JESUS: O PRINCÍPIO HERMENÊUTICO POR EXCELÊNCIA DA BÍBLIA



Após a reforma protestante, a Bíblia foi erigida como a única fonte de fé e prática do cristão – sola scriptura. O protestantismo defende que todo cristão tem o direito/dever de ler a Bíblia e praticá-la, pois, é a Palavra de Deus que nos revela a vontade divina. Ocorre que, quando todos passaram a ler a Bíblia de maneira independente, um problema grave começa a surgir, cada crente começou a interpretar as Sagradas Escrituras a sua maneira, de forma descriteriosa, e, com o passar dos anos, passou a surgir vários ensinamentos heterodoxos que não possuem coerência bíblica.

Este problema não é algo novo na história da Igreja. Em 2Pe 1:20, o apóstolo adverte os crentes do perigo de interpretar a Bíblia de forma independente e sem critérios hermenêuticos claros, vejamos:

“Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação” (2Pe 1:20).

Pedro, inspirado pelo Espírito Santo, diz que as nossas convicções pessoais, nossa cultura, nossos problemas e nossos anseios não podem servir de critérios hermenêuticos de interpretação da Bíblia, existem critérios objetivos e universais que todos os crentes precisam aplicar a fim de interpretar corretamente as Escrituras Sagradas.  

Diante deste problema, um novo questionamento surge tanto para os crentes primevos (igreja primitiva), quanto para os crentes atuais, qual seja: Qual o critério objetivo e universal correto de interpretação da Bíblia?

Jesus é o princípio hermenêutico por excelência da Bíblia, solus Christus! A pessoa, as obras e palavras de Jesus é o critério objetivo e universal que nos auxilia na compreensão da Palavra de Deus. Sem a encarnação de Cristo, jamais compreenderíamos a Bíblia, na verdade, sem a encarnação de Cristo, o cânon sagrado (Bíblia) estaria incompleto até hoje. Jesus é parte essencial das Escrituras e, sem ele, não podemos entendê-la.

A criação do homem aponta para Cristo, Israel aponta para Cristo, a lei mosaica aponta para Cristo, a igreja aponta para Cristo, o objetivo essencial das Escrituras é nos revelar Jesus.

Nos primeiros anos da igreja, a figura de Cristo foi alvo de diversos ataques, pois, satanás sabia que somente corrompendo a compreensão da Igreja sobre Cristo é que a Igreja falharia na compreensão das Escrituras. Os gnósticos tentaram corromper a visão cristológica da Igreja a fim de apresentar um Jesus diferente das Escrituras, ou seja, um Jesus que não encarnou e que, portanto, não tinha uma natureza humana. Semelhantemente, o arianismo começou a disseminar o ensino que negava a divindade de Jesus; o Ebionismo passou a ensinar que Jesus era um homem comum, sem natureza divina; Os judeus negavam o ministério messiânico de Cristo; Os romanos vilipendiavam a pessoa de Jesus. Posteriormente, os católicos reduziram a pessoa de Cristo a aquele que entregou seu poder a Igreja papal.

E a estratégia do diabo continua, pois, nos dias atuais, as tentativas de corromper a visão da Igreja sobre Cristo têm se intensificado. O Cristianismo progressista tem anunciado um Jesus que é condescendente com o estilo de vida pecaminoso da pós-modernidade; teólogos da chamada Teologia do Processo e do Teísmo Aberto redefinem os atributos divinos de Cristo, tornando-o  dependente da criação; os ímpios tentam apresentar um Jesus que pratica as obras da carne e, assim, um Jesus semelhante a eles.

Tudo isso, com a finalidade de corromper a hermenêutica Bíblica da Igreja, pois, a forma como a Igreja interpreta Cristo, determinará como ela interpretará a Bíblia.

Assim sendo, só teremos uma compreensão correta da Bíblia, se, antes de mais nada, tivermos uma compreensão exata e bíblica sobre a pessoa de Jesus.

1) O LOGOS E O SOLA SCRIPTURA

Se por um lado a Bíblia é a Palavra de Deus, por outro lado, a própria Bíblia nos revela que Jesus é a Palavra encarna de Deus.

A relação das Escrituras com a pessoa de Cristo ultrapassa o nível tipológico e profético que apontava para Jesus. Na verdade, a Bíblia é a revelação da vontade de Deus registrada por homens inspirados e, de forma muito mais suprema, Jesus, também, é a manifestação da revelação divina, nos revelando o próprio Deus e sua soberana vontade através da encarnação.

O evangelho de João nos apresenta Jesus como sendo o Verbo (Jo 1:1-2) e, a palavra “verbo”, decorre da palavra grega “logos” que, por sua vez, significa a Palavra revelada e encarnada. João estava testemunhando que Jesus não é apenas o cumprimento da palavra de Deus, Jesus é, também, a própria Palavra de Deus encarnada e revelada a todos os homens.

Jesus é a Palavra de Deus encarnada e a Bíblia é a palavra de Deus registrada. Sendo assim, a Bíblia é a “palavra da Palavra” e, desta forma, só compreenderemos a palavra de Deus se, antes, compreendermos a Palavra encarnada, Jesus (VANHOOZER, 2015).

Assim sendo, a Bíblia e Jesus mantém uma relação muito intima, pois, é a Bíblia que nos revela quem é Jesus e, por outro lado, é a pessoa de Jesus que nos conduz a uma correta interpretação da Palavra de Deus.

Vanhoozer nos apresenta a relação de Cristo com as Escrituras da seguinte forma:

“[...] quem lê a Bíblia pisa em solo sagrado: ‘Deparar com as palavras das Escrituras é deparar com Deus em ação’. Em outras palavras, os leitores também estão envolvidos na administração da autocomunicação do Deus trino e uno. Em ultima análise, Deus comunica Cristo nas Escrituras e por meio delas a fim de tornar os leitores semelhantes a Cristo. [...] Jesus é a comunicação do Pai em forma humana [..]” (Vanhoozer, Kelvin J. “A Trindade, as Escrituras e a função do teólogo”, pg 68-70, 2015).

As Escrituras são reconhecidas como, antes de mais nada, a palavra de Cristo:

“A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando ao Senhor com graça em vosso coração” (Cl 3:16).

A função básica e essencial da Bíblia é nos revelar Cristo:

Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam” (João 5:39).

Por outro lado, só conheceremos a vontade do Pai se, através das Escrituras, conhecermos quem de fato é Jesus:

“Disse-lhe Jesus: Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai? (João 14:9).

Desta forma, Jesus é o centro das Escrituras e tirar Jesus dela é tirar a vida do evangelho, é tirar o propósito da Bíblia e tirar o Autor das Sagradas Escrituras.

Para que a Igreja possa interpretar corretamente a Bíblia é preciso que ela aplique cumulativamente os princípios do Sola Scriptura e Solus Christus, somente as Escrituras e Somente Cristo. Se formos capazes de compreender Cristo através das Escrituras e, ao mesmo tempo, compreendermos as Escrituras por meio de Cristo, compreenderemos os propósitos de Deus revelado a nós através da Bíblia e de Cristo.

2) O ESPÍRITO SANTO APONTA PARA CRISTO:

A Bíblia ensina que ela é a Palavra de Deus revelada a humanidade através do processo de inspiração divina, ou seja, Deus inspirou homens a escreverem a Bíblia.

Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça” (2 Tm 3:16).

Sendo assim, as Escrituras ensinam que o Espírito Santo é o responsável pela inspiração divina e elaboração da Bíblia. Foi o Espírito Santo quem inspirou os escritores humanos a escreverem o texto sagrado.

“Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo” (2 Pe 1:20-21).

No texto de 2Pe 1:20-21, o Apóstolo estabelece o seguinte raciocínio: A Bíblia não pode ser interpretada com base em particulares interesses, propósitos e princípios; A Bíblia foi inspirado pelo Espírito Santo e, logo, para compreendermos a Bíblia precisamos do Espírito Santo.

Sendo assim, o Espírito Santo possui um sagrado papel na interpretação da Bíblia e, em João 16:13, lemos que:

“Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar”.

Desta forma, precisamos do Espírito Santo para interpretar a Bíblia, pois, o Espírito Santo não venho para “falar de si mesmo”, mas de Jesus. Assim sendo, o Espírito Santo aponta para Cristo, seu ministério é glorificar a Cristo.

Para que se possa compreender corretamente a Bíblia, é preciso que estejamos na direção iluminadora do Espírito Santo, pois, certamente, o Santo Espírito nos conduzirá a uma correta compreensão de Cristo e, por conseguinte, da Bíblia.

3) A IGREJA APONTA PARA CRISTO:

O apóstolo Paulo ensina, em Ef 5:23, que Jesus é a cabeça da Igreja e, portanto, ele governa a Igreja. Sendo o cabeça da Igreja, para que possamos entender a vontade divina revelada na Bíblia, precisamos compreender corretamente aquele que governa a Igreja.

Vanhoozer diz o seguinte:

“As Escrituras são, ao mesmo tempo, o berço onde repousa o Cristo encarnado e o cetro com o qual o Cristo exaltado agora governa a igreja” (Vanhoozer, Kelvin J. “A Trindade, as Escrituras e a função do teólogo”, pg 75, 2015).

O dia de pentecostes, de Atos 2, é considerado o dia da inauguração da Igreja, pois, no derramamento do Espírito Santo sobre toda os irmãos, a Igreja foi espiritual e institucionalmente apresentada ao mundo. Mas, o mais interessante é a mensagem que o apóstolo Pedro prega após ser revestido de poder:

“Homens israelitas, escutai estas palavras: A Jesus Nazareno, homem aprovado por Deus entre vós com maravilhas, prodígios e sinais, que Deus por ele fez no meio de vós, como vós mesmos bem sabeis; A este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, prendestes, crucificastes e matastes pelas mãos de injustos; Ao qual Deus ressuscitou, soltas as ânsias da morte, pois não era possível que fosse retido por ela; [...] Saiba pois com certeza toda a casa de Israel que a esse Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo. E, ouvindo eles isto, compungiram-se em seu coração, e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, homens irmãos? E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo” (Atos 2:22-24 / 36-38).

Logo após o derramamento do Espírito Santo e a conseguinte inauguração da Igreja, o apóstolo Pedro se levanta e prega uma mensagem Cristocêntrica. O centro da mensagem de Pedro é a pessoa de Jesus, ele apresenta Jesus aos seus ouvintes e mostra a necessidade de crermos em Cristo. Na verdade, esse é o reflexo do ministério do Espírito Santo que, ao ser derramado sobre aqueles irmãos, impulsionou Pedro e a Igreja a falar de Cristo, pois, Jesus é o centro das Escrituras, somente compreendendo Cristo é que o homem é capaz de realmente entender e praticar os ensinamento bíblicos.

4) JESUS, O CORDEIRO MORTO DESDE A FUNDAÇÃO DO MUNDO:

Em Ap 13:8 está escrito que Jesus é o cordeiro morto desde a fundação do mundo:

“adoraram-na todos os que habitam sobre a terra, esses cujos nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo”.

Sendo assim, Jesus é a Palavra de Deus revelada ao homem, mesmo antes das Escrituras Sagradas terem sido escritas.

Afirmar que Jesus é o “cordeiro morto desde a fundação do mundo” é dizer que, mesmo antes do homem cair, Jesus já planejou nossa redenção e, a fim de nos revelar esse plano, Deus inspirou os autores humanos da Bíblia a escreverem o texto sagrado.

O animal morto no jardim do Édem para fazer roupas para Adão e Eva prefigurava Cristo, ou seja, apontava para obra expiatória de Cristo; os sacrifícios oferecidos por Abel apontava para a necessidade de aceitação por meio de Cristo; os sacrifícios praticados pelo sumo sacerdote, dentro do templo, apontava para a necessidade de redenção por meio do derramamento do sangue de Jesus; as leis morais, civis e cerimoniais apontavam para Cristo; em outras palavras, a Bíblia, de Gênesis a Apocalipse, aponta para a pessoa de Cristo.

Quando a Bíblia fala de Jesus, ela, implicitamente, fala do estado depravado do homem (natureza pecaminosa); da dependência humana por Deus; da necessidade de redenção; da promessa de vida eterna.

Desta forma, para compreendermos corretamente a Bíblia, precisamos compreender, primeiro, que Jesus é o nosso cordeiro que foi morto antes de nós existirmos e, por conseguinte, antes da própria Bíblia ser inspiradamente escrita.

5) JESUS É:

A Bíblia nos revela que Jesus é:

a) O Caminho, a Verdade e a Vida - João 14:6: Sendo isto, Jesus é o único que pode nos conduzir a uma correta interpretação da Bíblia, pois, “ninguém vem ao Pai a não ser” por Cristo;

b) O único Mediador – 1Tm 2:5: Sendo nosso único mediador, só Jesus pode ser o nosso referencial no processo de interpretação da Bíblia;

C) é Deus – Cl 2:9: Sendo Deus, Jesus é o Autor da Bíblia e, ao mesmo tempo, o assunto da Bíblia;

6) CONCLUSÃO:

Jesus é o princípio hermenêutico por excelência da Bíblia, pois, só Ele pode nos conduzir a uma perfeita compreensão das verdades salvíficas reveladas na Bíblia.

Sem Jesus, jamais compreenderemos as palavras de vida eterna, pois: “Senhor, para quem iremos nós? só Tu tens as palavras da vida eterna. E nós temos crido e conhecido que tu és o Cristo, o Filho do Deus vivente” (Jo 6:68-69).

A igreja do século XXI precisa ter uma cristologia genuinamente bíblica, pois, em um mundo onde se prega um Jesus adequado para cada tipo de pessoa ou grupo social, os verdadeiro servos de Cristo precisam compreender quem de fato é Cristo para que, depois, se possa compreender de forma correta a Palavra de Deus e, assim, pregá-la corretamente.

Dois são os princípios hermenêuticos que todos devemos aplicar na interpretação bíblica, quais sejam: Sola Scriptura e Solus Christus. As Escrituras nos revelam Cristo e, por sua vez, Cristo nos revela as Escrituras.

Pb. Diego Natanael.

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