APOLOGÉTICA CRISTÃ: DEUS IMANENTE!
1) DEUS IMANENTE
A criação e a Bíblia revelam a existência de um Deus
que é, ao mesmo tempo, transcendente e imanente. Transcendente, pois, Deus está
infinitamente acima/fora da criação e, portanto, é inacessível. Imanente, pois,
apesar de está acima da criação, Deus está presente nela e a governa com a
destra da sua mão. Deus é inacessível a criação finita, porém, mesmo assim, se
revela a ela de maneira progressiva a fim de se relacionar com sua criação.
Aparentemente, a transcendência é atributo
incompatível com a Imanência, pois, como Deus poder ser, ao mesmo tempo,
inacessível e próximo da sua criação? Contudo, tal incompatibilidade se desfaz
quando a revelação geral e especial descortina diante de nossos olhos a
assinatura de um Deus infinito, mas, também, presente!
A doutrina da Imanência de Deus estabelece a fé de
que, apesar de estar acima da sua criação, Deus se faz presente no universo,
governando-o e intervindo na sua criação a fim de cumprir seus propósitos
soberanos. Em outras palavras, a doutrina da imanência estabelece a ideia de um
Deus relacional, ou seja, que se relaciona com sua criação, sendo diferente da
mesma, mas presente nela.
A Bíblia nos revela a perfeita compatibilidade entre
a transcendência e imanência divina, vejamos:
Jr.
23:23: “Porventura
sou eu Deus de perto, diz o Senhor, e não também Deus de longe?”
Aqui, vale apena
destacar duas palavras do texto de Jeremias, quais sejam: “perto” e “longe”.
Quando Deus afirma que é Deus de perto, Ele está enfatizando exatamente a sua
imanência, ou seja, que Ele está presente na sua criação e à governa; Porém, ao
afirmar que, também, é Deus de longe, Deus está enfatizando sua transcendência
e, assim, sua onipotência e onipresença.
Ef.
4:6: “Um só Deus
e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós”.
Mais uma vez, agora no texto de Efésios, temos uma declaração
divina de sua transcendência (“o qual é sobre todos”) e imanência (e por todos
e em todos vós”).
Isaías 57:15: “Porque assim diz o Alto e o
Sublime, que habita na eternidade, e cujo nome é Santo: Num alto e santo lugar
habito; como também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o
espírito dos abatidos, e para vivificar o coração dos contritos”.
A transcendência
de Deus o coloca num “alto e santo lugar”; Já a sua imanência coloca sua presença cuidadora na vida de um homem cujo coração está contrito e abatido.
Outrossim, a onipresença de Deus é a maior prova do
governo e providência divina sobre a criação. Pois, tudo o que existe possui
uma causa primária que sustenta e justifica a existência do universo, e esta
causa tem que ser infinita. Deus é a causa primária do universo e, portanto,
Deus é infinito. Se Deus é infinito, logo, Ele contém toda a criação finita, ou
seja, Deus está presente dentro da criação, mas não contido nela, do mesmo
modo, Deus está fora da criação, mas não excluído dela.
Tozer, ao falar
da onipresença de Deus, estabelece, também, a importância da doutrina da
imanência divina, vejamos:
“A doutrina
da onipresença divina personaliza a relação do homem com o universo no qual ele
está inserido. Essa grande verdade fundamental empresta significado a todas as
outras verdades e dá supremo valor à sua ínfima vida. Deus está presente, perto
dele, ao lado dele, e este Deus o vê e conhece completamente. É aqui que começa
a fé, e ainda que ela se estenda a milhares de outras maravilhosas verdades, todas
estas dependem da verdade de que Deus existe, e Deus está aqui” (Tozer, O
conhecimento do Santo, pg. 153).
Desta forma, a
doutrina da imanência divina é genuinamente bíblica e, racionalmente,
convincente. Pois, se aceitarmos a existência de um Deus todo poderoso que
criou o universo, temos que aceitar o seu eterno governo sobre sua criação. Ademais,
a criação é sustentada pelo poder de Deus de tal forma que, se Deus abandonar a
criação, esta não mais existiria. A criação depende unicamente de Deus para que
possa continuar a existir, pois, sem Ele, a criação iria entrar em colapso e se
autodestruiria.
2) DUAS FORMAS DE INTERPRETAÇÃO DA
DOUTRINA DA IMANÊNCIA DIVINA
Com relação a doutrina da imanência divina, existem
duas formas de interpretação da mesma, quais sejam:
a) A imanência é compreendida como aquilo
que é parte de um ser ou que se confundi com ele:
Esse tipo de abordagem nos conduz a, no mínimo, três conclusões heréticas: (1) Essa posição acaba por divinizar a criação, pois estabelece o
conceito de que a criação é parte da divindade e, portanto, é a própria
divindade; (2) Se a criação se confundi com Deus, logo, é ela quem é Deus e,
portanto, não existe um Deus pessoal e distinto da criação; ou (3) Deus, está
preso, contido na criação de tal modo que não existe sem ela.
Por óbvio, este tipo de interpretação da doutrina da
imanência não é bíblica e é inconsistente com a realidade revelacional
(realidade que Deus nos revelou através da criação e da Bíblia).
b) A imanência de Deus é compreendida
como Deus presente na criação, não porque ela é da mesma substância que Deus ou
inerente à Deus, mas porque a criação depende de Deus para existir: Essa
interpretação da imanência divina é compatível com a Palavra de Deus e com sua
revelação geral. Pois, Deus está presente e governa a criação não porque
dependa dela para existir ou para suprir-lhe alguma necessidade, mas, porque a
criação depende do governo divino para existir, ou seja, a presença constante e
governamental de Deus sustenta a criação de tal forma que, se ele à abandonasse,
tudo o que existe se autodestruiria, pois, a criação não é autoexistente, mas,
sim, eternamente dependente da presença e poder de Deus.
3) DOUTRINAS E FILOSOFIAS QUE CORROMPEM A
DOUTRINA DA IMANÊNCIA DIVINA:
Muitos negam a existência de um criador e a
necessidade de um. Tais pessoas vivem como se Deus não existisse e negam qualquer
argumento pró teísta. Contudo, diante das evidências científicas e filosóficas,
o argumento teísta de que existe um ser que é a causa primária do universo e,
portanto, criador do mesmo, dificultou a vida dos ateus. Diante disto, surgiu
novos modelos de negação a uma deidade pessoal, dentre os quais, o Deísmo e o
panteísmo.
O Deísmo e o Panteísmo são filosofias que não negam a existência de um criador, mas, redefinem sua natureza e sua participação junto
a criação. Agora, negar a existência divina ficou no passado, “a moda da vez” é
dizer que Deus abandonou sua criação ou que a criação é Deus.
A) Deísmo: Esta
é uma corrente teológica e filosófica, herética, que afirma a existência de Deus,
mas, nega que Deus governa, intervenha ou se relaciona com a criação. Em outras
palavras, para os deístas, Deus criou o universo de uma maneira primitiva e fixou
leis naturais impessoais que regeriam este universo, assim, após a fixação destas leis, Deus
abandonou sua criação e deixou o universo se autogovernar, ou seja, Deus não intervém
em nenhum aspecto da vida de sua criação. Assim sendo, Deus não salva ninguém,
Deus não leva para o céu e nem para o inferno, pois, não existe nenhuma
intervenção divina a fim de mudar o destino do homem ou do universo, o homem
está só.
O Deísmo supervaloriza a transcendência divina e nega
sua imanência, ou seja, para o Deísmo, Deus é inacessível e, portanto, está tão
longe da sua criação que não exerce nenhum tipo de governo ou relacionamento
sobre ela (criação). Para os deístas, é impossível se relacionar com o criador,
pois, Deus não se revela, de maneira nenhuma, a criação, Deus não se preocupa
com ela e, por isso, a relegou a permanecer sem a sua presença divina. Assim sendo,
o universo se autogoverna.
Como se pode depreender, o Deísmo corrompe a presença
de Deus ao negar a sua imanência e, por conseguinte, sua onipresença.
B) O Panteísmo: O Panteísmo estabelece o conceito de
que “tudo é Deus e Deus é tudo”, ou seja, esta corrente equipara a criação a
Deus, dizendo que a criação é Deus e não há nada que exista que não seja uma
porção da divindade. Para o Panteísmo, não existe um Deus pessoal, a divindade
é todo o universo. Ao dizer que tudo é Deus, o Panteísmo não faz distinção
entre criador e criatura, negando, assim, a existência de um Deus que
transcende o universo.
O Panteísmo enfatiza a
imanência de Deus e nega a sua transcendência. Pois, fixa sua filosofia na
compreensão de que a imanência deve ser entendida como
aquilo que é parte de um ser ou que se confundi com ele. Desta forma, Deus não
é um ser pessoal e distinto que está fora ou acima da criação (transcendente),
Deus é a própria criação, ou seja, o universo é Deus e Deus é o universo.
Portanto, para esta filosofia, Deus está preso na criação e/ou é a própria
criação.
Por certo, o Panteísmo, ao negar a transcendência de
Deus, acaba por negar todos os atributos divinos e, em especial, a autoexistencia
de Deus e sua pessoalidade.
C) Pandeísmo: trata-se
de uma posição filosófica sincrética que mistura as ideias panteístas com as
ideias deístas. Para o Pandeísmo, Deus é criador do universo, pois, o universo é
Deus, e, também, Deus não se relaciona com a criação, pois, Deus não é um ser
pessoal ou antropomórfico, Deus é a própria criação. Em outras palavras, para
esta filosofia sincrética, Deus não é transcendente e, tão pouco, imanente, “Deus
originou e se tornou o universo”.
D) O
Determinismo Absoluto: A doutrina do determinismo absoluto
enfatiza a imanência de Deus a tal ponto que ensina que Deus predetermina todos
a ações do homem, inclusive seus pecados. Para os deterministas, Deus se
relaciona com o homem de tal sorte que seu governo anula, extingue a liberdade
humana, ou seja, no governo de Deus sobre a criação, tudo o que acontece e tudo
o que o homem faz não é por escolha própria, mas, sim, por obra predeterminadora de Deus. Em outras palavras, Deus escolheu e determinou de antemão todas as escolhas
que cada um de nós faríamos, desde o que comer no café da manhã até a escolha de pecar.
Para o determinismo absoluto, tudo o que o homem faz,
seja bom ou ruim, não é resultado de uma liberdade humana, mas, sim, da vontade
predeterminante de Deus. Desta forma, para esta corrente teológica, a imanência
divina é soberana e, portanto, anula a liberdade humana.
Logo, a doutrina do determinismo absoluto corrompe a
doutrina da imanência divina. Pois, a Bíblia nos apresenta um Deus que dotou
suas criaturas com liberdade de tal forma que os homens se tornam moralmente
responsáveis pelos seus atos diante de Deus. O governo de Deus, sobre sua
criação, é soberano e, também, amável, santo e bondoso, fazendo com que Ele
jamais predetermine que os homens pequem (Jr 19.5). Os pecados dos homens são
decorrentes do mal uso de sua liberdade e não da vontade divina.
4) PROVAS DE QUE DEUS AINDA SE RELACIONA
COM SUA CRIAÇÃO:
A) Prova Bíblica / Revelação Especial
A Bíblia é a prova por excelência da imanência
divina. Pois, reputamos a Bíblia a qualidade de livro inspirado por Deus, ou
seja, Deus, através do relacionamento com sua criação e intervenção na vida do
homem, decidiu revelar sua vontade de maneira especial através daquilo escrito
nas Sagradas Escrituras.
2Tm
3:16: “Toda a
Escritura é inspirada por Deus, e útil para ensinar, para repreender, para
corrigir e para formar na justiça”.
Se Deus não fosse imanente, logo, o surgimento da
Bíblia, como palavra inspirada, seria impossível. Nós só conhecemos a vontade
de Deus, porque Ele está presente na criação e se relaciona com ela de tal forma
que é possível falar com Deus e sentir sua presença. Foi em decorrência deste
relacionamento iniciado por Deus que Ele decidiu compor o mais belo livro da
história da humanidade, a Bíblia!
Na Bíblia, percebemos que Deus utilizou uma linguagem
antropomórfica a fim de se relacionar com o homem. O antropomorfismo é
atribuir a Deus partes ou qualidades humanas (mão, olho, coração, etc); a antropopatia
é atribuir a Deus sentimentos humanos (amor, felicidade, alegria, ira,
contentamento, etc); e o zoomorfismo é atribuir a Deus partes ou qualidade
de animais (Jesus é o cordeiro, leão da tribo de Judá, O Espírito Santo venho
como pomba, etc).
Desta forma, a linguagem e manifestação antropomórfica,
antropopática e zoomórfica é um dos métodos utilizados por Deus a fim de se
revelar a seres finitos e ser relacionar com os mesmos.
B) Prova arqueológica/científica: a
intervenção de Deus na história:
A arqueologia vem comprovando a veracidade da Bíblia
e, por conseguinte, a historicidade da presença de Deus na história da
humanidade. O dilúvio, por exemplo, é um fato bíblico que, recentemente, foi
comprovado pela arqueologia e demais ciências; O código genético, corroborando
as descobertas arqueológicas, provou que
a humanidade descende de um único casal e a Bíblia diz que este casal foi Adão
e Eva e, ambos, foram criados pela intervenção direta de Deus; A linguística, ciência
que estuda a linguagem humana, chegou a conclusão de que a humanidade, em algum
momento de sua história passada, falava o mesmo idioma e que, abruptamente, surgiram
diferentes idiomas. Tal constatação corrobora a intervenção divina na
construção da torre de babel e, portanto, prova a imanência divina.
Assim sendo, quando a arqueologia e demais ciências retificam o relato Bíblico, consequentemente, estão dando prova da imanência divina e,
assim, da intervenção de Deus na história da humanidade. Portanto, Deus não
abandonou sua criação, Ele a governa!
C) Jesus,
a maior prova da imanência divina: a doutrina do Logos
A
encarnação de Cristo é a maior prova de que Deus não abandonou sua criação,
mas, sim, a governa com soberania e bondade. A historicidade de Jesus é
comprovada pelos diversos relatos bíblicos e, também, pelos relatos de historiadores
seculares que registraram a existência de Jesus, como é o caso de Flávio Josefo.
Assim,
a encarnação de Jesus estabelece a doutrina do Logos. Referente doutrina é
explicada por Tozer da seguinte forma:
“O
Novo Testamento ensina que Deus criou o mundo pelo Logos, a Palavra, e a
Palavra é identificada à segunda Pessoa da Deidade que estava presente no mundo
mesmo antes que tivesse assumido a forma humana. A Palavra [Logos] fez todas as
coisas e permaneceu em sua criação para apoiá-la e sustenta-la, sendo ao mesmo
tempo em farol moral que permite a todo homem distinguir entre o bem e o mal. O
universo funciona como um sistema organizado; não por leis impessoais, mas pela
força criativa da Presença imanente e universal, o Logos” (Tozer, O
conhecimento do Santo, pg. 153).
A doutrina do Logos estabelece o raciocínio de que o Logos é a causa primária do universo e é a que sustenta a existência do mesmo.
O
grande filósofo Tales de Mileto vai dizer que o Logos é a água, ou seja, a água
é o princípio primário ou causa primária de tudo o que existe. Contudo, a causa
primária, segundo o argumento cosmológico, tem que ser viva, inteligente e
moral e, portanto, jamais poderia ser a água, conforme defendia o filósofo
grego.
No
entanto, João, em seu evangelho, no capítulo 1, identifica o Logos como sendo
Jesus Cristo. Assim sendo, Jesus, um ser vivo, inteligente e moral, é a causa
primária da criação e é quem sustenta a existência da mesma através de sua
infinita presença imanente. Jesus é o Logos, a Palavra revelada que governa o universo com todo o seu poder. .
5) CONCLUSÃO:
A Bíblia nos revela um Deus que é, ao mesmo tempo, transcendente
e imanente. Sendo assim, a apologética cristã precisa mostrar ao mundo que
Deus governa todas as coisas e deseja estabelecer um relacionamento com os
homens, desde que estes creiam no Senhor Jesus e se entreguem a maravilhosa
graça imanente de Deus.
Pb. Diego Natanael.
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Este artigo serve de material de apoio para a revista de escola dominical da Betel:
me foi útil . Obrigada, muito bem explicado.
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