APOLOGÉTICA CRISTÃ: HISTORICIDADE E INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA



1) SOLA SCRIPTURA - SOMENTE AS ESCRITURAS

A Reforma Protestante se fundou na crença de que a Bíblia é a única fonte de autoridade no estabelecimento de doutrinas e na edificação da fé do crente. Diante dos abusos cometidos pela autoridade papal, Martinho Lutero insurgiu levantando a bandeira da justificação pela fé e da sola scriptura, dizendo que a base da salvação é a graça de Deus e somente as Escrituras (sola scriptura) nos revela esta graça salvadora.

Martinho Lutero foi um dos maiores apologistas da fé cristã na história da Igreja. Ele se levantou para defender a suficiência e veracidade da Bíblia quando ninguém tinha coragem de enfrentar o poder herético da igreja católica. Através de argumentos apologéticos inquestionáveis, o grande reformador convenceu o mundo de sua época que as Sagradas Escrituras são historicamente corretas e espiritualmente suficientes para nos conduzir a Deus.

Desta forma, o princípio do sola scriptura (somente as Escrituras) consubstancia este entendimento e eleva a Bíblia ao seu lugar de destaque e exclusividade na função de conduzir o homem à compreensão da verdade e dos propósitos divinos.

Atualmente, vivemos em um mundo que, a semelhança daquele em que viveu Martinho Lutero, muitos questionam a historicidade e suficiência da Bíblia. Teólogos liberais revisionistas negam a total inspiração divina da Bíblia; igrejas neopentecostais equiparam a experiencia pessoal à Bíblia, mesmo que elas contradizem o texto sagrado; a ciência nega a exatidão histórica da Bíblia e a sua origem divina; cristãos, dentre todas as denominações, negligenciam a Palavra de Deus e, por isso, são poucos os que já leram a Bíblia toda.

Diante disto, a igreja moderna enfrenta um grande dilema, qual seja: É preciso fazer uma apologética clara e eficiente a fim de defender a Bíblia destes ataques supracitados, porém, são poucos os crentes que têm coragem ou capacidade para fazê-la. Pois, poucos são os que estudam e praticam integralmente a Palavra de Deus!

Uma pesquisa feita pela Associação Vitória em Cristo constatou que 80% dos crentes nunca leram a Bíblia toda.  Outra pesquisa, feita pelo Instituto de Pesquisas Barna Group, constatou que menos de 40% dos crentes leem a Bíblia diariamente.

Antes de fazermos uma apologética externa, ao mundo, precisamos fazer uma apologética cristã internamente, no seio da igreja, a fim de convencer os próprios crentes de que a Bíblia não é somente um livro, mas, sim, é a palavra revelada de Deus. Os crentes modernos precisam se conscientizar de que é preciso conhecer integralmente a Bíblia a fim de que tenham uma fé pura e genuinamente salvífica.

Assim sendo, qual é a confiabilidade histórica e espiritual da Bíblia? Para responder, precisamos analisar os próximos tópicos.

2) HISTORICIDADE DA BÍBLIA:

A Bíblia foi escrita por, aproximadamente, 40 autores humanos em um lapso temporal de 1.600 anos. Nela, existem os mais diversos relatos históricos sobre a história da humanidade e, em especial, das civilizações antigas. Considerando o tempo necessário para formá-la e a quantidade de autores diferentes, separados por culturas diferentes, épocas diferentes e locais diferentes, a Bíblia é um milagroso livro que se mantém coerente e sem nenhum erro ou contradição.

A Palavra de Deus, Bíblia, foi o primeiro livro impresso no mundo, por Johan Gutemberg, em 1455. Desde sua primeira impressão, a Bíblia é o livro mais traduzido, para 2.900 línguas e dialetos, e o mais vendido no mundo, com uma tiragem estimada de 6 a 8 bilhões de cópias.

Contraditoriamente, a China, um país governado por um regime ateu, produz uma Bíblia por segundo, sendo o país que mais produz exemplares da Bíblia no mundo. O governo chinês, mesmo não crendo na sua inspiração, se curvou diante da notoriedade histórica da Bíblia.

Diante destas informações preliminares, qual o nível de confiabilidade histórica pode ser dado aos relatos bíblicos? Existem provas da historicidade da Bíblia? Vejamos:

2.1) CORRENTES HISTÓRICO/TEOLÓGICAS SOBRE A HISTORICIDADE DA BÍBLIA:

Existem três correntes teológicas que discorrem sobre a historicidade da Bíblia, quais sejam:

a) Corrente Minimalista: Para esta corrente, a Bíblia é um livro teológico que tem, por único objetivo, estabelecer doutrinas, não se preocupando com a exatidão histórica. Assim sendo, a corrente minimalista, entende que a Bíblia contém apenas pequenos/mínimos fragmentos de relatos genuinamente históricos, sendo, portanto, a maioria de seu texto, desprovido de historicidade. 

b) Corrente Maximalista: A corrente Maximalista sustenta que os eventos bíblicos acontecidos após o cativeiro babilônico são, sem controvérsia, historicamente confiáveis. Para esta corrente, a maior parte dos relatos bíblicos são genuinamente históricos, mas, no entanto, existe algumas porções da Bíblia que são desprovidas de autenticidade histórica.

c) Corrente Bíblico/historicista: Para esta corrente, que, particularmente chamo de Bíblico/historicista, a Bíblia é, na sua totalidade, genuinamente histórica, ou seja, não há nenhum relato na Bíblia que não tenha autenticidade histórica. Desta forma, para esta corrente, todos os fatos descritos na Bíblia possuem valor histórico. A corrente Bíblico/historicista é a mais defendida pelos cristãos protestantes e, portanto, é a defendida pelo escritor deste artigo.

2.2) A HISTORIOGRAFIA CRÍTICA: testes gerais de historicidade

A historiografia é uma ciência que cuida do estudo conceitual e epistemológico dos fatos históricos e dos trabalhos dos historiadores. Assim sendo, a historiografia crítica propõe três testes gerais que servem para determinar a historicidade de um fato, relato ou documento, quais sejam: a) o teste bibliográfico; b) o teste interno; e c) o teste externo.

Diante da proposta da historiografia crítica acima citada, passemos a aplicar os três testes gerais de historicidade na Bíblia a fim de reafirmar que ela é historicamente confiável:

A) Teste Bibliográfico: Este teste tem por objetivo determinar qual a quantidade de cópias manuscritas existem sobre o relato e qual a distância de tempo que separa as cópias do original.

Assim sendo, quanto maior o número de cópias manuscritas e quanto menor o lapso temporal entre estas cópias e os originais, maior será a confiabilidade histórica do relato ou fato.

Nestes termos, quando passamos a Bíblia sobre o julgamento do teste bibliográfico, o resultado é que a Bíblia possui um elevado grau de confiabilidade histórica. A Bíblia possui uma enorme quantidade de cópias manuscritas que datam do início do século 2 d. C até a reforma protestante, em 1517.

J. P. Moreland, no livro “Racionalidade da fé cristã”, expõe a quantidade de manuscritos bíblicos existentes, vejamos:

“Os documentos do Novo Testamento, pelo contrário [de outros documentos], têm uma quantidade impressionante de atestados manuscritos. Existem aproximadamente 5.000 manuscritos gregos que contém o todo ou uma parte do Novo Testamento. Há 8.000 cópias manuscritas da Vulgata (a tradução latina da Bíblia feita por Jerônimo entre 382-405) e mais de 350 exemplares das versões em siríaco (aramaico cristão) do Novo Testamento (originadas a partir de 150-250; a maioria dos exemplares pertencem aos anos 400). Além disso, praticamente todo o Novo Testamento poderia ser reproduzido a partir das citações contidas nas obras dos primeiros pais da Igreja. Existem algo em torno de 32 mil citações nos escritos patrísticos anteriores ao Concílio de Nicéia (325)”. (Moreland, pg. 176 e 177).

Logo, a Bíblia possui milhares de cópias manuscritas que possuem um pequeno lapso temporal entre elas e os originais, considerando que os livros do Novo Testamento foram escritos entre os anos 50 e 100 d.C., tornando-a um livro historicamente confiável, segundo o teste bibliográfico.

B) Teste Interno: O teste interno se preocupa em analisar se o documento contém, internamente, afirmações de que ele é de fato a história verdadeira e que foi escrita por testemunhas oculares do relato escrito.

Desta forma, se ficar comprovado que o texto foi escrito por testemunhas oculares dos fatos contidos no documento, logo, o nível de confiabilidade histórica do documento é alto. 
 
Analisando, internamente, o texto bíblico, verifica-se que a maioria de seus livros foram escritos por testemunhas oculares ou por relatos das mesmas. As epístolas de Romanos à Filemon foram escritas por Paulo, testemunha ocular dos fatos que narrava; os evangelhos foram escritos por testemunhas oculares e/ou por autores que colheram os relatos das testemunhas oculares. Atos, um livro histórico e teológico, foi escrito pelo historiador Lucas.

Ademais, a tradição oral possui um relevante papel na averiguação da historicidade de um documento, haja vista que ela é a forma mais rápida e prática de perpetuar uma história. Assim sendo, a Bíblia foi divinamente escrita por homens que foram testemunhas oculares ou que basearam seus escritos na tradição oral.

Vale apena ressaltar que os autores humanos da Bíblia não ganharam nenhum favor material pela inspirada obra, muito pelo contrário, tais autores foram duramente perseguidos pelo o que escreviam e pregavam. Este fato é uma grande prova da veracidade dos relatos Bíblicos, pois, humanamente dizendo, não existia nenhuma vantagem em sustentar os relatos que os autores bíblicos sustentaram, mas, mesmo assim, a inspiração divina os motivou a escrever o Livro dos livros.

Logo, diante das testemunhas oculares que eternizaram, divinamente inspirados, o que viram e apreenderam, fica claro que a Bíblia é, segundo o teste interno da historiografia, um livro historicamente confiável. 

C)Teste Externo: O teste externo se preocupa em verificar se os materiais externos ao documento (fontes extra bíblicas: descobertas arqueológicas, os livros patrísticos e demais documentos antigos) corroboram a historicidade do documento. 

Sendo assim, se existir outros manuscritos históricos, descobertas arqueológicas e outros materiais de natureza histórica que corroboram os relatos da Bíblia, logo, a probabilidade do texto bíblico ser historicamente confiável é grande.

Os escritos patrísticos, elaborados pelos primeiros pais da Igreja, apologistas cristãos, corroboram os fatos contidos na Bíblia. Vale apena ressaltar que a teologia Patrística é composta por uma série de escritos apologéticos que datam do primeiro ao terceiro século da história da Igreja, se transformando em uma evidência externa da historicidade da Bíblia, pois, neles encontramos citações diretas do texto bíblico e, também, comentários sobre o mesmo onde se verifica a coerência com o que é dito na Bíblia.

Outrossim, a arqueologia é o ramo da ciência que mais tem colaborado no processo de comprovação da historicidade da Bíblia. Existem várias descobertas arqueológicas que validam a historicidade dos relatos bíblicos, dentre os quais:

c.1) O dilúvio universal: Um arqueólogo britânico chamado Leonard Woolley fez uma surpreendente descoberta ao escavar uma área que estava situada na antiga cidade de Ur (Atual Iraque). O arqueólogo descobriu sedimentos que dão indícios de uma grande inundação que causou desastres globais e pode ter ocorrido entre 4.000 a.C e 3.500 a.C, período este que corrobora o que a Bíblia diz sobre o Dilúvio que Deus mandou. Ademais, achados arqueológicos de várias culturas dão conta de histórias de um dilúvio ocorrido nos tempos antigos e, tais achados, mostra que a informação sobre o dilúvio existia nas mais diferentes culturas e civilizações antigas.

c.2) As pragas do Egito: um papiro chamado de “Papiro de Ipwer”, descoberto no Egito, traz o relato de uma série de pragas que acometeram os egípcios. Neste papiro, um egípcio faz uma oração ao deus Hórus pedindo que as pragas cessassem. Também, consta neste papiro o relato de o rio Nilo se tornando sangue; da escuridão invadindo a terra; dos animais do campo morrendo. Este papiro trata-se, portanto, de uma evidência externa do relato bíblico.

c.3) História dos Juízes de Israel: Uma coluna comemorativa chamada de “Estrela de Merneptah”, escrita por volta de 1207 a.C, nos mostra o relato das conquistas militares de um Faraó. Nela, consta o nome de “Israel” como um dos inimigos do Egito. Desta forma, considerando que ela foi escrita no ano 1207 a.C, mesmo período em que Deus levantou os Juízes em Israel, fica claro que não se pode negar que a nação de Israel já existia neste período.  

c.4) O falso profeta Balaão: Foram encontrados, na cidade de Tell Deir Allá, fragmentos de escrita aramaica que, juntos, constavam um relato da vida de um profeta chamado “Balaão, filho de Beor” e de suas visões, sendo este o mesmo falso profeta de Números 22.

c.5) O rei Davi: Foi descoberta outra placa comemorativa, chamada “Estrela de Tel Dã”, que relatava as conquistas militares da Síria. A placa comemorativa traz a inscrição “casa de Davi”, fazendo referência a existência real de Davi.

c.6) Pilatos: Uma placa comemorativa descoberta em Cesaréia, no ano 1962, traz a informação de um prefeito da Judéia chamado Pilatos. Antes desta descoberta, a existência de Pilatos era historicamente questionada pelos historiadores. Contudo, tal descoberta acabou por corroborar, mais uma vez, a Bíblia.

C. 7) Os grandes impérios da história da humanidade: Existem várias descobertas arqueológicas que dão conta da existência dos impérios: Assíria; Babilônico; Medo-Persa; Grego e Romano. Todos os impérios aqui citados são mencionados pela Bíblia na mesma ordem cronológica de seus surgimentos, historicamente comprovados.

c.8) Qumran e os Manuscritos do Mar Morto: Este é o maior achado arqueológico relacionado a Bíblia até os dias de hoje. Em 1947, um garoto Beduíno descobriu, nas redondezas do Mar Morto, uma série de rolos manuscritos que correspondiam a cópias do Antigo Testamento que datavam de até o ano 250 a.C. Até antes desta descoberta, só tínhamos cópias do A.T datadas de 10 d.C e, portanto, muito distante das versões originais.

Muitos outros achados arqueológicos poderiam ser citados a fim de comprovar a historicidade da Bíblia, contudo, os aqui citados são suficientes para satisfazer o teste externo de historicidade da Bíblia.

3) INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA

Falar da inspiração divina da Bíblia é, antes de mais nada, falar da autorevelação de Deus. Pois, a crença de que a Bíblia é um livro cujo autor é Deus, pressupõe a crença de que Deus é imanente a sua criação e, portanto, se revela ao homem de várias maneiras, inclusive através da Bíblia.

A palavra “inspiração” decorre da palavra grega “theopneustos” que, por sua vez, decorre da junção de duas palavras gregas, quais sejam, “Theo” (Deus) e “Pneustos” (sopro). Desta forma, inspiração significa “aquilo que é dado pelo sopro de Deus” (Teologia Sistemática Pentecostal, pg. 31).

A inspiração divina da Bíblia é, portanto, a doutrina que atribui à Bíblia o status de livro escrito por homens sob a inspiração direta de Deus. Desta forma, a inspiração é a obra do Espírito Santo dirigindo os escritores da Bíblia a fim de transcreverem a Palavra de Deus ao homem.

A função dos escritores da Bíblia é comparada ao papel dos escribas que eram contratados para escrever ou copiar algum texto que uma pessoa queria enviar a outra ou que desejava preservar. O escriba não escrevia o que queria, mas, sim, o que lhe era dito ou determinado. De igual forma, o Espírito Santo dirigiu os corações e mentes dos escritores de tal forma a fazer com que eles, respeitando suas personalidades e individualidades, escrevessem aquilo que Deus desejava revelar ao homem.

A própria Bíblia testifica dela mesmo ao declarar sua origem divina. Vejamos:

2 Tm 3:16:Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça”.

Paulo, no texto supra, ao dizer que toda escritura é divinamente inspirada, estava fazendo uma apologia da inspiração divina do Antigo Testamento, haja vista que o Novo Testamento, na época de Paulo, ainda estava em formação e, portanto, não existia ainda. Contudo, mesmo levando isso em consideração, quando Deus inspira Paulo a escrever o texto de 2Tm3:16, Deus estava aprovando as próprias palavras de Paulo e do restante do Novo Testamento que estava por ser completado ainda, como escritos inspirados por Ele.

O texto de 2 Pe 1:20 e 21 nos apresenta a forma de inspiração, vejamos:

“Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo”. (grifo nosso).

O texto de 2Pe 1:20 e 21 nos fornece duas informações quanto a inspiração da Bíblia: 1) Que a Bíblia não foi escrita por vontade exclusiva do homem, ou seja, ela não tem origem ou inspiração humana; 2) A Bíblia possui origem na vontade divina; 3) o texto nos fornece o modus operandi de Deus no processo de escrita da Bíblia, qual seja: a Bíblia foi escrita por homens, porém, inspirados diretamente pelo Espírito Santo de Deus.

O teólogo Tomas de Aquino, citado por Claudionor Corrêa de Andrade, disse que “o autor principal da Sagrada Escritura é o Espírito Santo; o homem foi apenas o seu autor instrumental” (Teologia Sistemática Pentecostal, pg. 21).

3.1) TEORIAS SOBRE A INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA:

a) Teoria da inspiração natural humana: Para essa teoria, a Bíblia decorre de uma inspiração natural do homem e não de Deus, ou seja, a Bíblia foi escrita por homens dotados, naturalmente e não divinamente, de um intelecto avançado. Para esta teoria, essa mesma inspiração é encontrada nos livros de Sócrates, Platão, Shakespeare, Camões, etc. Assim sendo, a teoria da inspiração natural elimina Deus do processo criativo da Bíblia e atribui ao intelecto do homem a criação do texto bíblico. Contudo, os próprios escritores da Bíblia declararam que o que eles escreveram não decorreram de um processo intelectual, mas, sim, de uma inspiração divina (Jr 1.9 c/c Ed 1.1; Ez 3.16-17; 2Sm 23.2 c/c At 1.16; At 28.25; 2Pe 1:20 e 21; 2Tm 3:16).   

b) Teoria da inspiração divina comum: Esta teoria ensina que a inspiração dos escritores da Bíblia é a mesma inspiração de quando pregamos, cantamos, ensinamos, adoramos, etc, ou seja, para esta teoria, a inspiração dos escritores bíblicos não foi algo excepcional e temporário, mas, sim, algo comum. Assim sendo, a teoria da inspiração comum não faz diferenciação entre a inspiração divina comum, em que Deus nos leva a pregar, cantar e adorar, com aquela inspiração divina extraordinária, onde Deus usou determinadas pessoas para revelar sua vontade através da elaboração da Bíblia. A inspiração comum, também conhecida como iluminação, é a ação de Deus motivando nossos corações a realizar certas obras ou a entender suas verdades; Já a inspiração extraordinária é uma intervenção divina no coração do homem, em grau maior do que a comum, a fim de Deus se revelar de maneira especial. Só forma inspirados extraordinariamente os escritores da Bíblia, nós somos iluminados (inspiração comum) a fim de que possamos entender aquilo revelado pela Inspiração extraordinária.

c) Teoria da inspiração parcial: Para esta teoria, existem partes da Bíblia que foram inspiradas e outras não, ou seja, somente parte da Bíblia foi escrita sob a inspiração divina. Desta forma, essa teoria nega a inspiração total (de Gênesis a Apocalipse) da Bíblia. Para os adeptos desta teoria, a Bíblia contém a Palavra de Deus, mas não é a Palavra de Deus. Contudo, a própria Bíblia contradiz esta teoria, pois, em 2Tm 3:16 Paulo afirma que “toda Escritura é divinamente inspirada por Deus”.

d) Teoria da inspiração das ideias: Para esta teoria, Deus inspirou tão somente a ideia por traz do texto, mas não as palavras usadas pelos escritores humanos. Segundo esta teoria, as palavras usadas pelos escritores sacros foram empregadas segundo a vontade deliberada deles, sem, portanto, nenhuma inspiração divina. A única inspiração foi quanto a ideia transmitida através do texto.

O teólogo pentecostal Antônio Gilberto (in memória) faz a seguinte crítica a esta teoria:

“A teoria da inspiração das idéias – Ensina que Deus inspirou as idéias da Bíblia, mas não as suas palavras; estas teriam ficado a cargo dos escritores. Ora, o que é “palavra”, na definição mais sumária, senão “a expressão do pensamento”? Tente agora mesmo o leitor formar uma idéia sem palavras... Impossível! Uma idéia ou pensamento inspirado só pode ser expresso por palavras inspiradas. Ninguém há que possa separar a palavra da idéia. A inspiração da Bíblia não foi somente “pensada”, mas também “falada”. Veja a palavra “falar” em 1Coríntios 2.13; Hebreus 1.1 e 2Pedro 1.21. Isto é, as palavras foram também inspiradas (Ap 22.19). De um modo muito maravilhoso, vemos a inspiração das palavras da Bíblia, não só no emprego da palavra exata, mas também na ordem em que elas são empregadas (no original, é claro). Apenas três exemplos: Jó 37.9 e 38.19 (a palavra precisa), e 1Coríntios 6.11 (ordem das palavras no seu emprego)”. (Acessado em 31/10/2019:http://www.cpadnews.com.br/blog/antoniogilberto/fe-e-razao/30/a-biblia-e-a-palavra-de-deus-(parte-i).html).

e) Teoria do ditado verbal: Esta teoria ensina que Deus literalmente ditou cada palavra escrita pelos escritores bíblicos e de tal forma que Ele não deixou espaço para que o escritor utilizasse seu estilo de escrita. Esta teoria transformam os escritores em máquinas e transformam, por conseguinte, a Bíblia em um livro que foi escrito por um processo semelhante ao da psicografia.

f) Teoria da inspiração verbal e plenária: Esta teoria ensina que a Bíblia foi totalmente inspirada por Deus e todos os livros dela foram igualmente (na mesma proporção) inspirados por Deus, assim, dizemos que a inspiração é plenária. Por outro lado, a inspiração também é verbal no sentido de que o Espírito Santo dirigiu os escritores não somente quanto a ideia (propósito), mas, também, quanto as palavras escritas pelos autores da Bíblia. Contudo, esta direção/inspiração do Espírito Santo, respeitou a liberdade, individualidade, personalidade e estilo de cada autor da Bíblia, tornando-o um participante ativo e consciente na elaboração do texto bíblico. Esta é a teoria utilizada pelas igrejas protestantes e a utilizada pelo autor deste artigo.

3.2) DA INSPIRAÇÃO DECORRE A INERRÂNCIA DA BÍBLIA:

A inerrância da Bíblia é consequência teológica da doutrina da inspiração verbal e plenária, pois, se cremos que todos os livros da Bíblia foram inspirados por Deus, sem exceção, e que esta inspiração foi quanto as ideias e palavras constantes no texto bíblico, logo, cremos na sua inerrância.

A doutrina da inerrância da Bíblia ensina que a Bíblia não contém erros ou contradições, pois, foi ela totalmente inspirada por um Deus que não erra e não se contradiz. Desta forma, a Bíblia é infalível!

Sobre a inerrância da Escritura Sagrada, o teólogo pentecostal Claudionor Corrêa de Andrade nos apresenta uma brilhante definição, in verbis:

A inerrância bíblica é a doutrina segundo a qual as Sagradas Escrituras não contêm quaisquer erros, por serem a inspirada, infalível e completa Palavra de Deus. A Bíblia é inerrante tanto nas informações que nos transmite como nos propósitos que expõe e nas reivindicações que apresenta. Sua inerrância é plena e absoluta. Isenta de erros doutrinários, culturais e científicos, inspira-nos ela confiança plena em seu conteúdo” (Teologia Sistemática Pentecostal, pg. 33-34).

A doutrina da inerrância da Bíblia é perfeitamente coerente com a razão e história, pois, até hoje nenhum cientista, filósofo ou historiador comprovou cabalmente a existência de qualquer erro constate na Bíblia. 

3.2.1) Erros nas versões atuais da Bíblia:

Quanto a inerrância das Sagradas Escrituras, uma observação deve ser feita: quando se diz que a Bíblia é inerrante, o que se pretende dizer é que o seu texto original não contém erros. No entanto, as diversas traduções existentes no mercado podem, eventualmente, conter erros de escrita, de doutrinas ou de tradução. Tais erros nas diversas versões existentes da Bíblia podem acontecer por um erro na tradução da mesma ou por dolo do tradutor que deseja impor uma visão herética.

Sobre isso, o comentarista da Bíblia de Estudo Pentecostal diz:

A Bíblia é infalível na sua inspiração somente no texto original dos livros que lhe são inerentes. Logo, sempre que acharmos nas Escrituras alguma coisa que parece errada, ao invés de pressupor que o escritor daquele texto bíblico cometeu um engano, devemos ter em mente três possibilidades no tocante a um tal suposto problema: a) as cópias existentes do manuscrito bíblico original podem conter inexatidão; b) as traduções atualmente existentes do texto bíblico grego ou hebraico podem conter falhas; ou c) a nossa própria compreensão do texto bíblico pode ser incompleta ou incorreta” (Bíblia de Estudo Pentecostal, pg. 1883).

Esta observação se faz necessária, haja vista que, atualmente, existem muitas versões da Bíblia que são manipuladas a fim de defender determinadas práticas condenadas pelo texto original da Bíblia. Como exemplo, hoje, existe a “Bíblia Queen James”, esta é uma versão homossexual da Bíblia  que tem por objetivo apresentar uma reinterpretação da Bíblia de acordo com o estilo de vida LGBT; Também, existe uma versão feminista da Bíblia onde o texto bíblico é manipulado para apoiar as reivindicações feministas e negar o modelo patriarcal de família que a Bíblia original ensina; Igualmente, temos o Evangelho segundo Alan Kardec, este é um livro onde o autor impõe doutrinas espíritas no texto bíblico.

Logo, quando nos deparamos com eventuais erros na versão da Bíblia que estamos lendo, precisamos ter discernimento para entender que estes erros não fazem parte do texto original da Bíblia, pois, este é infalível.

3.3) PROVAS DA INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA:

a) Sua indestrutibilidade: A Bíblia é um livro milenar que culturas, reinos, impérios, religiões e ideologias não puderam destruí-la. A própria conservação do texto Bíblico durante uma grande parte da história da humanidade é prova da inspiração divina, pois, nenhum outro livro milenar conseguiu chegar intacto até os nossos dias e produzir grande influencia na sociedade. A Bíblia não só esteve presente nos grandes acontecimentos da história, mas, ela moldou a história da humanidade, sua presença era, e ainda é, influenciadora, sendo o livro mais lido do mundo.

b) Sua harmonia: A Bíblia, como já dito anteriormente, foi escrita por, aproximadamente, 40 autores diferentes, em um período de 1600 anos, separados por diferentes épocas e culturas e, mesmo assim, todos os seus livros se mantém em perfeita harmonia uns com os outros. Não existe contradição entre os livros, todos expõe as mesmas verdades com estilos literários diferentes. Essa harmonia só pode ser explicada pela doutrina da inspiração, pois, o homem não conseguiria ser tão harmônico na escrita de um livro cujo o lapso temporal perfaz 1600 anos e cuja autoria é dividida por 40 pessoas diferentes.

c) Argumento da experiência: A experiencia que os 2,3 bilhões de cristãos tiveram através da Bíblia não podem ser atribuídas a uma obra humana. As vidas de bilhões de pessoas, que professam a fé cristã, não foram transformadas pelos livros de Alan Kardec, pela legislação, pelos livros didáticos, pelos livros de autoajuda, pelo alcorão, pelos ensinamentos de Buda ou pelo manifesto comunista de Karl Marx, mas, sim, pelo efeito transformador da Bíblia, Palavra de Deus inerrante. A transformação produzida pela Bíblia e vivida pelos cristãos não se trata de uma mera mudança de convicções religiosas, esta transformação transforma a vida das pessoas de dentro para fora, trazendo vida, esperança, paz, justificação, santidade, fruto do Espírito, dom espiritual e, mais importante, Salvação. Esta transformação bíblica traz reflexo na sociedade, pois, transforma o viciado em liberto, o mendigo em um homem com dignidade, o bandido em um homem probo, os homens maus em pessoas bondosas. Somente um livro inspirado por Deus tem capacidade de realizar esta transformação, pois, o Estado provou que ele não tem condições de produzir tal mudança e neste nível.

d) O testemunho interior do Espírito Santo: A medida que o homem tem contato com a Bíblia, o próprio Espírito Santo dá testemunho da inspiração. O Espirito de Deus, que inspirou os autores da Bíblia, confirma no coração do homem que o livro que ele está lendo é a expressão plenária e verbal da Palavra de Deus.

Calvino, falando sobre a inspiração da Bíblia e o testemunho do Espírito Santo, certa vez disse:

Como só Deus pode com propriedade dar testemunho de suas próprias palavras, também tais palavras não seriam inteiramente criadas pelo coração dos homens se não fossem seladas pelo testemunho interior do Espirito (testimonium Spiritus intus). Portanto, o mesmo Espírito que falou pela boca dos profetas deve penetrar em nossos corações para nos convencer que eles fielmente apresentaram a mensagem que Deus lhes confiara” (Calvino apud Alan Richardson, Apologética Cristã, pg. 170).

e) Argumento da profecia: A Bíblia contém centenas de profecias que, cabalmente, se cumpriram ao longo da história da humanidade. A previsão da ascensão e queda dos impérios babilônico, persa, grego e romano é um bom exemplo de profecia Bíblia cumprida literalmente na história da humanidade. Outrossim, a previsão de que Deus levantaria um imperador chamado Ciro que libertaria o povo judeu da servidão babilônica se cumpriu integralmente, esclarecendo que tal profecia foi dita em aproximadamente 150 anos antes de Ciro, rei persa, nascer. Daria para citar centenas de profecias que se cumpriram, provando que a Bíblia só pode ter sido escrita sob a inspiração de Deus.

4) DA NECESSIDADE DA BÍBLIA

Podemos destacar 4 necessidades da leitura da Palavra de Deus, Bíblia:

a) Necessidade espiritual: Uma vez que cremos na inspiração divina da Bíblia, precisamos nos atentar que a sua leitura e vivencia se faz necessária a fim de que possamos conhecer os propósitos divino e tenhamos comunhão com Deus (Mt. 4.4; 2Tm 3:16).

b) Necessidade moral: A Bíblia estabelece princípios morais que possibilitam o convívio em sociedade, pois, transforma o homem mau e bom. Os princípios morais bíblicos nortearam a sociedade ocidental de tal forma que as legislações relacionadas a dignidade humana, direitos individuais e sociais possuem influência direta ou indireta da Bíblia.

c) Necessidade histórica: Provada a historicidade da Bíblia, segue-se que necessitamos dela para compreendermos a história da humanidade, pois, a Bíblia é, também, uma expressão da história humana.

5) CONCLUSÃO:

A apologética cristã precisa, urgentemente, realizar uma apologia interna e externa da historicidade e inspiração da Bíblia.

Interna, pois, muitos cristãos não conhecem os fundamentos da historicidade e inspiração da Bíblia e, pior, muitos crentes se quer já leram a Bíblia toda. Desta forma, só seremos capazes de produzir apologistas cristãos autênticos se discipularmos corretamente os crentes modernos de modo que passem a desejar a Palavra de Deus da mesma forma que um faminto deseja um prato de comida.

Externa, pois, os ataques contra a historicidade e inspiração da Bíblia vêm de todos os lados, da ciência, da história, da teologia liberal, de ateus e de outras religiões pagãs. Desta forma precisamos apresentar uma defesa sólida e coerente a fim de mostrar ao mundo o poder transformador da Palavra de Deus.

“Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração” (Hb. 4:12).

Pb. Diego Natanael.

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Este artigo serve de material de apoio para a revista de escola dominical da Betel:

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