DOUTRINA DA ELEIÇÃO: Nem Supralapsarianismo, Nem Infralapsarianismo!


A doutrina da Eleição é uma doutrina bíblica e ensina que Deus escolheu, soberanamente e amorosamente, quem seriam os eleitos e, portanto salvos. Contudo, essa eleição ocorreu de forma justa e bondosa, pois Deus só elegeu aqueles que, condicionalmente, decidiram livremente crer no Senhor Jesus e perseveraram na fé até o fim. Por isso, dizemos que a eleição divina ocorreu por meio da sua presciência. 

Outro debate polêmico entre os teólogos calvinistas e arminianos é aquele em que se discute a ordem dos decretos divinos ligados à salvação dos eleitos. Sabendo que Deus é eterno e está acima do tempo (atemporal), todos os seus decretos ocorrem de maneira simultânea e presente, contudo, a fim de tornar o estudo dos decretos divinos um ensino didaticamente compreensível, a soteriologia busca estabelecer uma ordem entre os decretos divinos a fim de compreender, de forma sistematizada, o plano divino acerca da salvação do homem. 

Antes de vermos a posição arminiana sobre o tema em comento, é preciso entender que a teologia calvinista se divide em duas correntes quando o assunto é a ordem dos decretos divinos relacionados à salvação dos eleitos, quais sejam, supralapsariana e infralapsariana.

A) Posição Supralapsariana: 

A primeira corrente é a do supralapsarianismo (supra = antes ou acima; lapsus = queda ou erro), é uma corrente com poucos adeptos no meio calvinista, pois esta corrente sustenta que o decreto da eleição ocorreu em momento anterior ao decreto de criar o homem e permitir a queda do mesmo. Para o supralapsarianismo, o decreto da eleição repousa sobre pessoas santas ou não caídas, ou seja, Deus escolheu quem seria salvo e quem não seria dentre pessoas santas, não caídas ou não pecadoras. Após o decreto da eleição, Deus decreta respectivamente a criação do homem, sua queda, decreta a expiação de Cristo para a redenção somente dos eleitos e, por ultimo, decreta o chamado para a salvação dos eleitos. 

Nas palavras do teólogo calvinista Phillip R. Johnson, o supralapsarianismo é: 

“[...] a visão de que Deus, contemplando o homem ainda não-caído, escolheu alguns para receber a vida eterna e rejeitou todos os outros. Assim, um supralapsariano diria que o reprovado (não eleito) – vaso de ira preparado para destruição (Romanos 9.22) – foram primeiramente ordenados para este fim, e então os meios pelo qual eles cairiam em pecado foi ordenado. Em outras palavras, o supralapsarianismo sugere que o decreto de eleição de Deus logicamente precede Seu decreto de permitir a queda de Adão – de forma que sua condenação é, antes de tudo, um ato de soberania divina, e somente secundariamente um ato de justiça divina”.

Assim sendo, o supralapsarianismo estabelece a seguinte ordem dos decretos divinos:

1º) Eleger alguns e reprovar o restante; 
2º) Criar o homem; 
3º) Decretar a queda; 
4º) Providenciar salvação para os eleitos; 
5º) Chamado dos eleitos a salvação.

A concepção supralapsariana contém vários problemas, pois o supralapsarianismo coloca Deus reprovando (condenando ao inferno) pessoas santas ou que não cometeram nenhum pecado e, mais grave, a fim de justificar o decreto da reprovação dos não caídos, o supralapsarianismo põe Deus decretando e, portanto, desejando a queda do homem, ou seja, para que aqueles que Deus ordenou para a condenação eterna pudessem ser dignos desta condenação, Deus decretou que o homem caísse. Desta forma, não foi o homem quem decidiu livremente pecar, antes, foi Deus que predestinou Adão e Eva a pecarem. Deus tornou a queda do homem algo necessário e, assim, não foi o homem quem desejou pecar, foi Deus quem desejou o pecado do homem a fim de cumprir os seus desígnios. 

Esta concepção supralapsariana é uma afronta aos mais sublimes atributos de Deus da santidade, bondade, amor e justiça, pois a bíblia demonstra claramente que Deus não deseja que ninguém pereça, mas que todos os homens se arrependam (Atos 17.30-31; 1Tm 2.4; 2Pe 3.9; 1Jo 4.8 e 16). Em Ezequiel 33.11 está escrito que Deus não tem prazer na morte do ímpio, portanto Deus jamais desejaria a queda do homem e nem tornaria, intencionalmente, o homem um pecador. Quando Adão e Eva pecaram, fizeram uma escolha livre de se rebelar contra Deus. 

Calvino ensinava que Deus criou o mal e (Deus) motivava os homens a pecarem, vejamos o que ele escreveu no livro 1, capitulo 18, das institutas da religião cristã : 

“Deus de tal modo usa as obras dos ímpios e a disposição lhes verga a executar seus juízos, que Ele próprio permanece limpo de toda a mácula”. 

No 4º volume, pg. 232 e 233, na versão publicada pela editora Cultura Cristã, Calvino diz que:

“uma vez se diz que a vontade de Deus é a causa de todas as coisas, a providência é estatuída como moderatriz em todos os planos e ações dos homens, de sorte que não apenas comprove sua eficiência nos eleitos, que são regidos pelo Espírito Santo, mas ainda obrigue os réprobos à obediência” (institutas da religião cristã). 

Como podemos extrair das palavras de Calvino, o fundador do calvinismo atribuía a Deus a criação do mal e de todas as ações pecaminosas do homem, pois, segundo Calvino, Deus “verga” a vontade do homem a fim de torná-lo salvo e cidadão do céu ou pecador e merecedor do inferno. Além de Calvino muitos outros calvinistas defendiam a posição supralapsariana, tais como: Beza, Gomarus, Twisse, Perkins, Voetus, Witsius, Edwin Palmer, Karl Barth, Robert Reymond, etc. 

O teólogo calvinista Edwin Palmer disse: “Todas as coisas, incluindo o pecado, são realizadas por Deus” (Palmer apud Olson, p. 153). 

Certa vez Jacob Armínio fez a seguinte crítica a posição calvinista do supralapsarianismo, vejamos: “Eu gostaria que me explicassem como Deus pode, de fato, sinceramente desejar que alguém creia em Cristo, a quem Ele deseja que esteja apartado de Cristo, e a quem Ele decretou negar as ajudas necessárias à fé: pois isso não é desejar a conversão de ninguém”. 

A conclusão teológica da posição supralapsariana é que Deus é o criador do mal, pois foi Ele quem predestinou (desejou antecipadamente) o homem a pecar. Tal conclusão contradiz tudo o que a bíblia diz sobre o caráter de Deus, pois a palavra de Deus no salmo 5.4 diz: “Porque tu não és um Deus que tenha prazer na iniquidade, nem contigo habitará o mal”. 

Como se pode extrair do texto de Salmo 5.4, Deus jamais desejaria a queda do homem e a entrada do pecado no mundo, pois ele não tem prazer na iniquidade e nele não há mal nenhum. Corroborando o texto supracitado vejamos o que o apostolo Tiago disse em sua epístola no capitulo 1 e versículo 13: “Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta”. Como podemos depreender do texto de Tiago, Deus jamais poderia desejar e preordenar a queda do homem, quando o homem pecou não pode culpar a Deus por ter sido tentado pela serpente, pois, de acordo com o texto citado acima, Deus não tenta ninguém a fim de fazê-lo pecar e nem deseja que alguém peque,antes que todos venham a se arrepender (2Pe 3.9). Quando Adão e Eva foram tentados, pecaram pela sua própria ganância e escolha, recebendo a justa punição pelos seus pecados. Outro grande exemplo esta escrito em Jr. 19.5, onde Deus condena os pecados de Judá e diz que jamais ordenou e desejou tais procedimentos malévolos. 

Muitos calvinistas supralapsarianos afirmam que Deus criou o mal se pautando no texto de Isaías 45.7, que diz: “Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas”. Chegam a afirmar, erroneamente, que o fato de Deus criar o mal e o pecado não faz Dele maldoso ou pecador. 

Ao ler o texto de Isaías 45.7 podemos concluir, equivocadamente, que Deus criou o mal e, com isso, criou o pecado. Contudo, o texto de Isaías não está declarando que Deus é criador do pecado, muito pelo contrário, o texto em comento visa mostrar que Deus pune os pecadores e iníquos, pois sendo Deus Santo não pode consentir com atitudes malévolas e pecaminosas. 

A palavra mal, citada no texto de Isaías 45.7, deriva da palavra hebraica “” e nem sempre tem o sentido de mal moral. “” pode ser traduzida por calamidade, desgraça, castigo, desastres naturais, etc. Neste sentido, quando o profeta Isaías disse que Deus cria o mal, ele não esta dizendo que Deus criou o pecado ou o mal moral, antes ele esta dizendo que é Deus quem permite e, às vezes deseja, os desastres naturais, calamidades públicas, tsunamis, terremotos, pestes, doenças e etc. Um bom exemplo é quando Deus trouxe todas aquelas pragas sobre a nação do Egito a fim de libertar os hebreus, Deus afligiu graves calamidades na terra do Egito, mas não desejou e tão pouco criou os pecados cometidos por faraó. 

Quatros textos bíblicos desbancam os ensinamentos supralapsarianos, vejamos: 

Salmo 5.4: “Porque tu não és um Deus que tenha prazer na iniquidade, nem contigo habitará o mal”. 

Salmo 25.8: “Bom e reto é o Senhor; por isso ensinará o caminho aos pecadores”. 

1Jo 1.5: “E esta é a mensagem que dele ouvimos, e vos anunciamos: que Deus é luz, e não há nele trevas nenhuma”

Rm 5.8: “Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores”. 

Portanto, a bíblia ensina que Deus não tem prazer na iniquidade, que Ele é bom e reto e Nele não há trevas e com ele não habita o mal. Deus jamais desejou a queda do homem, antes, Ele, sabendo que o homem cairia, preparou Jesus para morrer na cruz e obter salvação para todos os homens. Quanto à eleição, Deus escolheu os eleitos dentre a massa de pecadores que creram em Jesus e perseveraram na fé. 

B) Posição Infralapsariana:

A segunda corrente calvinista que estuda as ordens dos decretos divinos acerca da salvação do homem é a do infralapsarianismo (infra = abaixo ou depois; Lapsus = queda ou erro). Esta corrente é a mais aceita pelos calvinistas e afirma que o decreto da eleição (escolha dos salvos e dos réprobos) ocorreu imediatamente posterior ao decreto permissivo da queda do homem, ou seja, o processo de eleição se deu dentre pessoas em um estado caído, Deus escolheu os eleitos dentre a massa de pecadores. Assim sendo, Deus separa aqueles que foram eleitos e deixa (doutrina da preterição) o restante em seu estado de pecado e condenados ao inferno. 

Phillip R. Johnson ensina que o infralapsarianismo sempre foi a corrente mais aceita no meio calvinista, contudo o supralapsarianismo nunca foi extinto das confissões de fé calvinistas, vejamos: 

“O infralapsarianismo foi afirmado pelo sínodo de Dort, mas somente de maneira implícita nos símbolos de Westminster. Twisse, um supralapsariano, foi o primeiro presidente da Assembléia de Westminster, que evidentemente decidiu que a conduta mais sábia era ignorar a controvérsia totalmente (embora as tendências de Westminster fossem, argumentavelmente, infralapsarianas). A Confissão de Westminster, portanto, juntamente com a maioria dos Credos Reformados, implicitamente afirmou o que o Sínodo de Utrecht (1905) mais tarde declarou explicitamente: ‘Que nossas confissões, certamente com respeito à doutrina da eleição, seguem a apresentação infralapsariana, [mas] isto não implica de forma alguma, uma exclusão ou condenação da apresentação supralapsariana'"

Assim sendo, o infralapsarianismo elenca os decretos divinos da seguinte forma:

1º) Criar o homem; 
2º) Decretar permissivamente a queda; 
3º) Eleger alguns e preterir o restante; 
4º) Providenciar salvação para os eleitos; 
5°) Chamado dos eleitos a salvação.

A ordem infralapsariana dos decretos divinos contém alguns problemas, pois estabelece o ensino de que Deus decretou permitir a queda do homem, ou seja, segunda a visão calvinista o decreto de permitir a queda do homem tornou essa queda necessária/inevitável, para tanto Deus retirou a graça do homem, pois sem a graça o homem não teria condições de resistir às tentações. Desta forma, afirmam os calvinistas, o homem pecou por sua própria escolha, contudo não tinha forças para não pecar, pois Deus havia retirado sua graça de Adão. 

Este ensinamento é, no mínimo, contraditório. Pois, como o homem poderia ter escolhido obedecer a Deus se ele não tinha outra opção a não ser pecar, haja vista que a graça de Deus havia se retirado de sua vida? A conclusão que chegamos ao estudar a teologia calvinista infralapsariana é que ela acaba por ensinar, ainda que eles não cheguem a afirma explicitamente, que Deus tornou a queda do homem algo necessário e, que por isso, Adão e Eva pecaram não por que assim escolheram, mas por que não tinham outra escolha a não ser pecar. Com isso, toda a humanidade adquiriu uma natureza pecaminosa e se tornou totalmente depravada não por um ato volitivo de seu representante federal (Adão), mas por desejo de Deus. Assim sendo, quando Deus deixa de salvar pessoas ou deixa de Elegê-las, estes réprobos estão sendo condenados por uma natureza depravada que adquiriram por um ato divino e não humano. 

A posição infralapsariana é contrária a bíblia, pois viola os atributos de Deus da santidade, bondade, amor e justiça. As escrituras sagradas demonstram claramente que Deus não deseja que ninguém pereça, mas que todos os homens se arrependam (Atos 17.30-31; 1Tm 2.4; 2Pe 3.9; 1Jo 4.8 e 16). Em Ezequiel 33.11 está escrito que Deus não tem prazer na morte do ímpio, portanto Deus jamais desejaria a queda do homem e nem tornaria, intencionalmente, o homem um pecador (vide, ainda, Jr. 19.5). 

J.N.D Kelly disse, no livro “Doutrinas centrais da fé cristã”, que: 

“Nossos primeiros pais [Adão e Eva] decaíram dessa bem aventurança não por alguma necessidade (todos esses escritores [pais gregos] enfatizam a questão), muito menos por alguma ação de Deus, mas devido ao uso inadequado de seu próprio livre-arbítrio; e a esse lapso fatal devem-se atribuir todos os males de que o homem é herdeiro”. (Editora Vida Nova, pg. 263). 

Certa vez ouvi um comentário de um arminiano que dizia: “Se Deus decretou a queda do homem, como sugere o infra e supralapsarianismo, isto é comparado a uma pessoa que joga uma bomba atômica e mata todo mundo e, depois, este homem ressuscita umas poucas pessoas e se gaba de ser bonzinho por ressuscitar tais pessoas”. O infralapsarianismo entende que este homem seria Deus, pois ensina que Deus decretou, permissivamente, a queda da humanidade fazendo com que todos morressem espiritualmente e, depois, Deus decidiu trazer a vida espiritual somente para algumas pessoas, deixando os restantes mortos. Isso seria um absurdo bíblico e teológico, como demonstramos nos comentários acima. 

C) Posição Arminiana: 

Diante de tudo dito até aqui, uma pergunta deve ser feita: Se as duas posições calvinistas estão equivocadas quanto ao momento da eleição, quando de fato a eleição ocorreu? 

Para essa pergunta o arminianismo possui a resposta. A resposta é aquela que se encontra na bíblia, qual seja, fomos eleitos em Cristo Jesus! Em Efésios 1.3-4 lemos esta verdade: 

“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo; Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor”. (Grifo nosso).

Para o arminianismo, o primeiro decreto para salvação foi o decreto divino de enviar Jesus para morrer por todos e, assim, obter salvação para todos. Nesse compasso, Jesus foi o primeiro eleito, e somente através dele somos feitos eleitos, ou seja, a eleição ocorreu depois do decreto da expiação de Cristo, de forma que aqueles que creem em Jesus são feitos eleitos Nele e os que rejeitam a graça obtida por Cristo são considerados réprobos. Foi Jesus que nos reconciliou com Deus, portanto a eleição só poderia ter acontecido após a expiação de Cristo. 

Sobre isso Jacob Armínio disse: 

“A morte de Cristo, na ordem das causas, precede o decreto de eleição e reprovação, de que se origina a diferença entre os eleitos e os reprovados. A eleição se fez em Cristo, morto, ressuscitado e que, meritoriamente, obteve graça e glória. Portanto, Cristo também morreu por todos, sem nenhuma distinção entre eleitos e reprovados”. (AS OBRAS DE ARMÍNIO, VOL. 3). 

A teologia arminiana entende que o decreto da eleição se encontra em grau de subordinação em relação ao decreto da expiação. Desta forma, a eleição é um decreto sujeito à expiação de Cristo, de forma que a morte expiatória de Cristo obteve salvação para todos os homens (1Jo 2.2), porém, somente os que creram na obra expiatória de Cristo e perseveraram na fé foram feitos eleitos.

A ordem arminiana para os decretos divinos seria assim: 

1º) Criar o homem; 
2º) conceder livre-arbítrio; 
3º) designar a Jesus como mediador e redentor de todos os homens; 
4º) Conceder a todos os homens oportunidade de salvação por meio da graça; 
5º) Eleger a todos que se arrependem, creem e perseveram até o fim. 

Jacob Armínio explicou detalhadamente a visão, que se tornaria arminiana, sobre a ordem dos decretos divinos relacionados a salvação do homem, vejamos: 

“O primeiro decreto integral de Deus a respeito da salvação do homem pecador é aquele no qual Ele decreta a indicação de seu Filho, Jesus Cristo, para mediador, Redentor, Salvador, Sacerdote e Rei que deve destruir o pecado pela sua própria morte, e que deve, pela sua obediência, obter a salvação que se perdeu, devendo comunicá-la pela sua própria virtude; [...] O segundo decreto preciso e absoluto de Deus é aquele em que Ele decretou receber aqueles que se arrependerem e crerem, e, em Cristo, por causa Dele e por meio Dele, para efetivar a salvação de tais penitentes e crentes que perseverarem até o fim, mas deixar em pecado, e sob a ira, todas as pessoas impenitentes e incrédulas, condenando-as como alheios a Cristo [...] o terceiro decreto divino é aquele pelo qual Deus decretou administrar de uma maneira suficiente e eficaz os meios necessários para o arrependimento e a fé; [...] estes resultam no quarto decreto, pelo qual Deus decretou salvar e condenar certas pessoas específicas. Este decreto tem sua base na presciência de Deus, pelo qual ele sabia desde toda a eternidade as pessoas que iriam, por intermédio de sua graça preventiva crer, e, por intermédio de sua graça subsequente, perseverar – de acordo com a administração antes descrita destes meios que são apropriados e adequados para a conversão e fé; e que pela presciência, ele igualmente conhecia os que não creriam e não perseverariam”. (Armínio apud Olson, Teologia arminiana – mitos e realidade, pg. 238-239). 

O arminianismo entende que o primeiro decreto para a eleição e salvação do homem foi aquele que designou a Jesus como o redentor e mediador da humanidade. Jesus foi o fundamento da eleição e salvação dos homens, sem Ele não existiriam os eleitos. Outra questão muito importante que difere o arminianismo das correntes calvinista supra e infralapsariana é com relação à queda do homem. Para o arminianismo, a queda do homem não foi objeto de um decreto divino, muito pelo contrário, Deus sempre desejou que o homem permanece-se santo diante da sua presença e gozasse dos benefícios de Sua graça. Contudo, a queda do homem foi um incidente desejado pelo homem e condenado por Deus, trazendo sobre o homem todas as mazelas do pecado. Deus jamais predestinaria a Adão e Eva para pecarem e trazerem sobre si e toda a humanidade a morte física e espiritual, nosso Criador e Senhor não tornou, por um decreto, a nossa queda algo necessário e parte dos planos divinos. No entanto, Deus conhecia de antemão que o homem cairia em pecado e precipitaria a todos nas trevas da corrupção, mas não intervenho a fim de evitar a queda, pois Ele concedeu livre arbítrio ao homem e desejou respeitar as escolhas dele, mesmo que fossem erradas. Mas, nosso Deus é onipotente e onisciente, pois sabia sobre a queda do homem e, com isso, decretou designar a Jesus Cristo como o salvador e redentor da humanidade a fim de corrigir o erro dos pais da humanidade (Rm 5) e trazer perdão pelos pecados de cada homem, desde que cressem em Jesus e perseverassem na fé.


CONCLUSÃO:

Desta forma, a Bíblia nos apresenta uma doutrina da eleição incompatível com as visões supra e infralapsarianas. As duas correntes calvinistas são biblicamente inconsistentes pelo fato de tornar Deus o criador do pecado e, assim, desejar a morte espiritual dos homens. Outrossim, a conclusão prática das correntes calvinistas acabam por atacar os mais sublimes atributos morais de Deus, tornando-o um Deus déspota, mal e desejoso da morte dos homens. 

As Sagradas Escrituras nos ensina uma doutrina da eleição compatível com os atributos morais de Deus, ou seja, a escolha divina dos eleitos ocorreu de forma justa, bondosa, amorosa e santa. Deus escolheu os eleitos através da obra expiatória de Cristo, fazendo eleitos aqueles que decidiram, livremente e após a Graça, crer no Senhor Jesus e perseveraram na fé até o fim. 

É importante destacar que a Graça de Deus se manifestou a todos os homens (Tito 2.11), ofertando, assim, a salvação a todos. Somente após a ação da Graça é que o homem possui condições de aceitar ou rejeitar a oferta de salvação.

Portanto, o rol dos eleitos é caracterizado por pessoas que, livremente, decidiram se entregar ao chamado da Graça Salvadora e perseveraram na fé até o fim de suas vidas. Já o rol do réprobos é caracterizado por pessoas que deliberadamente decidiram rejeitar a graça e, com isso, viveram até o fim de suas vidas uma vida de pecado. 


Pb. Diego Natanael

Comentários

  1. Que profundo em meu professor. Excelente explicação, deu pra tirar muitas duvidas. Deus te abençoe grandemente

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  2. Obrigado meu irmão por postar um estudo de grande importância. Foi muito bem explicado.

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