ATOS 13:48 ENSINA UMA PREDESTINAÇÃO E ELEIÇÃO INCONDICIONAL?



Em Atos 13:48 temos uma das passagens que é objeto de grande debate entre Calvinismo e Arminianismo. Vejamos:

“Os gentios, ouvindo isto, se alegravam e glorificavam a palavra do Senhor. E creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna”. (Versão NAA).

Nesta passagem, lemos a declaração de Lucas quanto aos gentios que creram na pregação de Paulo. Aparentemente, Lucas estaria ensinando que só creram aquelas pessoas que foram predestinadas e eleitas incondicionalmente para salvação, ou seja, Lucas estaria falando de uma suposta doutrina da “dupla predestinação”.

Para muitos calvinistas, o texto de Atos 13:48 é um texto prova da doutrina da predestinação e eleição incondicional, pois, a palavra “destinado”, no texto de Atos, implica em dizer que Deus escolheu antecipadamente e de forma incondicional aquelas pessoas que haveriam de ser salvas.

Contudo, ao defender esta ideia, o calvinismo cria três problemas:

1º Problema - Se o texto de Atos 13:48 estiver falando de uma eleição incondicional, logo, esse texto não ensinará, apenas, que Deus elegeu incondicionalmente os salvos, mas, também, os réprobos (aqueles que vão para o inferno), a isso o calvinismo chama de “dupla predestinação”. O problema é que a doutrina da dupla predestinação retira toda a responsabilidade moral do homem e torna Deus um déspota que manda para o inferno pessoas que jamais quiseram pecar, mas pecaram por uma predeterminação divina. Em outras palavras, os eleitos para salvação não escolheram ou desejaram ser salvos, foram eleitos por Deus de forma impositiva. Do outro lado, os réprobos que foram eleitos para a perdição e o inferno, não estão indo para o inferno porque decidiram livre e deliberadamente desobedecer  a Deus, mas, sim, porque Deus desejou manda-los para o inferno mesmo sem eles terem cometidos pecados livre, ou seja, os réprobos estão indo para o inferno por causa dos pecados que eles praticaram por ordem predeterminante de Deus. Desta forma, os réprobos vão para o inferno porque estão obedecendo a ordem predeterminante de Deus que os impeliu a pecarem.

Tudo isso é um absurdo! Dizer que Deus desejou e predeterminou pessoas para pecar e, assim, irem para o inferno, é ir na contramão do que as Escrituras ensinam. Em Ezequiel 33:11, está escrito:

“Diga-lhes: Tão certo como eu vivo, diz o Senhor Deus, não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho e viva. Convertam-se! Convertam-se dos seus maus caminhos”.

Em 2Pe 3:9 lemos:

“O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a julguem demorada. Pelo contrário, ele é paciente com vocês, não querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento”.

Logo, segundo Ez 33:11 e 2Pe 3:9, Deus jamais elegeria incondicionalmente pessoas para a perdição, pois, Deus não tem prazer na morte do ímpio e, assim, não deseja que ninguém pereça, mas que todos sejam salvos.

2º Problema - Se o texto de Atos 13:48 estiver falando de uma eleição incondicional, logo, as pessoas não creram para serem salvas, mas, sim, foram salvas/eleitas incondicionalmente para crer. Isto se torna um problema, pois, a Bíblia estabelece o princípio da condicionalidade da salvação, ou seja, para ser salvo, o pecador precisa, primeiramente, crer. O que os calvinistas fazem é inverter este princípio, pois ensinam que primeiro o pecador é eleito incondicionalmente e, portanto, salvo, para, só depois, crer.

O Calvinismo ensina a seguinte ordem: Ser salvo para crer. Já a Bíblia ensina que a ordem é esta: Crer para ser salvo. Vejamos alguns textos:

João 3.16: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.

Em Jo 3:16 o “crer” é a condição para ter a vida eterna, ou seja, primeiro o pecador tem que crer para que, depois, possa ser salvo.

Marcos 16.16: “Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado”.

O texto de Marcos deixa claro que primeiro é preciso crer (“quem crer”) para que, depois, o pecador possa ser salvo (“será salvo”).

Romanos 10.9: Se com a boca você confessar Jesus como Senhor e em seu coração crer que Deus o ressuscitou dentre os mortos, você será salvo”.

No texto de Romanos, o apóstolo Paulo enfatiza a condicionalidade da salvação, ou seja, para ser salvo, antes, é preciso confessar Jesus como Senhor, ou seja, é preciso crer.

3º Problema - Se o texto de Atos 13:48 estiver falando de uma eleição incondicional, logo, o apóstolo Paulo mentiu para aquelas pessoas que não creram, pois, Paulo pregou que Deus desejava salvá-las, quando, supostamente, Deus não queria salvar todo elas, apenas algumas. Quando Paulo estava pregando para aquela multidão, composta por judeus e gentios, o apóstolo disse: “Portanto, meus irmãos, saibam que é por meio de Jesus que a remissão dos pecados é anunciada a vocês” (Atos 13:38). Logo, se aquela multidão era composta por eleitos para salvação e eleitos para a perdição, Paulo não poderia dizer que Deus queria perdoar e salvar os pecados de todos eles, pois, senão estaria mentindo. O que Paulo deveria dizer era que Deus desejou salvar apenas alguns dentre aquelas pessoas. Contudo, ao contrário do que o calvinismo quer fazer crer, o apóstolo Paulo não mentiu, antes, declarou de forma autêntica o que as Escrituras Sagradas ensinam, ou seja, que Deus deseja salvar todos os homens e, portanto, se todas aquelas pessoas tivessem crido em Cristo, certamente seriam salvas.

Logo, diante dos problemas até aqui apresentados, o texto de Atos 13:48 não pode estar falando de uma predestinação e eleição incondicional. Diante disto, como interpretar Atos 13:48? O Arminianismo interpreta o citado texto com base em 3 pressupostos hermenêuticos:

1) ATOS 13:48 E A DOUTRINA DA EXPIAÇÃO ILIMITADA:

Para o Arminianismo, os textos bíblicos que falam de salvação não podem ser interpretados desconsiderando a doutrina da expiação ilimitada. Para interpretar qualquer texto bíblico soteriológico, incluindo Atos 13:48, o intérprete tem que levar em consideração a doutrina da expiação ilimitada, pois, ela norteia os atos de Deus com relação a salvação dos homens.

A doutrina da expiação ilimitada ensina que Jesus morreu a fim de salvar todos os homens de todas as épocas, ou seja, o propósito da expiação de Cristo era possibilitar a salvação de todos os homens, sem distinção. Dessa forma, a expiação de Cristo é ilimitada quanto a intenção, pois, ao morrer na cruz, Jesus desejava salvar todos os homens. No entanto, a expiação é, também, limitada quanto a aplicação, pois, apesar de Jesus morrer por todos os homens, Ele condicionou a salvação a livre manifestação de fé e arrependimento do pecador para com Deus, ou seja, Ele morreu por todos, mas só salva quem crer na obra expiatória e se arrepende de seus pecados.

A doutrina da expiação ilimitada revela a vontade universal de Deus para a salvação, ou seja, Deus deseja salvar todos os homens, mesmo sabendo que nem todos serão salvos, pois, muitos rejeitarão a graça divina (1Tm 2:3-4). Assim sendo, se Deus deseja salvar todos os homens, logo, Ele enviou Jesus a fim de ser “propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo” (1Jo 2:2).

Vários textos declaram a vontade universal de Deus para a salvação e a expiação ilimitada, tais como: Jo 3:16; 1Tm 2:3-4; 1Jo 2:2; 1Tm 4:10; Tt 2:11.

Assim sendo, ao ler o texto de Atos 13:48, temos que ter em mente que o texto não pode estar falando de uma predestinação e eleição incondicional, caso contrário ele estaria em contradição com a doutrina bíblica da expiação ilimitada. Pois, como Deus poderia desejar a salvação de todos os homens e, por isso, enviar Jesus a fim de morrer e salvar todos os homens, e, depois, em Atos 13:48, dizer que ele só decidiu salvar um grupo de pessoas e não todas? Seria uma espantosa contradição!

Logo, o texto de Atos 13:48 não está querendo dizer que Deus desejou a salvação apenas de um grupo de pessoas, mas, sim, como Paulo disse, Deus deseja salvar todos os homens e, portanto, se todos aqueles homens tivessem crido no evangelho, seriam salvos.

2) DESIGNADOS – “TASSÕ”:

Em Atos 13:48, a palavra “destinados” decorre da palavra grega “tassõ” e o melhor significado desta palavra é “designados”. Desta forma, ao invés de utilizar a palavra “destinados”, o melhor seria, no grego koiné, a palavra “designados”. Esta foi a opção da versão NVI, vejamos:

“Ouvindo isso, os gentios alegraram-se e bendisseram a palavra do Senhor; e creram todos os que haviam sido designados para a vida eterna” (Atos 13:48).

A palavra “designar” significa chamar, escolher, indicar. Desta forma, creram aquelas pessoas que foram chamadas pelo evangelho de Cristo.

Ademais, Paulo, em Atos 13:47, faz uma citação direta do texto de Is 49.6, onde consta a promessa de que Deus faria de Israel “luz para os gentios”, ou seja, que não somente os judeus seriam escolhidos para ouvir o evangelho de vida eterna, mas, também os gentios. Desta forma, Paulo e Barnabé argumentam, nos versículos 46 e 47, que tanto os judeus quanto os gentios foram designados/escolhidos para receber o evangelho de Cristo que é palavra de vida eterna para aqueles que nele crer.

O Comentário Bíblico Atos faz a seguinte observação sobre o texto de Atos 13:48:

Dado que o povo judeu acreditava que eles eram predestinados para a salvação por serem descendentes de Abraão, a ideia de que muitos “gentios tinham sido "ordenados” para a “vida eterna” (KJV) poderia ser ofensiva - mas era exatamente o que Isaias 49.6 queria dizer (ver At 13.47)” (Comentário Bíblico Atos: Novo Testamento, Craig S. Keener, pg 376).

Assim sendo, Paulo estava combatendo o exclusivismo dos judeus que achavam que os gentios não mereciam ouvir a Palavra de Deus, somente os judeus. Desta forma, o que Paulo está a dizer é que, além dos judeus, todos os gentios, indiscriminadamente, foram escolhidos por Deus, conforme Is 49:6, a fim de que pudessem ouvir o evangelho salvador de Cristo.

 3) O EVANGELHO É UMA MENSAGEM UNIVERSAL

Sempre que Paulo pregava o evangelho de Cristo, essa era a sua visão sobre o mesmo:

“Não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê: primeiro do judeu, depois do grego” (Rm 1:16).

Segundo a visão de Paulo, o evangelho não era algo exclusivo dos judeus, mas se estendia, também, aos gentios (aqui representados pelos gregos). Para Paulo, o evangelho é “poder de Deus para a salvação” dos judeus e dos gentios, ou seja, de todos os homens, sem distinção.  

Assim sendo, em Atos 13:46-48, Paulo não estava pregando um evangelho exclusivista, mas, sim, um evangelho universal, que ensina o desejo divino de salvar todos os homens, independente de sua nacionalidade, condicionado, tão somente, ao crer.

É por isso que Paulo é chamado de apóstolo dos gentios, pois, ele entendia que os gentios foram escolhidos por Deus para ouvir o evangelho de Cristo a fim de que pudessem ser salvos se, condicionalmente, cressem no Senhor Jesus.

A Bíblia nos ensina o caráter universal do evangelho, vejamos:

“E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura” (Mc 16:15).

O evangelho é poder de Deus para salvação de todos os homens e, por isso, Jesus convoca a Igreja a pregar seu evangelho por todo o mundo e a toda criatura.

Atos 17.30: “Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, em todo lugar, que se arrependam”.

2 Pe 3.9: “O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para convosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se”.

Nos textos de Atos 17:30 e 2Pe 3:9, Deus convoca todos os homens ao arrependimento, logo, ele deseja a salvação de todos e não somente de alguns.

CONCLUSÃO:

Considerando os problemas decorrentes da interpretação calvinista, bem como considerando a doutrina da expiação ilimitada, do evangelho universal e da vontade universal de Deus para a salvação, o texto de Atos 13:48 não está ensinando uma eleição incondicional, mas, sim, a escolha divina de abrir as portas da salvação para todos os gentios.

Glória Deus por esta escolha, pois, graças a isto, o evangelho de Cristo chegou salvadoramente até nós.

Logo, o texto de Atos 13:48 deve ser interpretado a luz dos textos de Is 49.6; Ez 33:11; 2Pe 3:9; Mc 16:15-16; 1Tm 2:3-4; 1Jo 2:2; 1Tm 4:10; Atos 17:30; dentre outros citados neste artigo.

Quando se ler Atos 13:48, devemos nos lembrar, antes, de Tito 2:11: “Porque a graça de Deus se manifestou, trazendo salvação a todos os homens”.

Pb. Diego Natanael.

                                        




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Comentários

  1. Gloria a Deus Diego, excelente explanação do texto de Atos 13:48..
    A visão calvinista sobre a doutrina da salvação entra muito em contradição né Diego..
    Pois ao afirmarem que a salvação é incondicional, além de "fuzilarem" os textos de Atos 17:30 e 2Pe 3:9, a interpretação de Atos 13:48 fica totalmente errônea lendo os versículos 46 e 47...
    Muito bom varão , seus artigos e suas aulas tem sido de grande edificação para mim, e para meus amigos e colegas que tem duvidas a respeito dessa matéria, que as vezes é difícil de entender.
    Que Deus lhe abençoe grandemente !..

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    1. Amém, meu irmão! Que o Senhor Jesus continue te usando! Mantenha sempre esta fome pela Palavra de Deus!!

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  2. « Ele condicionou a salvação a livre manifestação de fé e arrependimento do pecador para com Deus » Ora, mas a fé não é dom de Deus? Não é Deus que dá a fé para a pessoa ter o entendimento e ser salva? (Mt 13/ Rm 10.17) não é Jesus que dá o entendimento para que conheçamos o verdadeiro? (1Jo 5.20) não são somente os da parte de Deus que reconhecem o espírito da verdade? 1 Jo 4.6 A fé não é para os eleitos? Tito 1.1 . Finalmente, livre manifestação da fé não faz sentido quando só podemos crer (se ouvirmos a palavra) e recebemos a fé de Deus para o entendimento e salvação. Nisso, vemos que o arrependimento procede da fé. Sem Deus nos atrair (João 6.44;65) e nos revelar (Mt 11.27), como estaremos convencidos que devemos nos arrepender? Pela « livre manifestação da fé «  sendo que não há um que por si só busque a Deus? (Rm 3.11)

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  3. "Ora, mas a fé não é dom de Deus?, isto é um entendimento errôneo do que Paulo disse em Ef. 2:8 pois segundo o próprio Paulo esclarecendo em Rm 6:23 o Dom de Deus é a vida eterna, e também segundo ninguém menos que o próprio Jesus Cristo que disse para a samaritana que ele mesmo é o Dom de Deus Jo. 4: 10. Então pela bíblia a fé não é o dom de Deus como muitos erroneamente entendem do texto de Ef. 2:8, mas o dom de Deus é o próprio Jesus que nos foi dado conforme Jo. 3:16" Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu o seu filho Unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.", e a palavra deu aqui mencionada se deriva da palavra doação, e um dos sinônimos da palavra donativo é dom, e juntamente quando recebemos a Jesus o verdadeiro presente de Deus e dom de Deus vem a vida eterna Jo 6: 40 "Porquanto a vontade daquele que me enviou é esta: Que todo aquele que vê o Filho, e crê nele, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia". perceba que a ordem das coisas tanto em Jo 3:16 como em 6:40 é primeiro crer, e só depois ser salvo que seria ter a vida eterna, e não primeiro ser salvo par depois crer, como tentam dar a entender alguns que Lucas estaria ensinando em At. 13:48 , será que o escritor Lucas em atos dos apóstolos 13:48 realmente estaria contrariando o seu próprio mestre Jesus, sendo ele um seguidor de Jesus? com certeza que não!

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