poder do Espírito”, expõe a importância do Colégio Bíblico Betel para a formação do movimento pentecostal:

“Os alunos do curso da Escola Bethel estavam estudando a Bíblia com o claro objetivo de aprender o que ela ensinava a respeito do que exatamente evidenciava a experiência de alguém fora batizado no Espírito. Aqueles alunos concluíram que o livro de Atos ensina que o Batismo no Espírito Santo é acompanhado pelo falar em línguas. Entenderam que aquela experiência tinha o objetivo de fortalecer os crentes e capacitá-los a testemunhar eficazmente a respeito de Cristo. E é significativo que esse reavivamento tenha se iniciado no contexto do estudo bíblico e sua identidade teológica tenha recebido ali sua forma” (MENZIES, 19, 2020).

Foi no contexto do estudo teológico, no Colégio Bíblico Betel, que as doutrinas pentecostais foram redescobertas e sistematizadas, porém, sua disseminação se daria posteriormente por um servo de Deus chamado William J. Seymour.

3.2. O Avivamento no País de Gales (1904):

Antes do grande avivamento da Rua Azusa (1906), o País de Gales havia experimentado um avivamento nacional (1904) que chamou a atenção do mundo da época e “exportou” o desejo por um avivamento para os quatro cantos da terra, chegando nos EUA.

Um grande avivamento ocorreu no País de Gales em 1904, onde os crentes foram batizados no Espírito Santo e, através desse derramamento, mais de 700 mil pessoas foram salvas. Houve manifestação dos dons espirituais extraordinários e foi liderado pelo pr. Evan Roberts.

O avivamento do País de Gales despertou os crentes do mundo para a necessidade de um avivamento. Tal despertamento chegou na igrejas estadunidenses e, em especial, no Colégio Bíblico Betel. Foi ansiando experimentar o avivamento que os crentes galeses experimentaram que os crentes estadunidenses começaram a entender e a buscar o avivamento que mais tarde seria derramado na Rua Azusa.

Frank Bartleman, crente contemporâneo do avivamento da Rua Azusa, faz o seguinte relato sobre a influência do avivamento do País de Gales entre os crentes do avivamento da Rua Azusa:

Depois disso, passei muitos dias fazendo mais visitas e orando com outros irmãos, e distribuía o folheto de G. Campbell Morgan, O Avivamento em Gales, que tocava as pessoas profundamente”. (BARTLEMAN, pg 15, 2016).

Certamente, o avivamento em Gales despertou os crentes do mundo para um avivamento universal.

3.3. O Avivamento da Rua Azusa (1906 d.C):

Com o derramamento do Espírito Santo na Escola Bíblica Betel, a doutrina bíblica do Batismo no Espírito Santo com evidência externa imediata de falar em outras línguas foi redescoberta e sistematizada. Porém, apesar de Parham e seus alunos se dedicarem na divulgação desse ensinamento nos EUA, não foi com eles que o Movimento Pentecostal ganhou notoriedade. O mundo só foi dar conta desse movimento espiritual em 1906, por meio da instrumentalidade de William Joseph Seymour, deflagrador do célebre Avivamento da Rua Azusa.

Seymour aprendeu a doutrina do Batismo no Espírito Santo assistindo as aulas que Parham ministrava no Colégio Bíblico Betel. Porém, como as leis de segregação racial nos EUA ainda eram fortes nessa época, Seymour, pregador negro, não pode assistir às aulas de dentro da sala, devido a determinações legais. Por isso, ele teve que colocar uma cadeira no corredor, diante da porta da sala, e, dali, assistiu atentamente a todas as aulas de Parham. Após o fim do curso, inflamado pelo que aprendera, William J. Seymour passou a pregar a mensagem pentecostal.

Movido pela chama pentecostal, Seymour foi para Los Angeles e lá começou a anunciar as verdades pentecostais. Diante da recusa das igrejas históricas em aceitar as doutrinas pentecostais, Seymour começou a pregar tais doutrinas em um salão situado na Rua Azusa, em Los Angeles. A partir da Rua Azusa, Deus derramou seu Espírito sobre os crentes e iniciou um grande avivamento que mudou o curso da história da igreja.

Uma testemunha ocular, Emma Cotton, relembrou aquela experiência:

eles clamaram três dias e três noites. As pessoas vinham de todas as partes. Perto da manhã seguinte, não havia como entrar na casa. Conta-se que algumas pessoas que conseguiam entrar na casa caíam sob o poder de Deus sem que houvesse alguém que as sugestionassem a isso, e toda a cidade ficou agitada. Clamaram ali até o chão da casa ceder, mas ninguém ficou ferido. Durante aqueles três dias, muitas pessoas que tinham vindo só pra ver o que estava acontecendo receberam o batismo no Espírito Santo. Os doentes ficaram curados e muitos aceitavam Jesus ao entrarem na casa”.

Dentro de poucos dias, a imprensa de Los Angeles tomou conhecimento sobre os cultos de avivamento realizado na rua Azusa e publicou reportagens em jornais publicados em todo mundo. Milhares de pessoas tomavam conhecimento do avivamento e eram atraídos para os cultos da Azusa. Dentre as pessoas atraídas por este avivamento, encontravam-se os missionários suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren, além do italiano Luigi Francescon, fundadores da igreja Assembleia de Deus e Cristã no Brasil, respectivamente.

William Seymour foi o responsável por dar publicidade e prática a doutrina do batismo no Espírito Santo com a evidência física inicial do falar em línguas. Sob sua liderança, o pentecostalismo se tornou um fenômeno internacional e mundial.

4. O MOVIMENTO PENTECOSTAL CHEGA NO BRASIL

Dos EUA o avivamento da Rua Azusa chega no Brasil em 1910. Mas, antes de tratarmos do surgimento histórico das denominações pentecostais no Brasil, é preciso entender as teorias que explicam o desenvolvimento histórico/doutrinário do pentecostalismo brasileiro.

Considerando o movimento pentecostal brasileiro no tempo, há três teorias mais utilizadas para explicar o desenvolvimento histórico do movimento pentecostal brasileiro: Teoria das ondas; Teoria dos surtos e Teoria das gerações.

Ø  Teoria das ondas: segundo essa teoria, o pentecostalismo brasileiro deve ser compreendido como a história de três ondas de implantação de igrejas. A Primeira onda ocorreu na década de 1910 com a chegada da Congregação Cristã no Brasil e em 1911 com a chegada da Assembléia de Deus. A segunda onda se deu nos anos 50 e início dos anos 60, na qual o campo pentecostal se fragmentou fazendo surgir várias denominações, dentre elas: Quadrangular (1951), Brasil para Cristo (1955) e Deus é Amor (1962). A terceira onda ocorreu no final dos anos 70 e ganhou força nos anos 80. Seus principais representantes são a Igreja Universal do Reino de Deus (1977) e a Igreja Internacional da Graça de Deus (1980).

Ø  Teoria dos surtos: Segundo essa teoria, de tempo em tempo, apareceram repentinamente movimentos que irromperam os ensinos tidos como pentecostais. Assim sendo, o primeiro surto do pentecostalismo brasileiro aconteceu entre 1910/1911, trazendo consigo as características do pentecostalismo do Batismo no Espírito Santo com ênfase na doutrina da evidência física e imediata do falar em línguas.  O segundo surto se deu nos anos 50 e se caracterizou pela ênfase na cura divina e não mais no Batismo no Espírito Santo. Os terceiro surto ocorreu na década de 1970 e se caracterizou pela ênfase no dualismo (batalha espiritual entre Deus e diabo), pelo exorcismo e libertação, e pela teologia da prosperidade.

 Crítica às teorias das ondas e dos surtos: Essa teoria induz o estudante a perceber esses movimentos como fenômenos semelhantes, onde um foi recebendo as mesmas características do outro. 

Ø  Teoria das gerações: Segundo essa teoria, o movimento pentecostal brasileiro contou com um processo histórico e teológico que consolidou a formação de três gerações de expressões do pentecostalismo.  A primeira geração possui como marco histórico a década de 1910, com a formação do chamado pentecostalismo clássico através das igrejas Assembleia de Deus e Congregação Cristã no Brasil, e se caracterizou pela ênfase no Batismo no Espírito Santo com a evidência física e imediata do falar em línguas a fim de cumprir um chamado missiológico. A segunda geração do pentecostalismo brasileiro se deu na década de 1950, com a formação do deutoropentecostalismo através da formação da Quadrangular (1951), Brasil para Cristo (1955) e Deus é Amor (1962), é caracterizada pela ênfase na cura divina e não mais no falar em línguas. A terceira geração nasceu na década de 1970, com o surgimento do neopentecostalismo através das denominações Igreja Universal do Reino de Deus (1977) e a Igreja Internacional da Graça de Deus (1980), e se caracteriza pela ênfase no dualismo (batalha espiritual entre Deus e diabo), pelo exorcismo e libertação, e pela teologia da prosperidade.

Desta forma, o movimento pentecostal no Brasil se desenvolveu formando três gerações de expressão do pentecostalismo:

a) Primeira geração: Pentecostais Clássicos;

b) Segunda geração: Deuteropentecostais;

c) Terceira geração: Neopentecostais;


4.1. Primeira geração do pentecostalismo no Brasil (1910 – 1911):

a) Congregação Cristã no Brasil

Em 1910, o italiano Luigi Francescon, que em 1907 tinha sido batizado no Espírito Santo, vem ao Brasil com a intenção de divulgar as doutrinas pentecostais nas colônias italianas no Brasil. O resultado dessa missão foi a inauguração da Congregação Cristã no Brasil. Após a inauguração da CCB, Luigi Francescon retornou a Itália a fim ajudar na implementação da Igreja Assembléia de Deus naquele país. Francescon nunca exerceu, de maneira eclesiástica, uma liderança ininterrupta na CCB, pois seu chamado sempre foi missiológico (teve no Brasil apenas 10 vezes durante sua vida).

A Congregação Cristã no Brasil tem sua origem num ambiente teológico onde a predestinação reformada predomina. Por isso, sempre houve profecias que davam conta de que Deus lhes enviaria as pessoas que haveriam de se salvar. Foi por isso que a CCB não mantinha comunhão com outras denominações pentecostais e não investiu na evangelização em massa.

b) Assembléia de Deus

Em 1910, os missionários suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren, batizados no Espírito santo em Chicaco (EUA) em 1909, atracaram em Belém do Pará e começaram a divulgar a mensagem pentecostal entre os brasileiros. Como fruto pelos trabalhos realizados, os missionários suecos fundaram em 1911 a Igreja Missão da fé apostólica, na casa de Celina Albuquerque (a primeira assembleiana a ser batizada no Espírito Santo). Só em meados de 1917 é que a igreja fundada por Daniel Berg e Gunnar Vingren passou a se chamar Assembléia de Deus.

A Igreja Assembléia de Deus no Brasil, desde sua fundação, sempre manteve ligação com o movimento pentecostal americano, sofrendo influências deste movimento.

Devido à postura arminiana assumida pela Assembléia de Deus do Brasil, essa denominação é a que mais cresceu dentro do movimento pentecostal e, por isso, virou a maior representante do pentecostalismo brasileiro. Isso se deve ao fato de assumir uma posição teológica que possui uma visão pré-tribulacionista, da expiação ilimitada e da condicionalidade da salvação, unida a visão missiológica própria do pentecostalismo.

Os pentecostais de primeira geração são chamados, também, de pentecostais clássicos.

4.2. Movimento de Renovação carismática dentro da Convenção Batista (1941):

Foi um movimento renovacionista iniciado em 1941 por João Rego do Nascimento, fundador da Igreja Batista Lagoinha, dentre outros pastores. A proposta do movimento era que as igrejas batistas do Brasil passassem a aderir a doutrina pentecostal do continuísmo a fim de produzir uma renovação espiritual entre os batistas.

Contudo, a Convenção Batista Brasileira rejeitou a proposta do movimento de renovação espiritual e desligou 32 igrejas batistas que aderiram a doutrina pentecostal do Batismo no Espírito Santo. Em 1967 as igrejas batistas que aderiram ao movimento renovacionista criaram a Convenção Batista Nacional e, hoje, forma a maior convenção batista do Brasil, ultrapassando, em número de membros e igrejas, a Convenção Batista Brasileira.

4.3. Segunda geração do pentecostalismo no Brasil (1950 – 1960):

A segunda geração é marcada pelo surgimento do deutoropentecostalismo (deutero=segundo), esta geração é marcada pelo surgimento de denominações que enfatizavam a cura divina, milagres e maravilhas em seus cultos. O foco dessas denominações era o conforto físico de seus membros e a experiência pessoal e direta com Deus através do Batismo no Espírito Santo. Para os deuteropentecostais, o dom da cura é sua ênfase. Dentre as várias denominações que se encaixam nessa geração, destaca-se a igreja Quadrangular (1951), que em sua fundação se chamava “Cruzada Nacional de Evangelização”; Igreja Evangélica Pentecostal O Brasil para Cristo (1955), fundada por Manoel de Mello, originário da Assembléia de Deus e ordenado pastor pela Quadrangular; Igreja Pentecostal Nova Vida (1960), dela, mais tarde, sai Edir Macedo e R.R. Soares para iniciarem a terceira geração; Igreja Pentecostal Deus é Amor (1962), fundada por David Miranda, oriundo da Igreja Pentecostal O Brasil para Cristo; Igreja Metodista Wesleyana (1967).

4.4. Terceira geração do pentecostalismo no Brasil (1970-1980):

A terceira geração é marcada pelo surgimento do neopentecostalismo. Esta geração é marcada pela ênfase no dualismo (batalha espiritual entre Deus e diabo), pelo exorcismo e libertação, e pela teologia da prosperidade ou confissão positiva. Dentre as principais denominações neopentecostais, destaca-se a Igreja Universal do Reino de Deus (1977), fundada por Edir Macedo e R. R. Soares, oriundos da igreja pentecostal Nova Vida; Igreja Internacional da Graça de Deus (1980), fundada por R. R. Soares; e a Igreja Renascer em Cristo (1986).

4.5. Pseudopentecostalismo (1990):

O Pseudopentecostalismo é um fenômeno de deterioração do movimento neopentecostal. As igrejas neopentecostais já mantinham uma certa distância doutrinária e teológica das igrejas pentecostais clássicas, contudo, a partir de 1990 as denominações neopentecostais se aprofundaram em um sincretismo religioso e em uma teologia da prosperidade completamente antibíblica. Passaram a aderir a diversas práticas antagônicas ao pentecostalismo clássico e se caracterizando pelo misticismo sincrético. Dentre as diversas denominações, destacam-se a Igreja Universal do Reino de Deus; Igreja Internacional da Graça de Deus; Igreja Mundial do Poder de Deus e Igreja Apostólica Plenitude da Graça.

Hoje, existem historiadores que defende que vivemos na era do pós-pentecostalismo.

5. A CHAMA PENTECOSTAL ALCANÇA BELO HORIZONTE ATRAVÉS DA ADMG

Primeiramente, cumpre registrar que não foi a ADMG (Assembléia de Deus no Estado de Minas Gerais) a primeira igreja pentecostal em Belo Horizonte. Porém, o pentecostalismo ficou mais forte em BH no período de desenvolvimento da ADMG que, com os esforços de seus fundadores, espalharam a chama pentecostal, inicialmente, por Belo Horizonte (Barreiro) e, hoje, já alcançou povos de outros países.

A ADMG foi fundada em 1972, por meio da liderança do pr. Nei Silva. No entanto, foi através do ministério do saudoso pr. Clovis Affonso da Costa, que assumiu a presidência da ADMG em 1985, que a igreja em Belo Horizonte se desenvolveu de maneira mais evidente. Através do ministério do pr. Clovis Affonso da Costa, gerações foram impactadas pela verdade do evangelho e pela chama pentecostal, sendo o autor desse artigo fruto do trabalho do saudoso pastor Clóvis.

Hoje a ADMG é presidida pelo pr. Clovis Affonso da Costa Junior que, nos mesmos passos do pai, tem sido exemplo de liderança pentecostal para nossa geração.

6. DADOS DO PENTECOSTALISMO NO BRASIL E NO MUNDO

Conforme censo de 2010, ultimo realizado no Brasil, os dados são os seguintes:


Ø  existem, hoje, cerca de 45 milhões de pentecostais no Brasil, sendo o maior ramo do cristianismo no Brasil;

Ø   atualmente, são 630 milhões de pentecostais no mundo, correspondendo a 70% dos crentes protestantes.

7. O PERIGO DOS “PENTECOSTAIS TEÓRICOS/NOMINAIS”

Atualmente, com a crescente divulgação da teologia pentecostal, muitos estão conhecendo teoricamente as doutrinas pentecostais, porém, devemos ficar atentos quanto ao perigo do chamado pentecostalismo teórico.

O pentecostalismo teórico é um fenômeno de redução das doutrinas pentecostais ao campo da teoria/academia. Em outras palavras, corremos o risco de ter um conhecimento teórico das doutrinas pentecostais e, no entanto, jamais experimentá-las. Muitos supervalorizam a teoria pentecostal e se esquecem que o movimento pentecostal é mais do que um conjunto de doutrinas sistematizadas, é uma experiência genuína e direta com o Espírito Santo.

Muitos pentecostais possuem uma ortodoxia pentecostal (conhecimento correto sobre as doutrinas pentecostais), porém não possuem uma ortopraxia (atitude ou experiência correta) e ortopatia (sentimento correto) igualmente pentecostais.

Não basta assimilarmos intelectualmente as verdades pentecostais, é preciso que a chama pentecostal arda no nosso peito, é preciso viver e experimentar as verdades pentecostais.

8. CONCLUSÃO

O movimento pentecostal moderno moldou o protestantismo atual e, hoje, corresponde a 70%, aproximadamente, dos crentes protestantes no mundo. Dessa forma, para que possamos manter acessa a chama pentecostal, precisamos relembrar a nossa história a fim de que possamos buscar conscientemente o avivamento pentecostal.

Para citar as palavras de Frank Bartleman, para que venha um avivamento:

Nosso coração sempre precisa de muita preparação, em humildade e separação, antes que Deus possa vir de forma persistente. A profundidade de qualquer avivamento será determinada precisamente pela profundidade do espírito de arrependimento que o produziu. É essa, aliás, a chave de todo avivamento verdadeiramente nascido de Deus” (Bartleman, pg. 14, 2016).

Todo avivamento carismático é precedido de um avivamento moral!

Pb. Diego Natanael

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9. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

Araujo, Isael de. História do movimento pentecostal no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2016.

BRASIL, Sociedade Bíblica do. BÍBLIA - CINQUENTENÁRIO DA IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLÉIA DE DEUS, 1.ed. Belo Horizonte: SBB, 2022.

Bartleman, Frank. A história do avivamento Azusa. 3.ed. São Paulo: Impacto Publicações, 2016.

Carvalho, César Moisés. Pentecostalismo e Pós-modernidade. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2017.

Menzies, William W. No poder do Espírito: Fundamentos da teologia pentecostal. Rio Grande do Norte: Editora Carisma, 2020.

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Este artigo serve de material de apoio para a revista de escola dominical da Betel:

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