O “VENTO” DE ATOS 2:2 COMO REPRESENTAÇÃO DO RÛAH DO CÂNON HEBRAICO


Em Atos 2:2 lemos o seguinte:

E de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados”. (Grifo nosso).

É interessante notar que o vento aparece, no texto de Atos, como uma evidência física e perceptível da presença do Espírito Santo. Lucas, ao descrever o dia de Pentecostes, destaca intencionalmente a presença do “vento”, sua natureza veemente e impetuosa, bem como sua origem como vindo do céu.

Em um texto semelhante, em João 3:8, Jesus faz uma interessante relação entre o vento e a presença do Espírito Santo:

O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito”. (Grifo nosso).

Da mesma forma que Lucas, o texto de João 3:8 destaca o vento como uma representação da ação do Espírito Santo, ou seja, o “vento” é usado como sinônimo do Espírito Santo.

Mas, por que os autores neotestamentários utilizam a figura o vento para se referir a presença do Espírito Santo?

A resposta para esta pergunta é encontrada na pneumatologia veterotestamentária. É importante destacar que a visão pneumatológica dos autores do Novo Testamento é herdada da visão hebraica veterotestamentária sobre o Espírito de Deus.  

Os autores do Antigo Testamento utilizavam a palavra hebraica Rûah” para descrever a ação do Espírito de Deus na natureza e no homem. Rûah” significa, em seu sentido primário, fôlego, ar em movimento ou vento.

Os hebreus escolheram a palavra Rûah para descrever a obra do Espírito de Deus, pois, na visão semita, a vida era inexoravelmente associada ao fôlego ou ao ar em movimento. Quando os semitas observavam os animais e os homens, eles perceberam que ambos respiravam e que a morte consistia na ausência de fôlego. Igualmente, o ar em movimento (vento) exercia uma grande influência na natureza, nas tempestades, na agricultura etc. Partindo desta observação, os semitas concluíram que a vida estava no fôlego ou vento e que, este fôlego ou vento, era concedido por Deus e, em última análise, era o próprio Deus em ação.

“Rûah” = Ar em movimento ou vento = Espírito = Presença invisível de Deus.

Desta forma, a palavra Rûah (vento ou ar em movimento) é usada majoritariamente no Antigo Testamento para se referir ao Espírito de Deus, pois deseja destacar a ação invisível de Deus na criação, especialmente no homem.

Curiosamente, a LXX, tradução grega da Bíblia hebraica, traduziu a palavra “Rûah” pela palavra grega “Pneuma” que, por sua vez, pode significar vento ou princípio da vida no homem. Vejamos as considerações de Wilf Hildebrandt, em seu livro “Teologia do Espírito de Deus no Antigo Testamento”, sobre o tema:

“A tradução típica de Rûah é Pneuma (277 vezes). Pneuma não somente refere-se ao vento e fôlego de vida na LXX, mas também ao poder sobre-humano, habilidade espiritual, resolução da vontade, a constituição da alma, um dom escatológico e o princípio da vida no homem”. (Hildebrandt, 2008, p. 25).

Assim sendo, os autores do Novo Testamento, quando fazem referência ao Espírito de Deus, eles têm em mente a visão veterotestamentária da presença e ação invisível de Deus, por meio de seu Espírito, no homem, tal qual é a presença e ação do vento, que não vemos, mas sentimos e somos influenciados por ele.  

Ademais, é importante destacar que 90% das referências ao Espírito Santo no Antigo Testamento possuem um tom carismático, ou seja, faz referência a ação carismática do Espírito de Deus na capacitação de homens escolhidos por Deus (DANIEL, Silas. 2020).

Logo, quando Lucas destaca a presença do “vento veemente e impetuoso” no dia de Pentecostes, o evangelista está querendo destacar a presença invisível, mas impactante, do Rûah, Espírito de Deus, enchendo os discípulos e tirando-os do lugar, capacitando-os para proclamar as Boas Novas.

Os judeus, ao contemplarem a manifestação do vento veemente e impetuoso, entenderam que o Rûah, Espírito de Deus, estava no ambiente e, nas palavras de Pedro (Atos 2:17), havia sido derramado na vida dos irmãos primevos.

No Antigo Testamento, o Rûah produzia vida e concedia capacidades sobre-humanas a indivíduos específicos, porém, no Novo Testamento, o Rûah é derramado sobre toda a Igreja e, ao longo da história desta, vem enchendo os salvos de poder para proclamar o evangelho.

Pb. Diego Natanael.

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Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD.

DANIEL, Silas. O Batismo no Espírito Santo e as línguas como sua evidência: A imersão plena no profetismo da nova aliança. 1. Ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2020.

HILDEBRANDT, Wilf. Teologia do Espírito de Deus no Antigo Testamento. São Paulo: Editora Academia Cristã; Edições Loyola, 2008.

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