APOCALIPSE: UMA VISÃO PANORÂMICA
APOCALIPSE: UMA VISÃO PANORÂMICA
Pb.
Diego Natanael
INTRODUÇÃO
O
livro do Apocalipse, último livro do cânone das Escrituras, sempre foi envolto
em vários mistérios e debates quanto a sua mensagem. Para muitos, Apocalipse é
um livro desconhecido, pois deixam de lê-lo por medo ou por achar sua mensagem
de difícil interpretação. Fato é, o livro da Revelação é instigante e, ao mesmo
tempo, misterioso.
Nos
últimos anos, as pessoas voltaram sua atenção para as revelações contidas no
livro do apocalipse a fim de entenderem a situação pandêmica que o mundo vive
e, mais recentemente, a situação da guerra entre a Rússia e Ucrânia no plano
escatológico. Será que esta pandemia é uma evidência escatológica do fim do
mundo? Será que a recente guerra entre Rússia e Ucrânia possui um papel
escatológico?
A
resposta para estas perguntas passa, a priori, pela necessidade de
compreensão do livro do apocalipse, pois este livro escatológico é a base para
compreendermos as coisas que hão de acontecer.
Ademais,
precisamos estudar o livro do apocalipse a fim de evitar cair em erros
teológicos/doutrinários, pois muitas heresias surgiram e estão surgindo tendo
como base uma interpretação incorreta de apocalipse. Ensinos heterodoxos têm
surgido a fim de desviar a atenção da igreja das verdades escatológicas. Logo,
uma compreensão correta do livro do apocalipse é medida necessária para
combater as heresias.
Desta forma, o estudante do livro do apocalipse precisa buscar uma visão panorâmica do livro antes de adentrar nos detalhes. Assim sendo, nos próximos tópicos será exposto uma visão panorâmica do livro do apocalipse a fim de servir de base para o aprofundamento hermenêutico e exegético deste livro.
1) ESCATOLOGIA BÍBLICA E OS PRINCIPAIS EVENTOS ESCATOLÓGICOS
Um
termo que sempre aparece quando se aprofunda no estudo teológico do livro do
apocalipse é a palavra “Escatologia”. Mas, a final o significa este termo?
A
teologia sistemática procura entender as verdades bíblicas através da
sistematização dos temas bíblicos. Desta forma, quanto as verdades bíblicas
sobre as coisas futuras que, portanto, vão acontecer, a teologia sistemática separou
um ramo específico de estudo chamado escatologia.
A
palavra escatologia decorre da fusão de duas palavras gregas, quais sejam: “eschatos”
e “logia”. “eschatos” pode ser traduzido como último, derradeiro
ou final. Já “logia” pode ser traduzida como estudo, doutrina, palavra ou
coleta. Desta forma, escatologia significa o estudo das últimas coisas ou o
estudo das coisas que hão de acontecer.
A
escatologia busca entender todas as profecias escatológicas contidas na Bíblia,
incluindo o livro do apocalipse. Assim sendo, a escatologia bíblica é
ferramenta essencial para o entendimento das verdades expostas no livro da
Revelação.
Assim
sendo, o livro do apocalipse é um livro escatológico, pois se apresenta como um
livro revelacional profético que expõe fatos que aconteceram e, também, fatos
que hão de acontecer.
1.1)
Principais eventos escatológicos:
Os principais eventos escatológicos registrados pela Bíblia, especialmente em apocalipse, são (GILBERTO, Teologia Sistemática Pentecostal, pg. 487; 2017):
- Princípio das dores – Mt 24;
- Arrebatamento da Igreja – 1Ts 4.16,17; 1.10;
- Tribunal de Cristo – gr. Bema – Ap 22.12; 1Pe 5.4;
- A Grande Tribulação – Dn 9:25-27; Ap 6 e seguintes;
- Bodas do Cordeiro – Ap 19.1-9;
- A vinda de Jesus à Terra para a batalha do Armagedom – Zc 14.1-4; Ap 16.13-16; 17.14;
- O fim do império do Anticristo – Ap 19.19-21;
- O julgamento das nações – Jl 3.12-14; Mt 25.31-46;
- O Milênio – Ap 20.1-6;
- A revolta de Satanás e seu julgamento – Ap 20.7-10;
- O Juízo Final – Ap 20.11-15;
- Novos Céus e Nova Terra – Ap 21 e 22;
Estes
são os principais eventos escatológicos e que são tratados de forma detalhada
no livro do apocalipse.
2)
PRESCIÊNCIA E SOBERANIA DIVINA NO LIVRO DO APOCALIPSE
A
mensagem escatológica do livro do apocalipse evidência os atributos da
presciência e soberania divina. Pois, em suma, a maioria do texto apocalíptico
contém profecias que ainda não se cumpriram e, portanto, são profecias
escatológicas que só são possíveis pela presciência e soberania de Deus.
Em
outras palavras, o livro do apocalipse, assim como os demais textos
escatológicos, contém uma série de profecias do futuro, ou seja, Deus revela ao
homem fatos históricos que ainda não aconteceram, mas que irão acontecer, em um
futuro escatológico. Como Deus sabe de coisas que irão acontecer antes que
de fato elas aconteçam? Como Deus pode conhecer o futuro?
A
Bíblia nos revela um Deus onisciente e onipotente, ou seja, Deus possui
conhecimento perfeito de tudo, pois sendo a origem de tudo que pode ser conhecido,
Deus conhece perfeitamente a si próprio e, por conseguinte, Deus conhece todas
as coisas. Deus é incapaz de aprender, pois não existe nada que Deus não
conheça. Deus, também, tem todo o poder, ele detém poder absoluto, Deus é a
fonte de todo poder.
Da onisciência divina decorre sua presciência e da onipotência divina decorre sua soberania. A presciência divina é a capacidade de Deus conhecer o futuro antes dele acontecer, é o poder de Deus olhar para o futuro, e mais, é o poder de Deus viver o futuro antes mesmo dele acontecer para o homem. Já a soberania é um atributo que torna a vontade de Deus inquestionável e inoponível. Deus pode fazer o que bem desejar e ninguém pode se opor a vontade de Deus, pois ela é soberana.
Quanto a presciência, existem dois aspectos importante, a presciência pode ser constatativa e/ou determinativa. Por presciência constatativa entende-se que é a capacidade de Deus olhar para o futuro e apenas constatar tudo o que vai acontecer, sem, necessariamente, causar tudo o que irá acontecer. Já a presciência determinativa é a capacidade divina de Deus determinar certos acontecimentos que irão acontecer no futuro, desta forma, Deus conhece estes fatos não só porque olhou para o futuro, mas porque ele colocou estes fatos no futuro, ou seja, ele causou soberanamente estes fatos no futuro.
Mas,
qual a relação da presciência e soberania divina com a escatologia? Simples. Deus
sabe de coisas que irão acontecer antes que de fato elas aconteçam ou Deus conhece
o futuro, pois Ele é presciente e soberano. As profecias escatológicas
contidas na Bíblia são possíveis porque Deus conhece o futuro antes que ele de
fato aconteça para o homem.
Em
muitos casos, as profecias decorrem da presciência constatativa, onde Deus
avisa antecipadamente ao homem fatos que acontecerão em um futuro escatológico
que não foram predeterminados de forma absolutas por Deus, mas Deus viu que
tais fatos iriam acontecer, por exemplo: Mt 24:11,12 diz que surgirão falsos
profetas e o amor se esfriaria. Ora, tais fatos escatológicos não decorrem da
obra predeterminante de Deus, pois Deus não predestinou incondicionalmente as
pessoas para serem falsos profetas ou deixarem de amar. Neste caso, Deus olhou
passivamente para o futuro e constatou que isso aconteceria em decorrência da
corrupção generalizada da humanidade.
Mas,
existem profecias que decorrem da vontade predeterminante e soberana de Deus.
Não acreditamos que Deus predetermine soberana e incondicionalmente todas as
coisas, mas, cremos que ele predetermine muitas coisas. Neste contexto, existem
profecias que decorrem da presciência determinativa de Deus, ou seja, Deus
determinou incondicionalmente que tais fatos aconteceriam no futuro, Deus causa
estes acontecimentos escatológicos, ele colocou estes fatos no futuro. Exemplo:
A Grande Tribulação, o Arrebatamento, o Milênio, todos são fatos históricos que
irão inexoravelmente acontecer. Estes fatos escatológicos não somente foram
previstos por Deus, mas foram determinados por Ele, ou seja, Deus já determinou,
desde a eternidade passada, que tais fatos iriam acontecer e, portanto, Deus
causará tais fatos na história da humanidade.
Desta
forma, as profecias escatológicas são possíveis e seguras graças a presciência
e soberania de Deus. Estamos seguros de que tudo o que Deus disse que iria
acontecer irá, de fato, acontecer porque Deus é onisciente e onipotente e,
portanto, Ele não falha!
“Lembrai-vos
das coisas passadas desde a antiguidade; que eu sou Deus, e não há outro
Deus, não há outro semelhante a mim. Que anuncio o fim
desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam; que
digo: O meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade” (Is. 46.9,10).
“Vigiai,
pois, em todo o tempo, orando, para que sejais havidos por dignos de evitar
todas estas coisas que hão de acontecer, e de estar em pé diante do
Filho do homem” (Lc 21:36).
Deus
anuncia o fim desde o princípio. Vigiai!
3)
SOLA SCRIPTURA E A ESCATOLOGIA:
Quando
se fala de profecias escatológicas, muitas pessoas apresentam versões
heterodoxas daquilo que elas entendem que irão acontecer, tanto com a Igreja,
quanto com o mundo. A percepção escatológicas de muitas pessoas são baseadas na
experiência e em supostas revelações, mesmo quando tais experiências e
revelações não possuem fundamento bíblico. Isso é perigoso!
O
princípio do sola Scriptura (somente as Escrituras), princípio
proclamado pelos primeiros reformadores no início da reforma protestante, deve
ser levado a sério quando falamos de profecias escatológicas. Pois, o único
fundamento da nossa fé, incluindo nossa fé nas coisas que irão acontecer, deve
ser a Bíblia, somente a Bíblia. Experiências não determinam doutrinas,
revelações não podem ser contrárias a Palavra de Deus. Entre a experiência e a
Bíblia, prefira sempre a Palavra de Deus!
Não
podemos firmar nossas convicções escatológicas em achismos ou em revelações
extrabíblicas, pois a Bíblia é a nossa única fonte de fé e prática, sola
Scriptura. Todas as vezes que nos deparamos com um ensino escatológico,
devemos nos perguntar se tal ensino é bíblico, se possui fundamento nas
Sagradas Escrituras. Se sim, recebemos como verdade, porém, se não, devemos
rejeitá-lo prontamente.
O
escatólogo pentecostal Ciro S. Zibordi faz a seguinte advertência:
“Por
que Escatologia bíblica? São muitas as perguntas quanto ao futuro, mas não
podemos perder de vista a base para uma proveitosa análise das últimas coisas:
não ir além do que está escrito na Bíblia (Dt 29.29; 1Co 4.6). E isso não tira
o brilho do estudo escatológico. Embora o ser humano seja obcecado por
novidades, os subsídios extrabíblicos, como divagações filosóficas, supostas
divinas revelações etc., só confundem o estudioso da Bíblia Sagrada”.
(ZIBORDI, Teologia Sistemática Pentecostal, pg. 487).
Logo,
quando alguém se dispõe a estudar a escatologia bíblica, é preciso ter em mente
o princípio do Sola Scriptura, pois somente as Escrituras Sagradas devem
ser a base da nossa fé e prática cristã.
4) O
QUE É UMA LITERATURA APOCALIPTICA?
A
priori, é preciso destacar que toda literatura apocalíptica é
escatológica, porém, nem toda literatura escatológica é apocalíptica.
A
literatura apocalíptica se caracteriza pela sua natureza essencialmente
escatológica, pois trata daquilo que acontecerá no futuro em termos globais e
que envolve toda a humanidade. Desta forma, a literatura apocalíptica não trata
apenas das últimas coisas que acontecerão na vida do homem, individualmente
considerado, mas trada dos acontecimentos futuros que atingirão toda a
humanidade. Assim sendo, a literatura apocalíptica possui profecias
escatológicas de natureza coletiva.
Como já dito alhures, nem toda literatura escatológica é apocalíptica, pois assuntos como o destino da alma humana após a morte é, de certa forma, um assunto escatológico, porém, não pode ser classificado como apocalíptico por causa de sua natureza eminentemente individual. Neste caso, o estudo foca o destino do indivíduo após a morte, sendo uma análise das últimas coisas que acontecem após a morte.
Champlin, em seu comentário bíblico do Novo Testamento, apresenta de maneira didática as principais características de uma literatura apocalíptica (CHAMPLIN, pg. 451), quais sejam:
- Os livros apocalípticos possuem características de revelação, ou seja, em tais livros é comum atividades místicas, revelações, sonhos, visões, viagens celestiais em espírito, fatos que transcendem a realidade presente;
- Os livros apocalípticos empregam verdades místicas e simbólicas, ao invés de verdades físicas e literais;
- Os livros apocalípticos são altamente dualistas, pois apresentam uma guerra existente entre o bem e o mal e a vitória certa do bem em um futuro escatológico;
- Os livros apocalípticos são deterministas, pois apresentam a vitória certa de Deus sobre o mal, o triunfo de Deus sobre o mal está determinado e, portanto, é inevitável;
- Os livros apocalípticos são, ao mesmo tempo, pessimistas e otimistas, pois apresentam um futuro escatológico horrendo, ensinando que as coisas tendem a piorar na medida que se aproxima o fim. Porém, ao mesmo tempo, a literatura apocalíptica apresenta uma visão otimista do fim dos tempos, pois, apesar das coisas horrendas que acontecerão, existe um final feliz, onde o bem vencerá o mal, onde Deus vencerá o diabo e o pecado;
- Os livros apocalípticos são extremamente éticos, pois sua mensagem constitui uma convocação para o abandono das práticas pecaminosas, ou seja, a literatura apocalíptica possui como propósito a advertência quanto ao perigo do pecado e a necessidade de abandoná-lo a fim de ser salvo dos acontecimentos horrendo que estão por vir.
Essas
são as principais características da literatura apocalíptica e que podem ser
verificadas no livro do apocalipse.
Por
fim, destaca-se que os livros apocalípticos bíblicos são o livro de Daniel, no
Antigo Testamento, e o livro do Apocalipse, no Novo Testamento. Existe uma
forte conexão entre o livro de Daniel e do Apocalipse, exigindo que o estudo do
livro do apocalipse seja realizado considerando o livro de Daniel.
5)
SIGNIFICADO DO TERMO “APOCALIPSE”
Logo
no primeiro versículo do livro encontramos o termo “Revelação”, termo este que
dará origem ao nome do último livro da Bíblia. A palavra revelação decorre da
palavra grega “apocalypsis” que é traduzida para o latim pela palavra “revelatio”
e que, por sua vez, é traduzida para o português pela palavra revelação.
Sendo
assim, a palavra “apocalypsis”, conforme aparece no texto em grego, é
traduzida em português pela palavra revelação. Interessante que a palavra
Revelação, do versículo primeiro do livro do Apocalipse, é apresentada na forma
substantiva, deixando claro que este termo é empregado como o nome do livro.
A
palavra grega “apocalypsis” significa, portanto, revelação ou revelar,
tirar o véu daquilo que estava escondido (HARRISON, Comentário Bíblico Moody,
pg 987).
6)
AUTOR DO LIVRO
As evidências bíblicas e históricas apontam para o apóstolo João como o autor do livro do Apocalipse, senão vejamos:
- O nome de João é apresentado quatro vezes durante o livro do apocalipse como aquele que estava recebendo a revelação e a escrevendo (Ap. 1.1, 4 e 9; 22.8);
- Era consenso entre os irmãos da igreja primitiva e a igreja pós-apostólica que João era o autor do livro do Apocalipse. Justino Mártir e Eusébio, historiador da igreja dos primeiros séculos, testificam de João como o autor do livro do Apocalipse;
- O termo “Logos” sendo aplicado a Jesus é um termo exclusivamente joanino, aparecendo tanto no evangelho de João (Jo 1.1), quanto no livro do Apocalipse (Ap. 19:13). Desta forma, a existência do termo “Logos” no livro do Apocalipse aponta para a autoria de João, o apóstolo.
Desta
forma, conclui-se que, a luz das evidências internas (bíblicas) e externas
(históricas), o autor do livro do Apocalipse é o apóstolo João.
7)
ASPECTOS IMPORTANTES DO LIVRO
7.1)
Pano de fundo do livro do Apocalipse que justifica o motivo e propósito do
livro:
Conforme
descreve Greg L. Bahnsen, o pano de fundo do livro do Apocalipse é marcado pelo
culto ao imperador romano, ou seja, o imperador do Império Romano exigia que
todos o adorassem como um deus. Isso era lei.
O
culto ao imperador foi exigido em todo território do Império Romano, porém, foi
na Ásia Menor (atual Turquia) que o culto ao imperador foi levado ao extremo. Existiam
bustos do imperador espalhados por toda Ásia Menor e as pessoas tinham que
colocar incensos nos bustos e proferir as palavra “César é o senhor”. Porém, os
cristãos se recusavam a reverenciar o imperador como deus e senhor, pois
proclamavam que somente Jesus é Senhor e Deus.
Diante
da recusa dos cristãos de prestarem culto ao imperador, a igreja passou a ser
duramente perseguida, principalmente as igrejas da Ásia Menor, onde o culto ao
imperador era levado extremamente a sério.
A
perseguição aos cristãos se espalhou por todo o império e era horrenda, pois os
cristãos que se recusavam a prestar culto ao imperador e a adorar os deuses
romanos eram executados, eram era escalpelados, o imperador jogava estes
cristãos nas arenas para serem comidos por leões e divertir os cidadãos de
Roma. A perseguição foi tão brutal, que o imperador não poupava nem as
crianças.
Este é
pano de fundo do livro do Apocalipse, o imperador romano era uma espécie de
Anticristo e, de fato, os cristãos da igreja primitiva que leram o livro do
Apocalipse acreditavam que estavam vivenciando suas profecias.
Neste
contexto, diante de uma brutal perseguição, o apóstolo João foi exilado na ilha
de Patmos por defender e proclamar o evangelho de Cristo. Foi lá, na ilha de
Patmos, que o apóstolo João recebeu a revelação do livro do Apocalipse.
Greg
L. Bahnsen conclui que, ao escrever o livro do Apocalipse, o apóstolo João,
inspirado pelo Espírito Santo, estava anunciando que a perseguição que aqueles
crentes estavam sofrendo não era em vão, pois Cristo retornariam e triunfaria
sobre o mal. O livro do Apocalipse é um livro que trouxe esperança para a
igreja primeva e que ainda traz esperança para a igreja contemporânea.
7.2) O
simbolismo dos números no livro do Apocalipse:
O livro do Apocalipse é marcado pela repetição de números. Tal repetição é proposital e traz uma mensagem importante para a Igreja, vejamos:
- Número “7”: O livro do Apocalipse apresenta sete mensagens às sete igrejas da Ásia Menor (caps. 2,3); a visão de sete selos (caps. 6 a 8); a visão de sete trombetas (caps. 8 a 11); a visão das sete taças (cap. 15); Em Ap. 5:12 encontramos os sete atributos de louvor ao Cordeiro; os sete Espíritos que se acham diante do trono (cap 1.4); as sete estrelas na mão direita de Cristo (cap 1:16). Mas, qual o significado do número sete? O número sete significa inteireza, perfeição e/ou plenitude dispensacional;
- Número “12”: O número doze aparece muitas vezes na Bíblia e especialmente no livro do Apocalipse, o doze aparece nas 12 mil pessoas de cada uma das 12 tribos de Israel que comporão os 144 mil selados (Ap 7); Em Ap 4.4 lemos sobre 24 tronos, representando os 12 patriarcas do Antigo Testamento e os 12 apóstolos do Novo Testamento; a mulher de Ap 21.1 tinha uma coroa com doze estremas; A nova Jerusalém tinha doze portões (Ap 21.12); O muro da Nova Jerusalém possui doze fundamentos (21.14); A árvore da vida produz doze nomes de frutos (Ap 22.2); Mas, qual o significado do número doze? O número doze faz relação com o reino de Deus e seu povo, ou seja, faz referência à aliança de Deus com seu povo e sua perpétua presença no meio de seu povo;
Atenção!
O
estudo do significado dos números na Bíblia não pode ser confundido com a
superstição da numerologia, pois a numerologia confere significado e influência
mística dos números na vida das pessoas, o que é antibíblico. O estudo dos
números na Bíblia se destina apenas a entender seu significado simbólico no
texto.
7.3) O
simbolismo das cores no livro do Apocalipse:
O
texto apocalíptico também utiliza as cores como uma forma simbólica de trazer
uma mensagem. Por exemplo, o branco é usado no livro como símbolo de inocência,
pureza, justiça, maturidade e perfeição. Já o preto simboliza a fome, desespero,
sofrimento, impureza. O vermelho simboliza sangue, guerra, homicídio, morte
sacrificial. O roxo é símbolo da realeza. O amarelo é símbolo da morte.
Atenção!
O
estudo das cores na Bíblia não pode ser confundido com a prática da
cromomancia.
8) DEPENDÊNCIA
LITERÁRIA
O
estudante do livro do Apocalipse precisa ter em mente que este livro
escatológico mantém uma relação de dependência literária com outros livros
bíblicos. Desta forma, para se ter uma compreensão holística e, ao mesmo tempo,
sistemática do livro do Apocalipse, é preciso conhecer os livros bíblicos que
se relacionam com Apocalipse. Os livros que mantem essa dependência literária
com Apocalipse irão preencher certas lacunas que o livro do Apocalipse deixa,
considerado de forma isolada, ao estudá-lo.
8.1)
Dependência literária do livro do Apocalipse com livros do Antigo Testamento:
Citando Champlin, em seu comentário Bíblico:
“O
autor do livro de Apocalipse nunca cita diretamente o A.T, mas, em um total de
quatrocentos e quatro versículos, duzentos e setenta e oito encerram alguma
forma de referência ao A.T” (CHAMPLIN, pg 455).
Conforme
citado acima, dos 404 versículos do livro do Apocalipse, 278 versículos possuem
alguma referência com textos do Antigo Testamento, tornando Apocalipse um livro
com forte influência judaica. Há 13 referências ao livro de Gênesis; 27
referências ao livro do Êxodo; 79 referências ao livro de Isaías; 53
referências ao livro de Daniel e muitas outras referências.
Por
exemplo, o comentário bíblico Moody faz a seguinte análise:
“[...]
a descrição da Babilônia, no capítulo 18 [de apocalipse], tem paralelos
incontáveis com Jeremias 51. As duas bestas do capítulo 13 [de apocalipse], com
seus dez chifres que são dez reis, derivam diretamente das visões da besta de
Dn 7,8. A visão das duas oliveiras e dos dois castiçais (cap 11) é uma
reconstrução da visão de Zacarias 4” (HARRISON, Comentário
Bíblico Moody, pg 990).
Temos, de forma mais expressiva, a dependência literária do livro de Apocalipse com os livro veterotestamentários de Daniel, Ezequiel, Zacarias e Malaquias.
É
impossível entender a Grande Tribulação sem, antes, entender as 70 semanas de
Daniel. Sendo assim, o estudo do livro do Apocalipse deve ser feito em conjunto
com os textos escatológicos destes livros veterotestamentários.
8.2) Dependência
literária do livro do Apocalipse com livros do Novo Testamento:
Champlin cita várias referências que o livro do Apocalipse faz de textos do Novo Testamento, vejamos:
- Ap. 1.1 = Mt 24.6 e Lc 21.9;
- Ap. 1.3 = Lc 11.28;
- Ap 1.4 = Cl 1.2;
- Ap 1.5 = Cl 1.18;
- Ap 1.6 = 1Pe 2.9;
- Ap 1.7 = Mt 24.30;
- Ap 2.7 = Mt 11.15 e Lc 8.8;
- Ap 3.3 = Mt 24.42;
- Ap 5.5 = Lc 7.13 e 8.52;
- Ap 6.10 = Mt 24.29;
- Ap 14.4 = Lc 9.57;
- Ap 19.7 = Mt 5.12;
- Ap 21.4,5 = 2Co 5.17;
- Ap 22.21 = Ef 6.24.
Muitas
outras referências entre o livro de Apocalipse e os demais livros do Novo
Testamento existem e poderiam ser citadas, porém, as referências elencadas
acima já bastam para comprovar a dependência literária do livro do Apocalipse
com os demais livros neotestamentários.
9)
PROVENIÊNCIA E DESTINO
O
livro do Apocalipse foi escrito, e, portanto, provém, na ilha de Patmos, local
onde o Apóstolo João se encontrava exilado por pregar o evangelho. Segundo
Eusébio, historiador João foi exilado na ilha de Patmos por volta do ano 91
d.C.
A ilha
de Patmos era usada pelo Império Romano como local de banimento de pessoas
consideradas perigosas para o império. Neste contexto, João foi exilado para lá
e foi nela que teve a revelação do livro do Apocalipse.
Interessante
notar que a ilha de Patmos fica localizada a 55 km da costa sudoeste da
Turquia, antiga Ásia Menor e local das 7 igrejas destinatárias das cartas do
livro do Apocalipse.
O
destino do livro do Apocalipse é, de forma imediata, as 7 igrejas da Ásia
Menor, atual Turquia. Porém, de forma indireta ou mediata, o livro possui como
destinatário os crentes de todas as épocas, incluindo nós.
10) A
QUESTÃO DA DATAÇÃO
A
questão da datação do livro do Apocalipse é motivo de muito debate, haja vista
que ela define a forma como se interpreta o livro.
Neste
ponto, a pergunta central é: Apocalipse foi escrita antes da destruição do
templo e de Jerusalém no ano 70 d.C.? ou o livro do Apocalipse foi escrito
depois da destruição de Jerusalém, quando do exilio de João em 91 d.C.?
A
depender da resposta, o estudante do livro do Apocalipse pode interpretar o
livro de algumas formas. A escola preteristas afirma que o livro foi escrito
antes da destruição de Jerusalém no ano 70 d.C. e, por isso, todas aquelas
visões de destruição e pragas descrevem o que aconteceu em Jerusalém no ano 70
d.C. Isso implica em dizer que, caso a escola preterista esteja certa, todas as
profecias do livro do Apocalipse se cumpriram no ano 70 d.C. e que a única
profecia que resta cumprir e o retorno de Cristo ou Arrebatamento.
Porém,
a escola pré-milenista, ao contrário da preterista, afirma que o livro do
Apocalipse foi escrito em 91 d.C., portanto, depois da destruição de Jerusalém
no ano 70. Sendo assim, as profecias do livro do Apocalipse ainda não se
cumpriram, sendo que seu cumprimento se dará em um futuro escatológico. Em
outras palavras, a escola pré-milenista afirma que Apocalipse foi escrito em memento
posterior à destruição de Jerusalém pelo general Tito. Desta forma, o livro do
Apocalipse foi escrito por volta do ano 91 d.C., data em que o apóstolo João
tinha sido exilado pelo imperador Domiciano. Isso implica em dizer que todas as
profecias do livro do Apocalipse não podiam fazer referência a destruição de
Jerusalém que ocorreu em 70 d.C., pois o livro foi escrito 21 anos após este
fato. Logo, as profecias de Apocalipse só podem se referir a eventos que
acontecerão em um futuro escatológico.
Mas
então, qual é a data que o livro foi escrito? As evidências apontam para a
datação estabelecida pela escola pré-milenista, qual seja: 91 d.C. A primeira
evidência é aquela contida em Ap. 1.9, onde está registrado que João escreveu o
livro enquanto estava exilado na ilha de Patmos, vejamos:
Eu,
João, que também sou vosso irmão, e companheiro na aflição, e no reino, e
paciência de Jesus Cristo, estava na ilha chamada Patmos, por causa da palavra
de Deus, e pelo testemunho de Jesus Cristo.
Se
João escreveu enquanto estava exilado na ilha de Patmos, logo, considerando que
ele foi exilado para lá por volta do ano 91 d.C., conclui-se que a datação do
livro do Apocalipse é por volta de 91 d.C.
Outra
evidência é que Irineu, pai da igreja que viveu entre o segundo e terceiro
século, no seu livro “Contra as heresias”, afirma que o livro foi escrito pelo
Apostolo João durante a perseguição do imperador Domiciano, imperador que
exilou João por volta do ano 91 d.C.
Por
fim, outra evidência é o estado de desenvolvimento das igrejas da Ásia Menor.
As igrejas da Ásia Menor são apresentadas no livro do Apocalipse como igrejas
em pleno funcionamento e institucionalmente organizadas, o que seria impossível
antes do ano 70 d.C., considerando que neste período as igrejas ainda estavam
em formação. Desta forma, o livro só pode ter sido escrito por volta do ano 91
d.C.
Sendo
Assim, a escola pré-milenista possui mais evidências quanto a datação e, desta
forma, é preciso considerar que as profecias do livro do Apocalipse ainda não se
cumpriram.
11) MÉTODOS
DE INTERPRETAÇÃO:
Existem muitos métodos de interpretação do livro do Apocalipse e o estudo destes métodos é importante a fim de que o estudante do livro do Apocalipse defina qual método utilizar na difícil tarefa de interpretar este livro escatológico.
A) Escola Preterista: Esta escola aduz que todas as profecias constantes no livro do Apocalipse se cumpriram no primeiro século, no Império Romano, restando apenas a volta de Cristo. O preterismo surge dentro do pós-milenismo;
B) Escola Historicista: Ensina que os acontecimentos/profecias contidas no livro do Apocalipse se cumpriram na história da humanidade a partir de Cristo, ou seja, para esta escola, todas as profecias de Apocalipse já se cumpriram, restando apenas a volta de Cristo;
C) Escola Futurista: Esta escola ensina que os capítulos 1 a 3 do livro do apocalipse constam fatos que já ocorreram, porém, os eventos constantes do capítulo 4 em diante ainda não ocorreram, mas ocorrerão em um futuro escatológico. A escola futurista surge dentro do ambiente teológico do Pré-milenismo, fazendo uma interpretação literal do livro do Apocalipse e distinguindo Israel da Igreja.
D) Escola Idealista: Esta escola defende que o livro do Apocalipse não possui natureza profética e nem escatológica. Para esta escola, Apocalipse é um livro que se destina a apresentar verdades morais e espirituais através de uma linguagem mística e/ou simbólica. A escola idealista surge dentro do contexto do Amilenismo.
12) A VISÃO ESCATOLÓGICA DA ASSEMBLEÍA DE DEUS E SEU IMPULSO EVANGELIZADOR
A
Assembléia de Deus é, hoje, a maior denominação do Brasil, possuindo, segundo o
censo de 2010, 12 milhões de membros. Com certeza esse número é maior nos dias
de hoje, estimando ser de 23 milhões de membros.
Mas,
qual o motivo do crescimento tão rápido da Assembleia de Deus? A
resposta está na base teológica assumida pela Assembleia de Deus desde o início.
Desde sua gênesis, a Assembléia de Deus assumiu uma posição escatológica dispensacionalista,
pré-milenista, pré-tribulacionista e futurista, bem como assumiu uma visão
soteriológica arminiana. Eis o motivo do crescimento vertiginoso da igreja
pentecostal clássica (Assembleia de Deus).
Ao aliar
as bases soteriológica do Arminianismo com as bases escatológicas do dispensacionalismo,
a Assembléia de Deus foi impulsionada pelo Espírito Santo a investir seu tempo
e dinheiro em missões. Pois, sendo arminiana, a Assembléia de Deus crê na doutrina
da expiação ilimitada e da eleição condicional, fazendo com que enxergasse
todos os homens como objetos do amor salvífico de Deus, haja vista ter Cristo
morrido por todos os homens.
Outrossim,
ao adotar o dispensacionalismo, a Assembleia de Deus assumiu a crença bíblica
da doutrina da iminência do arrebatamento, ou seja, Jesus pode voltar a qualquer
momento. Deste modo, um espírito de urgência tomou o coração dos assembleianos,
pois se a vinda de Cristo é iminente e Ele morreu a fim de obter salvação para
todos os homens, era preciso que a igreja pregasse o evangelho a todos os
homens a fim de oportunizar salvação para eles antes que Cristo voltasse.
A protoconfissão
de fé pentecostal clássica, conhecida como evangelho quadrilátero, resume de
maneira simples o posicionamento arminiano, dispensacionalista e cristocêntrico
da Assembléia de Deus. Nesta confissão de fé consta: “Só Jesus salva, cura,
batiza no Espírito Santo e breve voltará”.
Ao
proclamar estes quatro pontos, a Assembléia de Deus estava externando sua
convicção soteriológica de que Cristo morreu por todos os homens e que sua
vinda é iminente.
Logo,
o sentimento de urgência causado pelas perspectivas teológicas assumidas pela Assembleia
de Deus fez com que esta denominação entrasse nas favelas, bairros, interiores
rurais e em todo canto do Brasil e do mundo para proclamar que só Jesus salva,
cura, batiza no Espírito Santo e breve voltará.
13)
CONCLUSÃO
Considerando
o panorama do livro do Apocalipse apresentado acima, a igreja precisa
urgentemente buscar entendimento escatológico a fim de manter viva a esperança
do retorno de Cristo para busca sua noiva, a Igreja amada.
“Aquele
que testifica estas coisas diz: Certamente cedo venho. Amém. Ora vem, Senhor
Jesus” (Ap. 22.20).,
Pb.
Diego Natanael
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Everett F. Comentário Bíblico Moody. Vol. 2. 2. Ed. São Paulo: Batista
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