“EU QUERO PROFETIZAR”, SERÁ?
É
muito comum, no meio pentecostal e neopentecostal, ouvir pregadores realizando
atos proféticos e, através da frase “eu quero profetizar” ou “profetizo”,
declarando bênçãos na vida dos ouvintes. Mas, será que a profecia pode ser
usada para esta finalidade? Será que o dom profético pode ser usado quando bem
quiser o profeta? Será que sempre que o profeta desejar profetizar, esta
profecia será de Deus? Em outras palavras, a profecia está condicionada à
vontade do profeta?
A
priori, é preciso compreender que o dom de profecia consiste na verbalização
de uma mensagem inspirada, concedida e direcionada pelo Espírito Santo, ou
seja, o Espírito Santo impulsiona, clara e inequivocamente, o profeta a
entregar uma mensagem da parte de Deus.
A
profecia possui a finalidade de edificar, exortar e consolar a igreja do Senhor.
Vejamos o que Paulo diz sobre o assunto:
“Aquele,
porém, que profetiza fala aos homens, para edificá-los, exortá-los e
consolá-los” (1Co 14:3).
Desta
forma, segundo os registros bíblicos, a profecia é o ato de Deus usar o profeta
para entregar uma mensagem inspirada para a igreja a fim de edificar, exortar e
consolá-la.
“EU
QUERO PROFETIZAR”:
Como
já dito, a profecia é um dom cujo doador é Deus. Assim sendo, este dom não pode
ser usado indiscriminadamente pelo profeta, haja vista que o uso do dom está
condicionado à vontade divina e não humana.
O dom
de profecia não é dado a todos, mas a quem Deus desejar conceder! (1Co 12).
O problema
é que virou modismo entre os pregadores a realização de atos proféticos e a
declaração de bênçãos através das expressões “eu quero profetizar” ou “profetizo”.
É comum ouvir durante muitas pregações o pregador pronunciar “quero profetizar
a benção na sua vida” ou “profetizo vitória na sua vida” a fim de dizer que
deseja a benção na vida do irmão e que, pelo fato dele desejar, a benção vai
acontecer.
A própria
expressão “eu quero profetizar” é herética, pois significa que a suposta
profecia não é uma mensagem que vem da parte de Deus, mas, sim, do pregador, ou
seja, não é Deus que quer profetizar, é “eu” que desejo profetizar, a profecia
está partindo do “eu” e não de Deus.
Muitos
utilizam esta expressão querendo desejar bênçãos para a vida do irmão e acha
que dizendo “eu quero profetizar”, Deus estaria obrigado a realizar o desejo do
profeta, ou seja, a expressão “eu quero profetizar” vincularia Deus a vontade
do profeta.
A
expressão “eu quero profetizar” ou “profetizo” tem sua origem a partir da
concepção da teologia da confissão positiva de externalizar/verbalizar a
benção para que ela de fato aconteça. Desta forma, os teólogos da confissão
positiva ensinam que as pessoas precisam “profetizar” verbalmente a vitória nas
suas vidas para que, de fato, elas aconteçam. Na concepção da teologia
haginiana (Kennedy Hagin, maior teólogo da teologia da confissão positiva), as
palavras declaradas por um crente têm poder vinculante, ou seja, tudo o que o
crente declarar com sua boca, vinculará/obrigará Deus a realizar.
Foi
neste contexto que surge a expressão “eu quero profetizar”, ou seja, o
pregador, pastor ou crente tem o poder de profetizar bênçãos segundo a sua
vontade e suas palavras.
Mas, a
profecia está condicionada à vontade do profeta?
A
mensagem do profeta não deve ser considerada infalível, porquanto a própria
Bíblia estabelece o dever da igreja de julgar as profecias para que não haja
engano (1Co 14.29-33 / 1Jo 4.1). Desta forma, é preciso tomar muito cuidado com
os supostos profetas da prosperidade contemporâneos, pois suas profecias, na
maioria das vezes, possuem origem no próprio ego e não em Deus.
O dicionário
VINE registra que a palavra “profeta” decorre do substantivo hebraico “nãbi”
e significa “qualquer um em quem a mensagem de Deus emana” ou “aquele
a quem qualquer coisa é comunicada secretamente”. (Dicionário VINE, pg 903,
2016).
Como
pode-se perceber, o profeta é aquele que emana a mensagem de Deus, que recebe
de Deus uma mensagem. Desta forma, a profecia não está condicionada a
vontade do profeta, mas, sim, a vontade de Deus.
A
expressão “eu quero profetizar” sugere que é o profeta quem está usando Deus
para que algo aconteça. Contudo, é Deus que usa o profeta e não o profeta que
usa Deus. A profecia é o ato de Deus usar o homem e, portanto, o profeta não
profetiza quando quer, mas quando Deus quer!
Não
adianta eu dizer “profetizo” se Deus não mandou eu profetizar, nada vai
acontecer, pois nós não determinamos a vontade divina, antes estamos
subordinados a ela.
A profecia
não vem de “baixo para cima”, como se pudéssemos determinar o que Deus
irá fazer ou como se nossas palavras vinculassem Deus na obrigação de
cumpri-las. A verdadeira profecia vem de “cima para baixo”, ou seja, vem
do alto. É Deus quem inicia o ato da profecia, a mensagem vem da parte de Deus
e não do profeta. A profecia é uma ação soberana de Deus e o profeta é apenas
seu porta-voz.
A
Bíblia é expressamente clara ao ensinar que a profecia está condicionada à
vontade exclusiva de Deus e não do profeta, ou seja, a mensagem profética é
instaurada, entregue e confirmada por Deus, sendo o profeta um mero porta-voz
desta mensagem.
Em textos
como Jr. 2.1; Ez. 36.16 e Zc. 8.1 lemos a expressão “e venho a mim a Palavra
do Senhor”, evidenciando que, no processo da profecia, o profeta é
surpreendido pela mensagem do Senhor e, portanto, esta mensagem não parte da
vontade do profeta, mas de Deus.
Outrossim,
em Is. 57.15; Ez. 17.22; Amós 1.6 e Ageu 2.6 lemos a expressão “assim diz o
Senhor”. A expressão “assim diz o Senhor” é antagônica a expressão “eu
quero profetizar”, pois a primeira, que é bíblica, pressupõe que a mensagem profética
partiu de Deus e foi entregue ao profeta, já a segunda, que é antibíblica,
pressupõe que a mensagem partiu do próprio profeta.
Logo, a
verdadeira profecia é aquela que vem do Senhor! Eu não profetizo quando quero, mas quando Deus
quer!
Se
Deus não mandou, não adianta dizer “eu quero profetizar” ou “profetizo”, nada
vai acontecer. O uso dos dons espirituais, entre eles a profecia, está condicionado
a vontade de Deus, somente Dele.
1Co
12.6 e 11: “Há também diversas operações, mas é o
mesmo Deus que opera tudo em todos. [...] Mas
um e o mesmo Espírito distribui todos estes dons, repartindo a cada um como
lhe apraz”. (grifo nosso).
Pb.
Diego Natanael
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